Hoss: uma mulher em recomposição. |
A alemã Nina Hoss é uma das atrizes mais interessantes em atividade no cinema. Se você curte cinema europeu, provavelmente a conheceu em um dos filmes de Christian Petzold (provavelmente em Fênix/2014 que ficou em cartaz por aqui durante semanas), mas se você curte mesmo filmes celebrados na temporada de prêmios, deve tê-la visto como a companheira de Cate Blanchett em TÁR (2022) que a deixou cotada para uma indicação ao Oscar de coadjuvante. Quem conhece Nina sabe que ela é capaz de inserir várias camadas nas personagens que encarna, geralmente as tornando mais complexas do que se imaginaria ao ler uma sinopse ou roteiro. Este gosto pelo ofício é o que podemos ver mais uma vez em Minha Irmã, filme que tentou uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro no ano de seu lançamento e acabou ficando de fora. À primeira olhada parece um melodrama manjado sobre pessoas com doença na família, mas as diretoras e roteiristas Stéphanie Chuat e Véronique Reymond seguem por outro caminho, acentuado ainda mais pelo trabalho de Hoss. O filme conta a história de Lisa (Hoss), uma dramaturga alemã que deixou sua carreira de lado para viver na Suíça com o esposo (Jens Albinus, craque em viver sujeitos odiáveis). Duas filhas depois, ela acaba retornando para Berlim por conta do seu irmão gêmeo, Sven (Lars Eidinger) que está passando por um tratamento contra o câncer. O que poderia ser apenas um conjunto de dias ao lado do irmão doente se torna uma verdadeira jornada de desconstrução para a personagem. Além de reencontrar o irmão que é ator, ela também tem novamente proximidade com a mãe (Marthe Keller), uma atriz aposentada que nunca entendeu muito bem o motivo da filha ter deixado tudo para trás, mas também não entende o motivo dela se afastar do esposo naquele momento. Fica evidente que a relação entre a família é tensa e ela só piora quando Lisa resolve trazer as filhas para visitar o tio. Aos poucos tudo parece entrar em colapso, a relação de Lisa com os conhecidos do teatro, a relação com a mãe, com o marido e, obviamente, consigo mesma. A sensação é que Lisa está prestes a perder sua metade conforme a situação de saúde o irmão piora. No desespero, resta se agarrar a qualquer esperança de que ele permaneça por perto. Apesar de alguns momentos de explosão, o filme é bastante sutil nas engrenagens que se escondem por baixo do que se vê e escuta. Achei um filme tão forte quanto sensível e Nina tem algun do melhores momentos de sua carreira, como aquele em que ela parece que vai explodir em lágrimas e respira fundo para continuar tentando prosseguir. No entanto, tem uma frase que me dói toda vez que ela é dita, aquele "eu sinto muito" mecânico que não quer dizer muita coisa e que só quem tem alguém amado à beira da morte é capaz de sentir e identificar.
Minha Irmã (My Little Sister/Suíça - 2020) de Stéphanie Chuat e Véronique Reymond com Nina Hoss, Lars Eidinger, Jens Albinus e Marthe Keller. ☻☻☻☻
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