Emílio (de terno cinza): a amizade contra o Alzheimer.
Não lembro de ter visto muitas animações espanholas e, por isso mesmo, Rugas chamou minha atenção assim que ouvi falar dele. Baseado na HQ de Paco Rosa, o filme tem traço simples, cores serenas, mas sua história tem força suficiente por lidar com temas complicados como envelhecimento, Alzheimer e morte. No entanto, não se trata de um dramalhão, mas um filme bastante sensível, que não me causaria admiração se recebesse uma versão em carne e osso futuramente. Desde a primeira cena sabemos que Emílio apresenta sinais de Alzheimer e quando seu filho resolve colocá-lo num lar para idosos a sensação de abandono é compreensível. Apesar de mostrar-se um lar bastante confortável com enfermeiros bastante atenciosos, existe um certo vazio no dia a dia daqueles idosos. As atividades destinadas para eles não vão muito além de tomar medicamentos, comer, dormir e assistir documentários na televisão. Sendo assim, o melhor é passar o tempo conhecendo os parceiros de jornada. Emílio divide o quarto com o esperto Miguel, que lhe explica o funcionamento daquele lugar (especialmente o temido andar de cima para onde os pacientes com Alzheimer são destinados) e testemunha a deterioração da memória do amigo. Embora Miguel desperte desconfianças, aos poucos se mostrará um bom companheiro. Aos poucos a trama avança e conhecemos as histórias daqueles pacientes, alguns com histórias tristes, outros com momentos mágicos, mas sempre com um tom bastante humanista que me fazia até esquecer que estava diante de uma animação. O fio condutor da trama é o agravamento do estado do protagonista, que gradativamente dá sinais de que sua memória o abandona aos poucos. Ignácio Ferreras constrói um filme bastante melancólico, mas sem forçar os dramas de seus personagens. Intimista e bem humorado, o filme mostra-se um grande acerto na abordagem de temas tão difíceis que costumam assustar o público. A forma cuidadosa como o roteiro constrói a história valeu ao longa o Goya (o Oscar espanhol) de melhor roteiro adaptado (além do prêmio de Melhor Animação). Diante do fime, o tom esperançoso da narrativa deixa a sensação de que poderíamos acompanhar aqueles personagens por várias horas. É interessante perceber como nos últimos anos os idosos voltaram à pauta da produção cinematográfica, filmes como Vênus (2006), A Família Savage (2007) e O Quarteto (2012) mostram não apenas como enxergamos as gerações mais antigas como desconstroem representações mais fruto de preconceito do que realidade. Rugas é mais um exemplo de que boas histórias para contar não faltam a quem viveu por mais tempo - além de ser uma animação bem diferente do que estamos acostumados a assistir.
Rugas (Arrugas/Espanha-2011) de Ignacio Ferreras com vozes de George Coe, Álvaro Guevara, Matthew Modine, Martin Sheen e Tacho González. ☻☻☻☻