Depois de uma pausa necessária perante a ressaca pós-Oscar carvalesco, finalmente retomo as atividades aqui no Blog. Para tanto, vou evitar neste primeiro momento comentar filmes indicados ao maior prêmio cinematográfico de Hollywood e falar de um filme que entrou fácil entre os filmes mais aguardados de 2025. Mikey 17 deve ser o primeiro grande lançamento do ano, assinado por Bong Joon Ho (diretor da obra-prima Parasita/2019 que se tornou a primeira produção em língua não inglesa a levar o Oscar de melhor filme para casa). No entanto, mesmo com todos os prêmios de seu filme anterior, Joon Ho teve problemas com a Warner quando resolveu finalizar seu novo filme. Dizem que a briga pelo corte final gerou grande tensão entre o cineasta e o estúdio, até que ele conseguisse manter o final que desejava para sua adaptação da obra de ficção científica de Edward Ashton lançada em 2022. Como dá perceber pelo tempo que separa o livro de sua versão cinematográfica, o diretor caiu de amores pela história assim que ele foi lançado e percebeu ali mais uma oportunidade de falar sobre o que mais lhe aflige: as diferenças sociais. No entanto, seria covardia exigir de qualquer filme o resultado que vimos em Parasita e Mickey 17 pode até não alcançar todas as notas que almeja, mas se torna um filme interessante e que prende a atenção, mesmo quando se perde em todos os temas que pretende abordar (e alguns são apenas arranhados na superfície). O filme conta a história de Mickey Barnes (Robert Pattinson), um jovem solitário que por conta de um amigo (Steve Yeun) contrai uma grande dívida, que poderia ser paga somente com sua própria vida. No entanto, ele se inscreve para um programa de exploração de um planeta distante bancado por um bilionário megalomaníaco. Como Mickey não percebe em si predicado algum, ele se candidata ao posto de Descartável, sem ao menos saber o que é isso. Isso significa que seu papel na exploração é colocar a vida em risco e morrer sempre que necessário. Sempre que morre, seu corpo é refeito em uma impressora 3D que recicla todo tipo de coisa (restos de comida, detritos, corpos mortos...) e ele volta a vida em uma nova versão. A ideia mais bem sacada é que cada versão carrega as memórias de Mickey, mas tem personalidade própria. Eis que um dia, o Mickey do título fracassa em uma missão e é dado como morto, o que gera uma nova versão e... vale destacar que Robert Pattinson está ótimo em cena, seja como o ingênuo e aterrorizado 17 ou como o instável 18 e os dois (?!) funcionam ainda melhor quando estão ao lado da namorada, Nasha (Naomie Ackie). Joon Ho (que já tem experiência em ficções científicas com os ótimos O Expresso do Amanhã/2014 e Okja/2017) ambienta toda a história em uma estética precisa e envolve o espectador, mesmo quando os personagens mais caricatos começam a irritar (e eles foram feitos para isso). Os caricatos ficam por conta de Mark Rufallo que vive o bilionário cultuado Kenneth Marshall e Toni Collette, que vive sua esposa obcecada por molhos. Os dois são fúteis, irritantes e empatam nos delírios de grandeza que inclui até o extermínio da espécie nativa do planeta que resolveram invadir. No entanto, embora Rufallo repita aqui os exageros vistos em Pobres Criaturas/2023, Joon Ho sabe exatamente para onde aponta ao criar personagens tão insuportáveis. O viés político da trama não apresenta disfarce algum com suas referências à eugenia, genocídio e outros delírios coletivos que assolam o mundo atualmente, mas se você perceber aqui somente uma trama sobre somo a vida se tornou descartável nos jogos de poder, o filme já valerá a pena.
Mickey 17 (EUA-Coreia do Sul / 2025) de Bong Joon Ho com Robert Pattinson, Naomie Ackie, MArk Rufallo, Toni Collette, Steven Yeun, Patsy Ferran, Holly Grainger e Angus Imrie. ☻☻☻☻
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