Chewie, Luke, Kenobi e Solo: nasce um clássico.
No passado numa galáxia não muito distante, um ser, fascinado pelas aventuras de Flash Gordon, queria levar as aventuras do herói para a tela grande. No entanto, ele tinha menos de trinta anos, alguns curtas e dois longa-metragens no currículo - nenhum com sucesso de bilheteria que garantisse que ele daria conta de tamanha empreitada. Sem o direito para levar o herói para as telas ele resolveu criar seu próprio univers - uma mescla de referências dos filmes de aventura que apreciava tanto. Na galáxia dos anos 1970, esse ser resolveu misturar aventuras espaciais, heróis do deserto, filmes de samurai, faroestes, pilotos de aviação, robôs divertidos, jovens preocupados com seu lugar no mundo e uma trilha sonora que ecoa os grandes épicos de Hollywood. Era assim que George Lucas criou sua maior obra: Guerra nas Estrelas. Star Wars estreou em 1977 e nem imaginava se chamar Uma Nova Esperança, começava como a quarta parte de uma saga intergaláctica que ninguém imaginava que daria certo, afinal, o cinema blockbuster hollywodiano ainda mal tinha tomado forma. Considerado um "faroeste de ficção científica" e estrelado por desconhecidos, o estúdio estava tão certo do fiasco que nem se importaram de deixar em nome de George Lucas todos os diretos de qualquer produto relacionado à sua criação. Ao estrear, Guerra nas Estrelas conquistou uma legião de fãs, custando 11 milhões de dólares e arrecadando mais de 460 milhões ao redor do mundo - somente na época de seu lançamento. A saga começava apresentando nosso protagonista, Luke Skywalker (Mark Hamill no papel de sua vida), um jovem virtuoso que após a morte dos tios que o educaram se junta a um cavalheiro Jedi chamado, Ben "Obi Wan" Kenobi (Alec Guiness, indicado ao Oscar de ator coadjuvante), dois robôs, um piloto arrogante, Han Solo (um antológico Harrison Ford), e seu parceiro wookie, Chewbacca (Peter Mayhew) para resgatar uma princesa (Carrie Fisher) que era prisioneira de um dos maiores vilões da galáxia, Darth Vader (David Prowse com voz de James Earl Jones) - que fazia mais do que impressionar com a voz e o figurino sombrio. Tudo poderia dar errado, não fosse o tom certo entre a solenidade e a diversão impressa pelo criador. Enquanto apresentava seu universo ao público, formado por mundos fantásticos permeados pela luta do bem contra o mal, a plateia nem se dava conta que o roteiro construía seu mais poderoso sub-texto, que se revelaria somente no filme seguinte. Enquanto assistíamos aos voos na velocidade da luz, os sabres de luz, a vocação de Luke para se tornar um cavaleiro Jedi, George Lucas contruía um universo cinematográfico cheio de possibilidades, mas o melhor ainda estava por vir (e vale lembrar que o filme concorreu a onze estatuetas no Oscar - incluindo filme, direção e roteiro - mas levou somente seis para a casa, todos em categorias técnicas).
Vader e Luke: SPOILER! SPOILER! SPOILER!
