domingo, 26 de setembro de 2010

4EVER: Gloria Stuart

(1910-2010)

Atriz californiana de cinema, teatro e televisão ficou famosa no início da carreira por suas atuações em filmes de terror. Sua carreira começou na década de 1930 e foi uma das fundadoras do sindicato dos atores americanos. Depois de longa aposentadoria ela voltou a atuar sendo indicada ao Oscar na categoria coadjuvante por Titanic (1997) de James Cameron, ela  encarnava a personagem de Rose DeWitt Bukater (quando jovem era Kate Winslet). Pela indicação aos 87 anos ela se tornou a atriz mais idosa a concorrer ao Oscar. Depois ainda fez filmes como O Hotel de um Milhão de Dólares (2000) de Win Wenders. Gloria Stuart começou a carreira no teatro, atuando em Pasadena, Califórnia. Faleceu dia 26, de cancro, na sua casa em Los Angeles.

FILMED+: Durval Discos

Fraser, Esabela e Ary: Delícia sonora e visual

O premiado Durval Discos marcou a estréia de Anna Muylaert na telona e chamou de gente que estava afim de ver um filme nacional diferente. Anna já tinha crédito por ser uma das idealizadoras de vários programas destinados ao público infanto-juvenil que forma ao ar pela TV Cultura e pelo seu aclamado curta A Origem dos bebês segundo Kiki Cavalcanti (1995), mas podemos dizer que ela superou todas as expectativas com a história de um vendedor de discos que se recusa a vender CDs. Esse apego ao passado do protagonista proporciona uma coerência e um estilo único ao filme (que já começa pelos créditos iniciais espalhados pela cidade de São Paulo). Durval (o ótimo Ary França que merecia mais destaque nas produções nacionais) vive numa casa-loja ao lado de sua mãe (a veterana Etty Fraser) e as coisas começam a complicar quando se dão conta de que a senhora não dá conta mais dos afazeres domésticos. Sendo assim, acabam contratando uma empregada que esteja disposta a receber um salário quase simbólico (no caso, Letícia Sabatella). Esse é o lado A do filme. O longa ficou famoso pela alardeada analogia de suas duas partes, uma é como o primeiro lado de um vinil, com aquelas músicas mais animadas, feitas no ponto para agradar o público e alavancar as vendas. As músicas do Lado B costumavam ser mais experimentais, esquisitas e sombrias, mas mesmo assim interessantes (especialmente aos fãs que querem fugir do trivial). Pois o Lado B de Durval é tudo isso também. O que aparentava ser uma comédia de costumes começa a mudar de ares quando a empregada some e deixa em seu quarto uma menina (Isabela Guasco) que passa a ser tratada como uma princesa pela dupla. Não vai demorar muito para que descubram num telejornal que a menina não é filha da empregada... Algumas pessoas criticam essa guinada na narrativa, mas eu considero essa mudança muito bem desenvolvida por Muylaert. Aos poucos a casa de estrutura acolhedora e nostálgica (o que é ressaltado pela excelente trilha sonora de clássicos da MPB) se torna cada vez mais claustrofóbica e sombria, nesse momento os atores viram seus personagens do avesso apresentando nuances insuspeitas de seus personagens. Algumas cenas dessa parte cairiam muito bem num filme de David Lynch (como o cavalo dentro de casa e a menina vermelhecendo as paredes... ) e fazem um excelente contraponto ao início do filme. Muylaert quis nos  mostrar as transformações num mundo estável já há tanto tempo quando ele se abre ao novo (o que visivelmente ocorre com Durval - apesar desua resitência ao CD ou mesmo em assumir seu amor pela personagem de Marisa Orth). Por todos esse motivos (incluindo o final que ilustra a destruição desse mundo particular) vale a pena catar logo por aí. Dizem que um estúdio americano comprou os direitos do filme para realizar uma refilmagem com Ben Stiller e Helen Mirren no elenco, mas o projeto não decolou ainda... dificilmente ficaria tão bacana.  

Durval Discos (Brasil/2002) de Anna Muylaert com Ary França, Etty Fraser, Isabela Guasco, Letícia Sabatella e Rita Lee. ☻☻☻☻

DVD: É proibido fumar

É Proibido Fumar: A Glória de Muylaert!

