quinta-feira, 1 de julho de 2021

Ciclo DiversidadeSXL: Seu Nome Gravado em Mim

 
Chen e Tseng: raros momentos de paz. 

Taiwan se tornou o primeiro lugar da Ásia a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e, não por acaso, o drama Seu Nome Gravado em Mim se tornou um sucesso absoluto no país, se tornando o segundo filme mais assistido por lá em 2020. Por aqui, o filme foi lançado pela Netflix e embora não tenha alcançado o sucesso de seu país de origem, tornou-se uma produção de destaque no catálogo da empresa. Seria um exagero dizer que o filme conta a história de amor entre dois rapazes, já que embora tenha grandes demonstrações de afeto aqui e ali, a partir de um determinado momento a coisa começa a desandar de um jeito que fica até cansativo de acompanhar. A história é ambientada em 1987, período em que o país foi liberado de suas leis marciais e começou a caminhar em direção à uma maior liberdade maior de expressão. No entanto, o filme situa este momento como um recorte temporal de transição, em que algumas questões ainda precisavam ser revistas e a repressão continuava muito presente, tanto que durante a história percebemos que não apenas o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo não era bem visto como também, a própria escola frequentada pelos alunos começava a receber estudantes do sexo feminino e as regras tentavam a todo custo manter meninos e meninas separados com medo das consequências, digamos, sexuais que a convivência poderia gerar. A direção da escola é bastante conservadora e parece não fazer a mínima ideia que a tensão sexual existe entre pessoas do mesmo sexo também (ou então acreditavam que as sanções que rolavam entre os próprios alunos seriam tão graves que seria evitada a todo custo relações homossexuais por ali). Este ponto confere ao filme uma certa ironia muito bem-vinda às toneladas de carga melodramática que lá pela metade começa a pesar sobre os personagens. O introspectivo A-Han (Edward Chen) e o expansivo Birdy (Jing-Hua Tseng) são dois colegas de escola que começam a se aproximar cada vez mais, no entanto, o receio do que pode acontecer caso assumam um relacionamento começa a pesar, aumentando a tensão e a agressividade entre os dois. Embora Birdy pareça confortável com sua sexualidade, sua postura começa a deixar A-Han cada vez mais confuso sobre os desdobramentos do que sentem um pelo outro. Quem tenta ajudar um pouco no ambiente sufocante em que os dois vivem é um padre canadense (Fabio Grangeon), que é responsável pela banda mista da escola (um dos raros locais em que meninos e meninas podem interagir no espaço escolar). Há muitos gritos, brigas e choros no filme, o que faz com que as sutilezas impressas pelo diretor Kuang-Hui Liu construam os melhores momentos do filme (vale lembrar que o filme foi baseado nas próprias vivências do cineasta). As atuações de Edward e Jing são grandes responsáveis por prender a atenção à história, afinal, mesmo com toda a discrição do filme, ambos conseguem demonstrar a intensidade dos sentimentos que seus personagens sentem um pelo outro. Destinado a ser um clássico do cinema asiático, Seu Nome Gravado em Mim tem qualidades e defeitos, mas funciona bem, sobretudo pelo desfecho, que consegue olhar para o passado e seus conflitos com um olhar terno e bastante maduro. 

Seu Nome Gravado em Mim (The Name Engraved in Your Heart / Taiwan - 2020) de Kuang-Hui Liu com Edward Chen, Jing-Hua Tseng, Jean François Blanchard, Leon Dai, Lenny Li, Fabio Grangeon, Akira Chen e  David Hao-Chi Chiu. ☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário