Jenkins (à esquerda): finalmente protagonista.
Aprecio o trabalho de Richard Jenkins desde que o vi como o pai morto (muito vivo) do seriado À Sete Palmos da HBO, mas percebi que assim como no seriado, seus papéis no cinema eram sempre de coadjuvante. O ator até brincou com isso quando recebeu o convite do diretor Tom McCarthy para encarnar seu primeiro protagonista. Jenkins disse que estanhava ter que filmar todos os dias e ainda ter um trailer próprio... seja como for, o drama O Visitante é uma ótima oportunidade deste ator calvo e grandalhão demonstrar que consegue carregar um filme sem nomes conhecidos no elenco - tanto que foi indicado a mais de uma dezena de prêmios por sua atuação (do Independent Spirit ao Oscar de ator) tendo ganho alguns de prestígio como o Satellite Awards. O roteiro de Tom McCarthy foi muito elogiado por abordar uma temática que estava cada vez mais comum no cinema: a imigração ilegal. Lembro que na mesma época estava chegando aos cinemas o brasileiro Jean Charles, o francês Bem Vindo e o americano Território Restrito, mas nenhum deles conseguia exalar a simpatia e capacidade de emocionar a platéia como este aqui. McCarthy não força a mão em nenhum instante ao contar a história de Walter (Jenkins, excelente) um professor universitário de Connecticut que por um acaso do destino terá que apresentar um trabalho em Nova York. Depois de anos sem visitar seu apartamento na Big Apple tem uma grande surpresa quando descobre que a casa é habitada por um casal de estrangeiros, o sírio Tarek (Haaz Sleiman) e Zainab (Danai Gurira). Após o estranhamento e desentendimento inicial, os dramas de seus personagens se misturam de forma crível e bem construída. Aos poucos conhecemos detalhes sobre Walter, o fato de ser viúvo, ter um filho que mora na Inglaterra, seu desgosto pelo ofício e a frustração por não aprender a tocar piano. É desse interesse pela música que ocorre os primeiros traços de amizade entre Walter e Tarek, já que o estrangeiro começa a estimular seu interesse por percussão. Quando a amizade entre os dois se solidifica, ainda que Zainab seja muito desconfiada, Tarek é preso no metrô e o filme começa a abordar o drama dos imigrantes ilegais sem cair no lugar comum. McCarthy tem muita habilidade em não descambar para o dramalhão e o auxílio de seus atores é fundamental neste momento onde o filme tinha tudo para ser uma chatice. Sem ser panfletário ou levantar bandeiras, o filme solta alfinetadas sobre a política americana com os imigrantes, da forma que são tratados até os fantasmas relacionados ao fatídico onze de dezembro, tudo sem perder o tom ou descambar para discursos políticos explícitos. Claro que há muito de político no fato de Tarek ser músico, Zainab ser camelô de bijuterias e Walter (com seu emprego estável) nutrir grande afinidade por eles. O Visitante cresce ainda mais em sua sutil forma de abordar as relações de seus personagens quando coloca em cena a bela mãe de Tarek, Mouna (a bela Hiam Abbas) com quem Walter sugere um flerte que nunca se consolida (impossível não perceber como vestem os papéis de mãe e pai de uma família de laços que não são sanguíneos). Jenkins alcança momentos inesquecíveis na jornada de seu personagem que parte de um livro que nunca escreve para redescobrir o prazer das relações humanas (ainda que com personagens vistos de forma tão preconceituosa por seus país). Alguns criticam a ingenuidade do roteiro, mas a intenção de MCCarthy é claramente mostrar que, independente da nacionalidade, somos todos humanos com nossas alegrias, tristezas, anseios e amores - aspectos que nos transforma numa família global (o que seus personagens ressaltam com apenas um olhar).
O Visitante (The Visitor - EUA/2007) de Tom McCarthy com Richard Jenkins, Haaz Sleiman e Danai Gurira e Hiam Abbass. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário