sexta-feira, 11 de março de 2022

Na Tela: Belfast

Judi, Jude e Hinds: o apelo da nostalgia fofa. 

Alçado ao posto de favorito ao Oscar após ser considerado o melhor filme no Festival de Toronto, Belfast perdeu força na reta final da temporada de ouro e perdeu o posto de nome a ser batido na noite do dia 27 de março, no entanto, considerar que suas sete indicações não demonstra o apreço da Academia pelo filme de Kenneth Branagh seria um equívoco. O filme conta uma história baseada em fatos da infância do próprio diretor (que assina o roteiro) em sua infância nos anos 1960 na cidade irlandesa que dá título ao filme, período em que foi marcada pelos conflitos entre protestantes e católicos. Filho de um casal protestante formado por um encanador (vivido aqui por Jamie Dornan) e uma dona de casa (papel de Caitriona Balfe), o pequeno Buddy (o prodígio Jude Hill) tem seu cotidiano de brincadeiras afetado por confrontos e manifestações, que ganhavam proporções cada vez piores nos arredores de onde vivia com a família. A partir da violência que começa a assustar os moradores dali, seu pai - que trabalha na Inglaterra - começa a pensar que seria melhor mudarem para outro país. Quem também está sempre por perto são vovô (Ciaran Hinds) e Vovó (Judi Dench), que aumentam a cota de carinho do menino em meio à realidade conflituosa que se instaura na vizinhança. Embora, de início, o filme saiba trabalhar os contrastes entre o conforto da família com os confronto das ruas, Belfast encontra alguns problemas para equilibrar estes dois fatores ao longo de sua duração. É verdade que desejamos o tempo inteiro que nada de mal aconteça àquela família, mas bem que o filme poderia explorar mais nuances do terrível conflito que surge em suas entrelinhas. Por vezes parece uma colagem de situações comoventes e cômicas, mas sem uma cola muito eficiente, assim, depende muito mais do trabalho do seu elenco do que propriamente da história que apresenta. Calcado para soar como o olhar de uma criança sobre aquele período, o texto poderia avançar um pouco mais nesta abordagem conforme caminha para a sua conclusão. Quando o filme terminou eu fiquei imaginando como ele poderia ter sido mais rico com o que tinha em mãos, tanto nas lembranças familiares, quanto políticas do período - e dificilmente o filme funcionaria sem o carisma do pequeno Jude Hill, que aumenta exponencialmente o fator fofura do longa-metragem. Acho charmoso que Kenneth retrate seus pais humildes como se fossem uma diva do cinema e um verdadeiro galã (quem nunca imaginou isso na infância que atire a primeira pedra), aprecio o carinho com que lembra de seus avós, mas ao inserir o contexto político do período, ele acaba misturando um fator que nunca é abordado com a profundidade merecida. No entanto, o apelo emocional do filme lhe rendeu indicações aos prêmios de Melhor Filme, direção, atriz coadjuvante (Dench), ator coadjuvante (Ciarán Hinds), roteiro original, melhor som e canção original (para Down to Joy de Van Morrison). Embora não alcance todas as notas que clama para si, Belfast confirma a boa fase de Kenneth Branagh, ator que ficou famoso por suas adaptações shakesperianas para o cinema nos anos 1990 e que ganhou novo fôlego após dirigir Thor (2011) para Marvel. Com o filme, Kenneth bate um recorde na história do Oscar ao se tornar o primeiro artista a concorrer em sete categorias diferentes da premiação ao longo de toda a carreira, pena que até agora, não levou nada para casa. Será que este ano será diferente?

Belfast (Reino Unido - 2021) de Kenneth Branagh com Jude Hill, Caitriona Balfe, Jamie Dornan, Judi Dench, Ciarán Hinds e Lewis McAskie. 

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