terça-feira, 27 de julho de 2021

PL►Y: Frequencies

 
Daniel Fraser e Eleanor: confundindo frequências. 

É sempre bom quando aparece um filme cheio de ideias e constrói uma história cheia de camadas, mesmo que nem sempre o diretor dê conta de tudo o que promete. Este é o caso de Frequencies (ou OXV - The Manual em seu título original esdrúxulo), longa de orçamento modesto, sem nomes conhecidos, mas que amplia tanto seus objetivos que quando termina alcança somente a metade do que desejava, mas ainda assim, fez mais do que noventa por cento dos filmes com que nos deparamos toda semana. Eu acho uma chatice quando um filme se anuncia ambientado num "futuro distópico" e talvez por isso, este seja uma grata surpresa, já que sabe tirar bom proveito do universo em que constrói para si ao fazê-lo um reflexo da nossa realidade de forma criativa. Aqui o diretor Darren Paul Fisher nos apresenta um mundo em que o destino das pessoas é marcado por sua "frequência". Os que possuem uma alta frequência estão destinados a grandes feitos em trajetória de vitórias e sucessos, uma vez que se acredita que sua própria natureza colabora para isso. Já os que possuem uma baixa frequência estão destinados a uma vida comum e quase irrelevante - e nunca se espera muito deles, já que a "natureza" quis assim. Neste mundo onde as crianças são batizadas com nomes de cientistas a estratificação social é marcada por castas demarcadas pela frequência e misturar pessoas de frequências diferentes pode gerar consequências irreversíveis. É neste ambiente que Marie e Zak se conhecem desde pequenos e, embora sejam relativamente próximos, existe uma linha que nunca pode ser cruzada no contato entre os dois. Vale ressaltar que a postura de Marie reflete muito a frieza deste mundo, embora ela demonstre emoções ao interagir socialmente, sempre fica claro o tom farsesco de sua postura. Enquanto Zak é uma simpatia, ela é o oposto, pelo menos até que ele a contamine com sua baixeza frequencial. O roteiro tenta explorar esta relação entre o que é elevado e o que é baixo, o que é nobre e o que é vulgar, o que é bom e ruim, deixando claro que estas classificações são estabelecidas com uma carga maior de subjetividade do que gostariam que fosse. Óbvio que é pura questão de tempo que os dois se apaixonem e vivam um amor proibido, que colocará à prova às convicções de um universo tão regrado. Embora o filme consiga lidar bem com as metáforas sociais e econômicas presentes em seu texto, além da interessante dicotomia entre a racionalidade e empatia, o longa tropeça quando insere elementos conspiratórios desnecessários em sua trama. Visualmente o filme é correto em sua fotografia de cores desbotadas e prevalência da cor branca emoldurando uma sociedade asséptica e sem cores vibrantes. O elenco também faz o trabalho direitinho numa sintonia que evita maiores destaques. Embora a maioria do elenco seja desconhecida, quem assiste a hilária série Derry Girls irá reconhecer o bendito fruto Dylan Llewellyn que vive o  Zak quando adolescente. Frequencies é um filme difícil de encontrar, mas vale a pena garimpá-lo por aí. 

Frequencies (OXV - The Manual / Austrália - Reino Unido / 2013) de Darren Paul Fisher com Daniel Fraser, Eleanor Wyld, Owen Pugh, Tom England, Ethan Turton, Dylan Leewellyn e Lily Laight. ☻☻

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