Já que o filme do Lula irá concorrer a uma vaga no Oscar achei que seria muito óbvio e eleitoreiro lhe fazer uma crítica nesse momento. Portanto, resolvi escrever sobre o meu candidato favorito à vaga do presidente tupiniquim na disputa. Pra começo de post eu sou suspeito em falar de Anna Muylart, uma vez que sou fã de carteirinha de seu curta A origem dos bebês segundo Kiki Cavalcanti (1995) e fui ao cinema de uma cidade não tão vizinha para ver ao lado de meia-dúzia de gatos pingados o seu primeiro filme premiado em Gramado (Durval Discos) o qual sai satisfeito daquela fuga do gênero marginália que começava a se repetir no cinema brasileiro - afinal era o ano de Cidade de Deus, o auge dessa corrente em todos os sentidos. Anna Muylaert é de longe uma das diretoras mais interessantes de nosso país, não me refiro só aos seus filmes, mas ao seu estilo pessoal mesmo, calado, meio tímido, fala macia e capacidade de expressar muito mais do que está escrito no roteiro em tramas simples mas recheadas de significados que reconhecemos de imediato. Essa não obviedade de seu cinema está representado de forma magistral em É Proibido Fumar, que antes de estrear coleciounou prêmios no Festival de Brasília (filme, direção, roteiro, ator, atriz, trilha...) e desde então permanece alvo das premiações (recentemente recebeu outros três pelo voto dos leitores de uma revista conhecida). É Proibido Fumar parece uma comédia romântica, mas não é. Trata-se de um filme sobre a solidão, a sensação de estar deslocado ao ponto de se isolar do mundo e ter como único amigo um prazer que destrói aos poucos, no caso da protagonista Baby (Glória Pires em mais uma atuação primorosa), o cigarro. Com o jeitão meio hippie ela parece uma prima do Durval que se recusava a vender CDs em sua loja. Baby se contenta em ensinar violão para alguns alunos, visitar a irmã, discutir com a outra  e fumar, fumar muito. Tudo muda quando ela conhece o novo vizinho (Paulo Miklos, em sua melhor atuação) que tem estilo parecido com o dela e acaba de sobreviver ao fim de um relacionamento. Não vai demorar para que os dois engatem um romance com todos os prazeres e angústias a que tem direito... sendo que as angústias se multiplicam quando ele pede para Baby parar de fumar e parecer trocar um vício (o cigarro) pelo outro (o namorado). Ela cede ao pedido, mas sua abstinência terá resultados mortais... não necessariamente para ela. Muylaert é craque nessas mudanças de tom na narrativa e a forma como insere os elementos que darão corpo à essa segunda parte da história torna tudo coeso e muito próximo de nossa fatalidade cotidiana. Até o final Baby guardará um segredo e ao desfecho Muylaert molda com perfeição uma cumplicidade que só algumas pessoas podem ter. O filme só não vai receber cinco carinhas porque em DVD podemos ver algumas cenas adicionais que ficaram de fora da edição final (Baby conversando com o aluno, Baby fumando samambaia e o casal passeando de bicicleta ao fim da sessão), será que essas cenas fariam a diferença na escolha do MinC?

É Proibido Fumar (Brasil-2009) de Anna Muylaert com Glória Pires, Paulo Miklos e Marisa Orth. ☻☻☻☻

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Lula: O Candidato brasileiro ao Oscar 2011

Lula: à caminho do Oscar?

Saiu hoje o candidato brasileiro à uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro no ano que vem, o MinC escolheu por unanimidade o filme de Fábio Barreto Lula, o filho do Brasil. Uma escolha tão óbvia que beira a marmelada. Ok, vamos esquecer que é ano eleitoral, que o filme não empolgou nas bilheterias, que é um filme em tom de exaltação, que o filme se esquiva das questões políticas mais delicadas de nosso presidente e que cinematograficamente está longe de trazer novidades. Agora, vamos lembrar que o filme conta com bom elenco (especialmente Glória Pires), produção caprichada (o que é uma obrigação devido ao seu orçamento inchado de quase vinte milhões de reais), que deve se beneficiar da repercussão de Lula no exterior e que Fábio Barreto já concorreu na categoria com o bom O Quatrilho (1995), filme que quebrou um jejum de 33 anos de nosso cinema (antes dele só O Pagador de Promessas havia conseguido uma vaga na categoria). Pelo menos o filme não segue o estilo marginália dos indicados anteriores, mas havia candidatos bem mais interessantes no páreo. Nos resta cruzar os dedos (todos de preferência).

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ladies & Gentleman: PAUL BETTANY


Paul Bettany nasceu em Londres no ano de 1971 e teve forte influência de seus pais na escolha de sua carreira, já que eles também são atores. Depois de alguns papéis pequenos em produções para o cinema e a TV o ator começou a ser lembrado após sua participação no juvenil Coração de Cavaleiro (2001) de Brian Helgeland. Esta certo que não era um papel excepcional, mas lhe garantiu algo mais importante no ano seguinte, quando encarnou o amigo imaginário de Russel Crowe em Uma Mente Brilhante (2002). Apesar da Academia de Hollywood ter ignorado sua atuação ele não teve do que reclamar, já que nos bastidores do filme acabou conhecendo, namorando e casando com a belíssima Jennifer Connely. Bettany percebeu que estava pronto para ousadias, foi quando aceitou cair nas garras de Lars Von Trier no magistral Dogville (2003), onde sua química traiçoeira com Nicole Kidman funciona de forma impressionante - e devia ter rendido vários prêmios para ambos se os votantes não fossem tão conservadores perante as provocações do diretor dinamarquê: uma cidade no meio do nada que serve de palco para grandes atrocidades fizeram de Dogville uma das obras mais contundentes do século XXI. Bem mais tradicional foi Mestre dos Mares: O lado mais distante do mundo (2003) em que trabalhou mais uma vez com Russel Crowe. Mais uma vez foi ignorado pela Academia. Seria pedir demais que ele fosse lembrado por Um Crime de Paixão (2004) ou pela comédia romântica Wimbledon (2004) onde mostra que pode ser um galã sem grande complexidade. Depois ele resolveu ser vilão, esteve no fiasco Firewall (2006) ao lado de Harrison Ford e chamou todas as atenções de O Código DaVinci (2006) como o vilão albino Silas. Dois anos depois emprestou o sotaque britânico para a voz de JARVIS do sucesso Homem de Ferro e foi o estranho Dustfinger de Coração de Tinta. Em 2008 não tinha grandes perspectivas e fez o pai malvado de Dakota Fanning no meloso A Vida Secreta das Abelhas, ou seja, o cara estava diposto a perder a cara de bom moço. Ano passado sua atuação como Charles Darwin chamou atenção em Criação, onde atuou mais uma vez ao lado da esposa - pena que problemas de distribuição do filme acarretaram esnobação completa nas premiações. Nesse ano, além de emprestar a voz para JARVIS na segunda aventura do Iron Man ele encarnou o anjo Miguel em Legião e mostrar que pode ser levado a sério mesmo no papel mais inusitado.

Com Nicole em Dogville: dignos de Oscar

DVD: Legião


Bettany: Um anjo Miguel hardcore

A Bíblia diz que Deus criou o homem sua imagem e semelhança. Vários séculos depois o sociólogo Émile Durkheim (1858-1917) realizou uma sábia observação que numa sutil alteração mudava todo o sentido dessa sentença: O homem faz de Deus sua imagem e semelhança. Assim, ele ficou mais próximo do que podemos observar ainda hoje nos jornais: guerras santas, extremismos, preconceitos e todo tipo de coisa que está longe de figurar entre os preceitos divinos, mesmo que sejam praticados em nome Dele. Durkheim não foi ao extremo como Nietszche (1844-1900) que décadas depois declarou que Deus estava morto e entre os motivos estava sua decepção com a humanidade. Toda essa casca filosófica serve comentar um dos filmes mais aguardados e mais criticado do ano: Legião. Pra começar o mérito maior do filme (e motivo principal de tê-lo visto) é Paul Bettany. O moço é a espinha dorsal do filme do diretor Scott Stewart ao personificar o anjo Miguel numa trama estapafúrdia que beira o ridículo.  Desde o início a trama induz a pensar que Miguel é um anjo caído, tal e qual Lúcifer. Sem dizer nada ele corta suas asas e rouba uma pilha de armas antes de ser abordado por alguns policiais visivelmente alterados. Logo saberemos qual é a missão desse anjo sem asas, proteger uma garçonete que trabalha numa lanchonete perdida no meio do nada e que nem faz ideia que será alvo de uma batalha do extermínio angelical da raça humana. Não entendeu? Deus se revoltou com a humanidade e liberou os anjos para dar cabo da humanidade, especialmente o bebê que a tal garçonete está esperando. Por que o bebê é tão importante assim? Isso não fica muito claro, assim como muitas coisas no filme. O filme poderia até deixar umas coisas no ar se fosse melhor escrito, mas do jeito que está tudo fica meio apressado e despropositado ao final das contas - chega a irritar ouvir Miguel falando que deu à Deus o que ele precisava numa reviravolta brusca na trama. Além de Bettany o filme conta ainda com Dennis Quaid como o dono da tal lanchonete e pai do bom moço vivido por Lucas Black (que depois da bosteira de Velozes e Furiosos 3 parece estar disposto a ser levado a sério) que é apaixonado pela garçonete grávida de outro homem nunca revelado. Apesar da sinopse promissora muito da força narrativa do filme se perde após o primeiro ataque à lanchonete. Dramas rasos vão surgindo, os personagens começam a tagarelar falando de suas vidinhas confusas e as cenas de ação vão ficando cada vez mais repetitivas. Sorte que Bettany está lá para nos fazer acreditar que vale a pena ver o filme até o final, o problema é quando o filme chega ao final e percebemos que uma ideia tão boa foi mal aproveitada depois do início promissor. O filme saiu direto em DVD no Brasil após decepcionar nas bilheterias americanas, mas consegue ser mais interessante que a maioria dos filmes que entram em cartaz por aqui.

Legião (Legion/EUA-2010) de Scott Stewart com Paul Bettany, Lucas Black, Dennis Quaid e Adrianne Palicki.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

DVD: Percy Jackson e o Ladrão de Raios

Lerman: Semi-deus substituindo Harry Potter.

Com a saga de Harry Potter chegando ao fim,Hollywood anda louca atrás de outra franquia de fantasia para levar multidões adolescenes ao cinema, nesse quesito a coleção literária protagonizada pelo adolescente semi-deus Percy Jackson tem muitos atrativos. Pra cromeçar tem muitas semelhanças com o bruxinho criado por J.K. Rowling: tem seu fã-clube para garantir um pontapé inicial na bilheteria, seu protagonista cresce a cada exemplar (tal e qual o seu público), um universo de referencias próprias e muitas possibilidades (sai a bruxaria e entra a mitologia grega), potencial para uso de efeitos especiais nos filmes e... o pontapé inicial dado por Chris Columbus. Columbus está longe de ser um cineasta notável, mas sabe como manipular uma série de fatores a seu favor para chamar a atenção da molecada. Percy Jackson (Logan Lerman) é um adolescente com diagnóstico de dislexia e problemas com o padrasto. As coisas vão começar a se explicar em sua vida quando descobre que foi fruto da relação de sua mãe mortal (Catherine Keener num papel sem muito o que fazer) com um deus grego, no caso Poseidon (Kevin McKidd). Percy acaba sendo o principal suspeito de ter roubado os raios das mãos de Zeus (Sean Bean). Tendo um prazo para se inocentar e salvar sua mãe ele conta com a ajuda de seu sátiro protetor (Brandon T. Jackson) e de uma semi-deusa filha de Atena (Alexandra Daddario). Para encontrar o tal ladrão de raios ele terá uma série de desafios que rendem alguns momentos interessantes. Columbus erra um bocado em seu trio protagonista, às vezes o sátiro parece um dos irmãos Wayans e Alexandra Daddario parece mais preocupada em arregalar os olhos e fazer pose do que atuar, pelo menos Lerman é dedicado a maior parte do tempo. O diretor erra, também, ao deixar Pierce Brosnan preguiçoso como um centauro, erra em alguns efeitos especiais e no ritmo apressado na parte final. Sorte que acerta ao colocar Uma Thurman como uma inesquecível Medusa (como não olhar para ela?), Steve Coogan como Hades e Rosario Dawson como o diabo gosta no papel de Pérsefone. No entanto, o mérito princial do filme talvez seja a trama que apresenta a mitologia acessível para os adolescentes desenvolvida pelo professor de mitologia Rick Riordan, o que torna o filme infinitamente mais interessante do que algumas obras como Fúria de Titãs. Pode não ser um filme genial e ter algumas apelações (queria eu que meus alunos disléxicos fossem semi-deuses!), mas promete uma franquia no capricho para se divertir nos próximos anos.  

Percy Jackson e o Ladrão de Raios (Percy Jackson and the Lightining Thief/EUA - 2010) de Chris Columbus com Logan Lerman, Uma Thurman, Kevin McKidd e Pierce Brosnan.
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5 PRÉ-CANDIDATOS AO OSCAR 2011

Falta dois dias para a chegada da primavera por aqui e isso quer dizer que falta dois dias para começar a temporada de outono do cinema americano que é famosa pelos lançamentos com claras pretensões oscarizáveis. Depois de um verão americano morno e de um ano cinematográfico fraco, resta-nos a esperança pelo que vem pela frente. Mesmo assim, não podemos esquecer que alguns filmes que chegaram aos cinemas brasileiros merecem atenção nos rumos que a temporada de ouro, vale lembrar que o Oscarizado desse ano (Guerra ao Terror) saiu dos cafundós de 2009 e surpreendeu muita gente. Sendo assim, os filmes que tem alguma chance no Oscar do ano que vem:

1 - A Origem
 São tantos os fatores que fazem do filme de Christopher Nolan cotado para o Oscar que eu poderia escrever horas sobre ele. Pra começar temos a bilheteria robusta (478 milhões só nos EUA e contando...) em nada prejudicada pela trama complexa de thriller psicológico de ficção científica e ação... fora isso tem o fator Christopher Nolan - negligenciado desde sempre pela Academia e especialmente por Batman - O Cavaleiro das Trevas. O filme tem tudo para ganhar cada vez mais força até o Oscar, mas será que vai conseguir concorrer nas categorias principais?

2 - Toy Story 3 
É a maior bilheteria do verão americano com 895 milhões de verdinhas em bilheteria (e contando...) some-se a isso o arremate primoroso da saga dos brinquedos de invejável carga emocional perante 90% dos lançamentos desse ano nefasto para o cinema. Toy Story terá cadeira cativa na cerimônia da Academia no ano que vem, resta saber se irá transcender a categoria Melhor Animação, já que tem um concorrente poderoso no páreo.

3 - Ilha do Medo 
É meus caros, nunca subestimem o poder de Martin Scorsese - ainda mais num ano de produções fracas até agora. Baseado no livro de Denis Lehanne o filme deu ao diretor seu filme de melhor bilheteria com um roteiro que flerta com as paranóias americanas e ainda faz uma pegadinha comm seu público na reta final. A crítica ficou dividida, mas foi unanime em elogiar Leonardo DiCaprio que pode ser indicado mais uma vez ao Oscar e até levar o prêmio para casa pelo seu anti-herói nervosinho que esconde mais segredos do que ele mesmo imagina. Além da coroação do bom ano de Leo a magistral trilha sonora também deve ser lembrada.

4 - Como Treinar o Seu Dragão
Num ano em que Shrek parece ter se despedido para sempre, a Dreamworks parece ter finalmente acertado após investir vários anos batendo na mesma tecla. Como Treinar o Seu Dragão agradou todo mundo com sua trama simples de superação e amizade de um garoto com um dragão. Simples e bem escrita a trama foi um exexmplo também no uso do 3D que está sendo cada vez mais banalizado nos lançamentos. Não se surpreenda se houver dois candidatos animados no páreo de melhor filme no ano que vem, ainda mais com a promessa do filme virar uma franquia muito rentável!

5 - Escritor Fantasma
 O filme de Roman Polanski (que lhe valeu o prêmio de diretor em Berlim) pode não ter empolgado nas bilheterias, mas isso tem mais relação com os seus problemas com a justiça do que com o filme. Se o filme não é genial, pelo menos tem alto teor provocador e aquele acabamento refinado de suspense que o diretor não exibia há anos. Acho que o filme ainda pode ser lembrado em alguma(s) categorias, já que Polanski tem um fã-clube generoso entre os membros da Academia, especialmente quando mescla em suas obras um pouco de sua nebulosa vida pessoal.

FILMED+ : Fargo


Marge e o corpo: banalidades e crueldades com a marca dos Coen

O ano de 1996 foi muito importante para o cinema independente, afinal de contas ficou famoso por ter entre os cinco indicados ao Oscar quatro produções bancadas fora dos grandes estúdios e que caíram principalmente nas graças dos cinéfilos. Se O Paciente Inglês de Anthony Minghela foi o maior consagrado nas premiações, Fargo deve ter sido o que conquistou fãs mais fiéis ao longo do tempo. Fargo é a obra-prima dos irmãos Joel e Etan Coen, filme no qual a fórmula que consagrou a dupla (sujeiro comum tenta se dar bem e acaba se complicando cada vez mais) chegou ao seu estado maior de sublimação. Há tantos elementos trágicos, cômicos e absurdos mesclados em crua maestria que até acreditamos na mentirinha de que tudo é baseado numa história real. Bem... se levarmos em consideração que um dia um policial encontrou um defunto no meio da imensidão gélida do sul dos EUA, talvez estejam dizendo a verdade. Jerry Lundegaard (William H. Macy, indicado ao Oscar de coadjuvante) é funcionário da loja de carros de seu sogro e está cheio de dívidas, sendo assim resolve forjar o sequestro da esposa para conseguir a quantia esperada e resolver suas pendengas financeiras. O plano pilantra, mas aparentemente inofensivo, poderia até funcionar se ele não contratasse dois caras muito esquisitos (Steve Buscemi e Peter Stormare, este numa espécie de protótipo de Javier Barden em Onde os Fracos não Têm Vez) e que acabam fazendo mais estrago do que esperava com muitas vítimas pelo caminho. O que faz de Fargo um filme tão especial e original é sua protagonista feminina, o total oposto de Lundegaard, a policial grávida Marge Gunderson (a ótima Frances McDormand que levou para casa o Oscar de Melhor Atriz pelo papel). Apesar das crueldades que vê pelo caminho de sua investigação, Marge demonstra ser mais astuta que seu sotaque caipira deixa transparecer, enquanto Lundegaard se enrola cada vez mais. Divertido e cruel, os Coen controem um filme de paisagem gélida e intenções que ressaltam o valor de coisas como  um selo a ser fabricado ou do respeito ao ser humano que vale mais do que um pouco de dinheiro. Pelo desenrolar inusitado de sua trama - que só poderia acontecer no universo Coeniano (com direito a uma das cenas de assassinato mais escabrosas do cinema) o filme ganhou o merecido Oscar de roteiro original.

Fargo (EUA/1996) de Joel Coen com Frances McDormand, Willian H Macy, Steve Buscemi e Peter Stormare. ☻☻☻☻☻

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

DVD: Um Homem Sério

Stuhlbarg: pensando que Deus é uma Lei da Física.

A primeira vez que ouvi falar do último filme dos irmão Coen diziam que era uma espécie de adaptação do Livro de Jó para a década de 1960. Depois ouvi dizer que a dupla de manos mais bacana do cinema americano estava apenas querendo fazer troça de suas raízes judaicas em mais uma comédia estranha. Sinceramente, não sei qual dessas duas opiniões me despertaram mais interesse por Um Homem Sério, a última cria de Joel & Ethan. a empreitada valeu aos dois vagas no Oscar desse ano nas categoria de melhor filme e roteiro original, infelizmente a Academia resolveu ignorar completamente a alma do filme dos caras, o desconhecido Michael Stuhlbarg (que recentemente pude conferir irreconhecível em Almas à Venda). Devo confessar que prefiro quando os Coen dirigem comédias (e devo explicar que por inúmeros fatores eu considero o melhor filme dos caras, Fargo uma comédia), principalmente pelas referências retrôs que utilizam e o tom de estranhamento que colocam em cada detalhe em cena. Stuhlbarg encarna com perfeição o professor de física Larry Gopnik, um cara em busca de respeito e que tenta manter a sua vida sob o maior controle possível, tal e qual consegue organizar as suas equações assustadoras diante dos alunos. O problema é que ele vai descobrir que a vida é mais complicada que a pior das equações, afinal quem pode adivinhar as adversidades que encontraremos pelo caminho? Mas talvez o pior seja buscar por uma explicação plausível mesmo quando ela não dá a mínima evidencia de que exista (e acho que essa é a idéia do inusitado epílogo do filme). Gopnik irá atravessar uma maré de azar assim que um aluno coreano lhe oferecer suborno, daí em diante vai tudo ladeira abaixo. Sua esposa pedirá divórcio, seu filho irá se encrencar com compra e venda de maconha, seu irmão matemático será procurado pela polícia por uma fórmula maluca (que parece ser um cálculo que estabelece uma sequência de acontecimentos, mas que todos ignoram - menos o filho maconheiro). A alma do filme, como eu já disse é Stuhlbarg que consegue dar dignidade ao seu personagem mesmo nos momentos em que ele poderia parecer um idiota completo. Ninguém procura explicações com três rabinos diferentes como ele! Ninguém banca o funeral de um sujeito que merece seu desprezo como ele! Ninguém almeja ser sério e respeitado como ele! Sua fala mansa esconde um sujeito prestes a explodir diante do caos em que sua vida se transformou. Se ele acha que no fim tudo se ajeita e que uma leve concessão não terá consequências, as coisas podem piorar ainda mais. Não que exista uma relação de causa e efeito nos acontecimentos - isso já fica por conta do expectador que embarcar em mais essa graça genial dos Coen.

Um Homem Sério (A Serious Man/EUA-2009) de Joel & Ethan Coen, com Michael Stuhlbarg, Richard Kind, Fred Melamed e David Kang.
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Os pré-candidatos brasileiros ao Oscar


5 x Favela: Um dos favoritos à uma pré-vaga no Oscar 2011

Vai chegando o final do ano e é inevitável entre os cinéfilos falar sobre os favoritos à uma vaga no Oscar, mesmo sendo criticado, espinafrado e cobiçado nas mesmas proporções, o prêmio da Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood sempre dá um caráter de projeção aos seus indicados ou pré-candidatos. O Brasil daqui há dez dias irá divulgar seu pré-indicado à categoria de filme estrangeiro e tendo em vista os indicados dos últimos anos acho que a tarefa ficará a cargo de 5 x Favela. Além de ter chamado alguma atenção em Cannes o filme tem a estética que tem feito a cabeça do MinC desde que Cidade de Deus ganhou o mundo. Esse fator também pode trabalhar a favor de Bróder, que foi premaido em Gramado. Porém, o júri pode sucumbir aos sucessos espíritas de Chico Xavier ou do recente Nosso Lar, ou do aguardado retorno de Arnaldo Jabor em A Suprema Felicidade - mas sobre esse eu não posso opinar, já que nem foi lançado. Na lista de indicados os maiores méritos ficam por conta de É Proibido Fumar e As Melhores Coisas do Mundo, que eu adoraria que nos surpreendesse com uma indicação. Confira todos os candidatos:

As Melhores Coisas do Mundo


A Suprema Felicidade

Antes que o Mundo Acabe

Bróder

Carregadoras de Sonhos

Cabeça a Prêmio

5X Favela – Agora Por Nós Mesmos

Chico Xavier

É Proibido Fumar

Em Teu Nome

Hotel Atlântico

Lula, o Filho do Brasil

Nosso Lar

Olhos Azuis

Ouro Negro

O Bem Amado

O Grão

Os Inquilinos

Os Famosos e os Duendes da Morte

Quincas Berro D’água

Reflexões de um Liquidificador

Sonhos Roubados

Utopia e Barbárie

FESTIVAL DE VENEZA 2010

Black Swan: Não chore Natalie Portman, o Oscar vem aí!

O que esperar do Festival de Veneza presidido por Quentin Tarantino? Surpresas, muitas surpresas meus caros! Afinal quem associaria o diretor de Pulp Fiction com a delicadeza de Sofia Coppola! O quarto filme da cineasta acabou de receber o prêmio de Melhor Filme no Festival e com isso teve suas chances mais do que ampliadas de chegar com força ao próximo Oscar! Some-se a isso o fator de que uma mulher pode ganhar o Oscar de direção logo em seguida de outra. Agora esquisito foi ver seu astro Stephen Dorf perder o prêmio de ator para Vincent Gallo e sua garota prodígio Elle Fanning perder o prêmio de revelação para Mila Kunis de Black Swan - que a deixou sua estrela favorita ao prêmio de atriz, Natalie Portman  a ver navios (mas nada que um Oscar não compense). enquanto isso só QT para bancar a a premiação de Alex de la Iglesia em duas categorias! A seguir a lista de premiados. 

Melhor Filme (Leão de Ouro)
Somewhere

Melhor Direção (Leão de Prata)
Alex de la Iglesia (Balada Triste de Trompeta)

Prêmio Especial do Júri
Essential Killing

Melhor Ator
Vincent Gallo (Essential Killing)

Melhor Atriz
Ariane Labed (Attenberg)

Melhor Roteiro
Alex de la Iglesia (Balada Triste de Trompeta)

Revelação
Mila Kunis (Black Swan)

Melhor Fotografia
Mikhail Krichman (Silent Souls)

Prêmio pelo Conjunto da Obra
Monte Hellman (Road to Nowhere)

4EVER: Claude Chabrol

(1930-2010)

Claude Chabrol era um dos diretores mais conceituados do cinema francês além de ser um dos fundadores do movimento da nouvelle vague que revolucionou a forma de se fazer filmes em seu país. Seus filmes sempre mantinham um olhar irônico sobre a sociedade francesa, especialmente sobre as relações entre as classes, essa inpiração fica bem clara em Mulheres Diabólicas (1995) com sua atriz favorita Isabelle Huppert, que tb trabalhou com o cineasta em seu maior sucesso Madame Bovary (1991)que também trabahou com o diretor no curioso A Teia de Chocolate (2000). Entre as outras musas francesas que trabalharam com o diretor estão Emanuelle Beárt (Ciúme/1994) e Ludivinie Sagnier (Uma Garota Dividida em dois/2008) Chabrol estava com 80 anos e a causa de sua morte não foi revelada.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

CATÁLOGO: Margot e o Casamento

Margot e Pauline: deliciosa comédia amarga

Acho que os críticos guardam magoas profundas por alguns diretores independentes quando percebem que sua obra de estréia possui elogios demais para pisotearem no coitado. Sendo assim, os críticos esperam pacientemente até a obra seguinte para espinafrarem o cara. Foi isso que aconteceu com Noah Baumbach quando ele lançou Margot e o Casamento. Apesar do filme ter semelhanças com seu filme de estréia (assim como em A Lula e a Baleia, o texto aborda escritores num núcleo familiar e  tem aquela forma peculiar com que o roteiro dialoga com a edição) o percurso dos acontecimentos é diferente - assim como o humor aparece de forma mais clara (apesar de muita gente não perceber). Para piorar a situação do filme foi quando Nicole Kidman começou a ter seu relacionamento com o botox posto em questão, no fim das contas as qualidades do filme acabaram sendo esquecidas. Pois é, ao contrário do que a maioria das pessoas fazem eu vou elogiar Margot e o Casamento, um filme que me fez rir um bocado ao mesmo tempo que me comove por não ter pudores em mostrar que o tom amargo de sua personagem camufla sua vulnerabilidade. Baumbach já começa o filme com um piadinha sobre a aparência de Nicole (que aparece morena como em As Horas, filme que lhe deu o Oscar, mas sem a prótese no nariz) e nesse subtexto já começa a mostrar que há algo de adolescente na rabugice de sua personagem. A forma como Margot se relaciona com o filho tem algo fraterno, como se ele fosse o irmão caçula, companheiro de aventuras e ao mesmo tempo vítima de seus dias de mau humor. A trama tem como ponto de partida o casamento da irmã de  Margot, Pauline (Jennifer Jason Leigh, esposa do diretor) com um homem que é o estereótipo do american loser (Jack Black, mais contido que de costume). Está certo que Margot é uma das criaturas mais antipáticas que já passaram pela tela de cinema, mas seu brilhantismo conjugado com suas implicâncias geram algumas das cenas mais engraçadas do filme. Aos poucos Baumbach nos mostra seu universo próprio, os vizinhos estranhos, os relacionamentos familiares excêntricos, as pequenas maldades cotidianas e as crueldades familiares (afinal, quem melhor para conhecer nossos pontos fracos?). Frustrações e desejos se atraem e repelem por toda a sessão - a quase zen Pauline e a densa Margot são como tantas outras irmãs que vemos por aí, e a química entre Jennifer e Nicole funciona muito bem. Apesar de seus comentários cortantes, Margot está longe de ser uma vilã, em vários momentos demonstra que seu olhar sobre o mundo reflete suas próprias frustrações, seu deslocamento no mundo e nesse quesito, Nicole tem uma atuação memorável ao abraçar o que sua personagem tem de mais desagradável. Talvez  o maior "erro" de Baumbach tenha sido confiar suas fichas em um roteiro que não explora uma catarse explícita de sua personagem (como o confronto de Anne Hathaway com a mãe em O Casamento de Rachel, que segue a mesma linha de Margot), mas quem gosta de filmes que revelam personagens intimistas não devem se incomodar. Falando em incomodar, algo que me desagrada no filme é o cacoete em ficar destilando rótulos psicológicos em seus personagens, nada que prejudique essa pérola do humor negro que se encerra com a tristeza de Karen Dalton entoando Something on your mind. Trata-se de um filme que saiu por aqui direto em DVD e merecia maior atenção dos cinéfilos de plantão. Provavelmente o novo filme do diretor terá melhor sorte, Greenberg - que deve estrear nesse ano - tem Ben Stiller no elenco.  

