terça-feira, 9 de abril de 2024

Na Tela: O Homem dos Sonhos

Cage: o verdadeiro Freddy Krueger?
Paul Matthews (Nicolas Cage) é um professor de biologia em uma Universidade não muito famosa, mas Paul também não é. Embora planeje lançar um livro, ele é um daqueles sujeitos que ninguém nunca lembra direito e que não recebe muito crédito. Por isso mesmo, torna-se surpreendente que este homem comum comece a aparecer no sonho de um bando de gente. Pessoas que o conhecem e outras que não fazem a mínima ideia de quem ele seja. Casado com Janet (Julianne Nicholson) e pai de duas adolescentes, Sophie (Lily Bird) e Hannah (Jessica Clement), sua vida continuaria a ser muito tranquila se aos poucos o estranho acontecimento não chamasse a atenção da mídia. Vale dizer que mesmo nos sonhos, Paul não faz nada de especial, surge observando os acontecimentos ou apenas seguindo seu caminho. Mesmo que não tenha controle sobre isso, uma empresa chega a cogitar que ele pudesse fazer propaganda enquanto aparece no sonho dos outros, embora ninguém faça a mínima ideia de como executar uma coisa dessas. O maior problema é que após ganhar fama, Paul começa a mudar sua postura nos sonhos alheios, apresentando uma postura violenta e agressiva que faz com que as pessoas comecem a evitá-lo na vida real por conta dos pesadelos. Paul não entende o motivo de começar a ser repreendido pelo que as pessoas sonham e revoltado com o que acontece, as coisas só pioram. O Homem dos Sonhos é uma deliciosa sandice nascida da mente do norueguês Kristoffer Borgli que já havia chamado atenção com outra sandice, Doente de Mim Mesma (2022). Embora os filmes abordem uma sociedade fascinada por "famosos", Paul é o total oposto da desvairada personagem do filme anterior e a trama segue pelo caminho contrário,  construindo uma analogia muito interessante sobre a cultura do cancelamento, especialmente com base nas interpretações que o imaginário social constrói sobre alguém (troque sonhos por redes sociais, ou vice-versa, e fica ainda mais interessante). Borgli é um sujeito esperto e sabe equilibrar o humor bizarro de sua trama com a dose certa de dramaticidade da fantasia que constrói. Da mesma forma, sabe transitar entre sonhos e pesadelos com uma desenvoltura invejável, em determinados momentos até flerta com o terror (sem perder de vista a ideia de que Paul poderia ser o Freddy Krueger da vida real). Conforme todo mundo entra em crise, Paul segue pelo mesmo caminho e o papel cai como uma luva (com ou sem laminas cortantes) em Nicolas Cage (indicado ao Globo de Ouro de melhor ator de comédia pelo papel) que tem aqui mais um trabalho interessante em sua nova fase. Ainda que o filme tenha um final aquém do esperado, o longa bem que merecia uma indicação ao Oscar de roteiro original (difícil engolir que Maestro merecia mais), mas algo me diz que em breve a criatividade de Kristoffer Borgli chamará atenção dos votantes da Academia, ou estou sonhando demais?

O Homem dos Sonhos (Dream Scenario / EUA -2023) de Kristoffer Borgli com Nicolas Cage, Julianne Nicholson, Dylan Baker, Marc Coppola, Sophie Matthews, Jessica Clement, Tim Meadows, Paula Boudreau, Kaleb Horn e Michael Cera.

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