Três anos depois do culto à Star Wars, George Lucas aprofundou as temáticas de sua obra, compondo uma trilogia. O Império Contra-Ataca amplia as relações apresentadas no filme anterior e revela um segredo que gerou um dos momentos mais dramáticos da história do cinema e é considerado o melhor filme da saga. Lucas preferiu somente assinar o roteiro e a produção do longa, entregando a direção para Irvin Kershner, que fez um trabalho excepcional na direção, especialmente por conduzir uma trama mais sombria e pessimista do que a apresentada no filme anterior. Enquanto Luke Skywalker começa a descobrir o seu destino, o flerte entre a Princesa Leia e Han Solo se intensifica, ainda que Luke desperte algum ciúme. Conforme o título anuncia, depois dos ataques sofridos nos filme anterior, o Império está pronto para revidar - enquanto Skywalker prossegue seu treinamento Jedi com o mestre Yoda (feito e interpretado pelo hoje diretor Frank Oz, que moldou Yoda com base em seu próprio rosto). Crescente em sua tensão, Lucas contou com dois colaboradores importantes no miolo de sua saga: o veterano Leigh Brackett e o novato Lawrence Kasdan intensificaram o romance, a dramaticidade e o tom cômico da interação entre os robôs C3PO e R2D2, tendo Kershner para criar a atmosfera perfeita para o ápice do anúncio da paternidade em um dos maiores SPOILERs da história do cinema. Ao final da sessão, a plateia segurava o coração na mão e aguardava ansiosa pelo capítulo seguinte e os estragos que o lado sombrio da força ainda era capaz de fazer. Lançado em 1983, o episódio VI - O Retorno de Jedi, marca a luta dos rebeldes em mais uma tentativa de derrotar o Império do mal. No entanto, nossos heróis precisam resgatar Han Solo que está sob os cuidados do nojento Jabba the Hutt. Com Richard Marquand na direção, o início é uma exibição plena de monstrinhos intergalácticos e referências às antigas matinês cultuadas por George Lucas. Das cenas de ação um tanto cômicas, passando pelo biquini futurista de Princesa Leia, o filme muda o tom logo depois, mostrando Luke Skywalker mais introspectivo e ainda lidando com o segredo de suas origens - ao ponto de se entregar à Vader enquanto seus amigos lutam ao lado dos fofinhos Ewooks (um claro apelo às crianças depois do clima pesadão do filme anterior). Ainda que funcional, essa pegada mais leve faz o filme pagar um preço ainda mais alto de ter que lidar com um desfecho que já era esperado por todos. Talvez por isso, muitos o considerem o menos interessante da trilogia original, ainda assim, é bastante coerente às ideias já apresentadas por George Lucas. Lembro até hoje que ao assistir o primeiro filme da saga eu perguntava para todos os adultos onde estavam os três primeiros episódios da história, eu achava estranho que sempre me diziam que eles não existiam. Vinte e dois anos separam o primeiro Star Wars de seu capítulo inicial, talvez por ter esperado por tanto tempo, Star Wars - Episódio I: A Ameaça Fantasma tenha decepcionado tanta gente (eu, inclusive).
Anakin: a origem de Darth Vader.
A primeira trilogia tem uma força considerável ainda hoje e quando Lucas retomou sua saga não exibiu o mesmo brilho de antes. O problema talvez seja que o diretor perdeu o pique de décadas atrás e entregou uma trama que complica demais uma história que não tem muito para contar, assim, a saída foi apelar para os efeitos especiais, mas o filme tem outros problemas. O maior deles seja apresentar o jovem Anakin Skywalker (vivido pequeno por Jake Lloyd e mais velho por Hayden Christensen) numa trama que mistura Federação de Comércio, bloqueio a Naboo, votos do senado galáctico, Siths que só podem existir em pares... pois é, Star Wars virou aula de economia política intergaláctica! Diálogos sem graça e atores perdidos deixaram um gosto estranho na memória de vários fãs. O foco que deveria ser a descoberta de um promissor Jedi, o jovem Anakin (que se transformaria no temido Darth Vader), se perde num roteiro que, pasme, apresenta mal o personagem - eu sempre tenho a impressão que tudo o que realmente