Margot e o Casamento (Margot at the wedding/EUA-2007) de Noah Baumbach com Nicole Kidman, Jennifer Jason Leigh, Jack Black, John Turturro e Zane Pais. Disponível em DVD. ☻☻☻☻

CATÁLOGO: A Lula e a Baleia


O casal Berkman: retrato de um divórcio enquanto coisa.

Noah Baumbach surgiu para o mundo com seu A Lula e a Baleia no Festival de Sundance de 2005. É com muita coragem que assume as marcas autobiográficas de sua obra que chama atenção pelo seu humor amargo sobre a dissolução de uma família formada por um casal de intelectuais com filhos adolescentes. Desde a primeira cena, Baumbach mostra que não se trata de um diretor comum com um roteiro indie trivial, quando coloca a família numa partida de tênis deixa bem claro o que estamos prestes a assistir: o pai e o primogênito jogarão contra a mãe e o caçula. ssa divisão de times perpassa boa parte do filme. Baumbach sabe que a comédia mais refinada emerge do drama e utiliza uma espiral de acontecimentos, sem o encadeamento convencional a que nos acostumamos para criar um filme onde os personagens se aprofundam quase que por conta própria. A crise familiar aponta como causa o sucesso da esposa Joan Berkman (Laura Linney, que é sempre um bom motivo para ver um filme) prestes a publicar um livro e o período complicado pelo qual passa a carreira de seu marido Bernard Berkman (Jeff Daniels), que não consegue publicar uma obra há tempos. Entre discussões diárias e doses de egocentrismo os dois resolvem se divorciar, optando por uma guarda compartilhada dos filhos que  ira gerar sentimentos estrnahos entre os meninos. "A semana tem sete dias, como vão dividir a semana?" pergunta o mais velho, "e o gato? quem vai ficar com o gato?" diz o caçula, "Oh meu Deus! Não discutimos sobre o gato"! Entre pequenos gestos e atos, a admiração do mais velho Walt (um escovado Jesse Eisenberg, que anda fazendo uma carreira bacana em Hollywood atualmente) e o desajuste do caçula, Frank (Owen Kline, filho de Kevin Kline) se intensificam - sendo que a admiração de Walt se mescla à uma pressão para ser intelectual como seu pai, ao ponto de mentir sobre livros que nunca leu ou composições que são plágios do Pink Floyd. Enquanto Frank mostra-se decepcionado pela admiração que nutria pela mãe que agora flerta com seu professor de tênis (Willian Baldwin, mais competente que de costume) afogando as mágoas em bebidas alcóolicas (o moleque deve ter uns doze anos) e se masturbando pela escola. No filme existem ainda duas personagens femininas que revelam os efeitos do divórcio nesse microcosmo masculino, a aluna de Bernard, Lili (Anna Paquin) que flerta com o professor com om Frank e Sophie (Halley Feiffer), a bem intencionada namorada de Frank. Baumbach deixa nas entrelinhas a maior parte de sua trama, explorando a forma as marcas da separação afetendo a contrução das individualidades de seus personagens (sejam adultos ou crianças) sem deixar de alfinetar seu alvo favorito (os intelectuais, afinal, debaixo de sua casca intelectualóide, Bernard não é tão diferente assim dos outros mortais, nem mesmo dos filisteus, aos quais nutre profundo desprezo). O título trata de uma alegoria que aparece nos minutos finais, onde os dois seres marinhos se enfrentam - uma imagem assustadora e o mesmo tempo curiosa que ilustra bem o que os herdeiros da família Berkman vivenciam. Depois de ser premiado em Sundance o filme foi indicado ao Oscar de roteiro original, o que foi muito merecido, já que a escrita de Baumbach é sem frescuras e coeso o suficiente para casar brilhantemente com a edição, aspecto que também mostrou em sua obra seguinte (o execrado Margot e o Casamento).

A Lula e a Baleia (The Squid and the whale/EUA-2005) de Noah Baumbach com Jeff Daniels, Laura Linney, Jesse Eisenberg, Owen Kline, Anna Paquin e Halley Feiffer. ☻☻☻☻

