Roth: a tragédia de retomar a vida para si.
Neil Bennett (Tim Roth) curte férias em Acapulco ao lado da família, acompanhado por Alice (Charlotte Gainsbourg) e os adolescentes Colin (Samuel Bottomley) e Alexa (Albertine Kotting McMillan), está hospedado em um hotel de luxo e comendo em restaurantes caros. No entanto, Neil não parece feliz com nada daquilo. Quando Alice recebe uma ligação, avisando que a mãe acaba de falecer tudo vira do avesso e o retorno para a Inglaterra é inevitável. Diante do desespero dos demais, Neil diz que perdeu o passaporte e não tem como voltar para casa. Sem partir, ele agora sim parece tirar férias de sua rotina. Vai para um hotel mais barato, vai curtir a praia na paz de um solitário até conhecer uma moradora da região, Berenice (Iazua Larios), com quem passa a ter um romance tórrido distante de toda a realidade a que está acostumado. No entanto, a família continuará assombrando Neil de formas surpreendentes até que termine este filme do diretor Michel Franco. Conhecido por suas narrativas mordazes desde o (insuportavelmente) denso Depois de Lucia (2012), o cineasta conta aqui a tragédia de um homem de vida luxuosa, mas que na busca de algo a mais, acaba gerando uma tragédia para si. É interessante como a história se desenrola revelando aos poucos que Neil não é casado com Alice, mas é um irmão que mostra-se dependente dela para administrar a fortuna da família, o que dá conta de explicar parte do motivo pelo qual ninguém demonstra muito respeito por ele, nem mesmo os sobrinhos. Esta falta de empatia com o personagem só amplia a espiral de acontecimentos cada vez mais suspeitos e complicados na vida do personagem - e que demonstram como a família nunca o enxerga como um sujeito adulto, com vontades e desejos próprios que sempre abafados pela pressão alheia. Durante o filme fiquei imaginando como aquela construção de relações familiares foi construída ao longo do tempo e como foi torturante o personagem silenciar a si mesmo por vários anos. Roth já havia trabalhado com o diretor em Chronic/2015 (premiado pelo roteiro em Cannes) e está bastante a vontade com um personagem que oscila entre a apatia e a insatisfação, mas que também percebe-se preso a uma tragédia que construiu para si mesmo ao negar-se ter vida própria. Embora tenha um tempero comicamente irônico e guarde uma camada de suspeitas (será que Neil é realmente tão inocente perante os acontecimentos envolvendo sua família), Michel Franco entrega mais um filme amargo ao espectador.
Sundown (França, México, Suíça - 2023) de Michel Franco com Tim Roth, Charlotte Gainsbourg, Iazua Larios, Samuel Bottomley e Albertina Kotting McMillan ☻☻☻
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