interessa está completamente diluído numa história sem graça, perdendo tempo com criaturas do porte de Jar Jar Binks (uma das piores criações digitais do cinema). George Lucas teria perdido a mão? Provavelmente. Diante de todos os problemas, Lucas convocou Jonathan Hales (que antes assinou o roteiro de filmes pouco conhecidos e... O Escorpião Rei/2002) para ajudar no texto... e os fãs tremeram. Era público e notório a paranoia de Lucas ter controle absoluto da nova trilogia, mas o nível de cobrança sobre Episódio II: Ataque dos Clones era gigantesco. O filme aprofundaria o romance proibido entre Anakin e a Rainha Padmé (Natalie Portman) anunciado no filme anterior. Ewan McGregor volta ao batente como um jovem Obi-Wan Kenobi e junto com Anakin precisa proteger a rainha das ameaças separatistas e algumas revelações aparecem! Uma delas é a arrogância de Anakin, que já aparece tentado para o lado negro da força. Com mais assunto que o filme anterior, Lucas recebeu menos reclamações, mas sua falta de habilidade na condução dos atores ficou ainda mais notório, rendendo críticas à inexpressividade de Portman e, especialmente, Christensen em meio a mais conspirações políticas: o romance não decola. Quando Episódio III - A Vingança dos Sith estreou em 2005, era visível como o diretor estava exausto (pontuada por sua declaração de que tudo acabaria aqui, que não existia outras histórias para filmar). Fazer os três longas seguidos, aguentando reclamações e bilheterias abaixo da expectativa tornaram o terceiro filme ainda mais bem vindo. Novamente sozinho no roteiro, Lucas teve a ingrata tarefa de transformar seu herói num dos maiores vilões do cinema em um curto espaço de tempo. Como Hayden Christensen também não apresenta habilidade como ator para tanto, você imagina onde está o maior problema do filme. Sorte que Lucas corta as piadinhas, investe num tom mais sombrio e, finalmente, se dedica a fazer o que era para ser feito desde a primeira parte: mostrar a transformação de Anakin em Darth Vader. A sensação é que os outros dois filmes eram uma grande (e complicada) enrolação para chegar até o final de A Vingança dos Sith. Ao fim dessa nova trilogia desengonçada, a maior conclusão era que George Lucas envelheceu mal e o que era para ser uma aventura sobre a ascensão de um dos maiores vilões do cinema, tornou-se três filmes chatos e pretensiosos sobre tudo que a saga original não era. Talvez o resultado fosse melhor se os três filmes fossem condensados em um só, mas o velho Lucas tinha outros interesses em mente (e agora você entende porque os roteiros escritos por ele foram para o lixo quando geraram a novíssima trilogia capitaneada por JJ Abrams, mas isso é assunto para o próximo post).
Star Wars - Episódio I: A Ameaça Fantasma (Star Wars - Episode I - The Phanton Menace / EUA - 1999) de George Lucas com Ewan McGregor, Liam Neeson, Samuel L. Jackson, Natalie Portman e Jake Lloyd. ☻ (CATÁLOGO)
Star Wars - Episódio II: Ataque dos Clones (Star Wars - Episode II - Atack of the Clones / EUA - 2002) de George Lucas com Hayden Christensen, Natalie Portman, Ewan McGregor e Samuel L. Jackson ☻ (CATÁLOGO)
Star Wars - Episódio III: A Vingança dos Sith (Star Wars - Episode III - Revenge of the Sith / EUA - 2005) de George Lucas com Hayden Christensen, Natalie Portman, Ewan McGregor e Christopher Lee. ☻☻ (CATÁLOGO)
Star Wars - Episódio IV: Uma Nova Esperança (Star Wars / EUA - 1977) de George Lucas com Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fischer, Alex Guiness e Peter Cushing. ☻☻☻☻ (KLÁSSIQO)
Star Wars - Episódio V: O Império Contra Ataca (Star Wars - Episode V: The Empire Strikes Back / EUA - 1980) de Irwin Kershner com Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher, Billy Dee Williams, Peter Mayhew e Anthony Daniels. ☻☻☻☻☻ (FILME D+)
Star Wars - Episódio VI: O Retorno de Jedi (Star Wars - Episode VI: The Return of the Jedi / EUA - 1983) de Richard Marquand com Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher, Billy Dee Williams, Peter Mayhew e Kenny Baker. ☻☻☻ (KLÁSSIQO)