sábado, 4 de setembro de 2010

FILMED+: Persépolis

 Persépolis: O Irã pelos olhos do cotidiano Satrapi

Antes de ver Persépolis eu quis ler a obra homônima de Marjane Satrapi (foto) primeiro. No ano do lançamento do filme (2007) lembro que todo mundo falava com certa curiosidade sobre a obra da moça, uma graphic novel diferente de traço simples onde se explorava a vida repressora no Irã sobre os olhos de uma jovem iraniana. Li o livro nesse ano em um fim de semana, e hoje vi o filme assinado por Satrapi e Vincent Paronnaud. Assim como a obra impressa, o filme me impressionou pela sinceridade com que aborda temas tão obscuros sem parecer melodramático. Depois do sucesso de sua HQ, Satrapi convidou seu amigo Paronnaud para tocar o projeto, além de outros conhecidos que se surpreenderam ao serem indicados à Palma de Ouro em Cannes, saindo de lá com o prêmio do júri. A obra de Satrapi tem uma força impresionante ao expor os problemas de seu país natal com um olhar interno, sem os clichês de obras semelhantes que surgiram expecialmente após os ataques de onze de setembro. Mas o fundamental nessa empreitada é que trata-se de uma obra com um olhar adolescente bem marcado sobre o que estamos habituados a ver com a leitura unidimensional dos telejornais. Em Persépolis fica clara a insatisfação da população diante das restrições que sofrem em um regime governamental sufocante, nesse ponto  o fato de ser narrado por uma mulher (e com fortes personagens femininas no enredo, como a mãe e a avô de Marjani) enriquecem ainda mais esse olhar do cotidiano iraniano. Os anos 1980 marcados pela intensificação do sexismo, das torturas, do culto aos mártires, dos bombardeiros,  do mercado negro de fitas de artistas internacionais se mescla às complicações amorosas e a construção da identidade num ambiente extremamente hostil. Marjane aos treze anos é mandada para um país europeu e por lá cresce em meio a preconceitos e as angústias que só a solidão ampliada na adolescência podem causar. Ela descobre o amor, as drogas, o vazio e percebe que o fundamental é contruir sua própria identidade - tarefa complicada até para uma garota que quando criança queria ser a última profetiza! Marjane publica suas memórias na França desde 2002 e sabe utilizar referências pop para criar um apelo universal em sua obra (Abba, Bee Gees, Iron Maiden, O Grito, Bruce Lee ...). Persépolis foi o indicado da França para concorrer ao Oscar de filme estrangeiro, mas teve que se contentar com uma indicação ao prêmio de animação (perdendo para o inferior Ratatouile), o que apenas contribuiu para sua irresistível aura cult. Leia o livro, veja o filme e garanto que sua visão sobre os iranianos vai mudar bastante.

PERSÉPOLIS (França/2007) de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, com vozes de Chiara Mastroianni e Catherine Deneuve. ☻☻☻☻☻

  

CATÁLOGO: Exterminador do Futuro - A Salvação

Bale e Worthington: o novo astro sai ganhando.

Acho que para fechar esse retrospecto involuntário da carreira de Sam Worthington não custa nada falar de seu primeiro sucesso em Hollywood, aquele filme que fez com que apostassem nele como um dos astros mais promissores dos últimos anos e aumentasse a expectativa em torno de Avatar de James Cameron. Exterminador do Futuro - A Salvação é a quarta parte de uma série cinematográfica que "sofreu" com o sucesso de Exterminado do Futuro II (1991), sofreu porque o filme acabou se mostrando insuperável dando origem mais de uma década depois à uma sequência que repete sem muita originalidade o que já foi visto (ah vai, vc não se contentou com uma Exterminadora como único ponto original de A Rebelião das Máquinas/2003, não é?). Mas sabe como é, os estúdios sabem como dar um jeito de ganhar algumas verdinhas... ou pelo menos pensa que sabe. Esta quarta parte pode não ser tão fraca quanto a anterior, mas está longe de ter as qualidades do segundo filme da série. Lembro que na época da produção todo mundo estava com o pé atrás por conta de colocar o diretor de As Panteras (2000), McG (como alguém pode querer ser respeitado sendo chamado assim? Sempre achei que fosse a versão escocesa do ponto G) para tocar o projeto. A surpresa geral foi ver que não bastasse deixar Schwarzenegger de fora relegaram John Connor (agora vivido por Christian Bale) a coadjuvante de sua própria história. Os holofotes acabaram caindo sobre o misterioso personagem que é condenado no presente por um crime e acorda no futuro sem lembrar o que aconteceu. O cenário desse futuro é aquele consagrado pela série, onde as máquinas dominam a terra e alguns humanos lutam pela liberdade. Um dos líderes rebeldes é John Connor, filho de Sarah Connor e que era o alvo favorito dos Exterminadores nos filmes anteriores. Agora crescido, Connor viverá um dilema ao descobrir que está em suas mãos um cyborg, uma protótipo dos seres que tentaram (ou tentarão?) matá-lo no passado. O tal cyborg é vivido por Sam Worthington que mostrou um desempenho digno das boas críticas que recebeu. Está na cara que o rapaz viu no papel cheio de ambiguidades a oportunidade de sair do anonimato e virar um ator de sucesso, pena que sem essa disposição a coisa complicou para o lado dele. McG capricha nos efeitos e nas cenas de ação (que é o interesse de quem assiste a um filme desses), mas, apesar de não trazer nada de realmente novo ao filme, demonstra que sabe contruir uma estrutura que sirva para uma nova etapa na mitologia dos personagens - tanto que insere o pai de Connor ainda rapaz, antes de voltar ao passado e acabar concebendo o líder rebelde. Além disso foi esperto o suficiente para colocar nomes imponentes nos créditos, a começar por Bale e  Helena Bonhan Carter numa participação pequena mas primordial, ainda tem Bryce Dallas Howard como  a esposa de John Connor (papel que seria mais uma vez de Claire Danes, se ela não tivesse coisa melhor a fazer). Provavelmente existirão outros filmes graças ao relativo sucesso do filme entre os fãs da série. Pelo menos, Worthington ainda poderá ganhar alguns trocados depois do massacre recebido com Fúria de Titãs...

EXTERMINADOR DO FUTURO - A SALVAÇÃO (Terminator: Salvation/EUA-2009) de McG com Christian Bale, Sam Worthington, Helena Bonhan Carter e Bryce Dallas Howard. ☻☻