Hanks: mudando o olhar de Hollywood.
Embora seja mais lembrado por contemplar Tom Hanks com o primeiro Oscar de sua carreira, o longa Filadelfia foi um marco no cinemão hollywoodiano. Se hoje não vemos muitos filmes com a temática dos soropositivos, imagine no início de 1990? Acrescente a isso um astro querido no papel de um homossexual demitido por discriminação é você terá uma pequena ideia do que o filme representou ao ser lançado, indicado a cinco Oscars (Filme, direção, roteiro,ator e duas na categorias de melhor canção original - ganhou pela música de Bruce Springsteen). Claro que o prestígio conquistado pelo diretor Jonathan Demme com o sucesso oscarizado de seu filme anterior (o clássico O Silêncio dos Inocentes/1991) ajudou muito a bancar uma produção arriscada, afinal, além dos temas complicados, ainda tinha o medo da resistência da plateia diante de um filme pautado no sofrimento de seu protagonista. Andrew Beckett (Hanks) era um promissor advogado de uma prestigiada firma da cidade da Fildélfia. Aos poucos, Andrew percebe que seu organismo começa a apresentar algumas mudanças e, em meio a esses sinais de que algo está diferente em seu corpo, ele é acusado de ter cometido uma falha em um processo, o que causa a sua demissão. Embora guarde segredo, Andrew é soropositivo e suspeita que sua demissão tenha mais relação com isso do que com sua competência. Com a ajuda do advogado Joe Miller (Denzel Washington), Beckett processa a empresa, cobrando uma indenização por conta do preconceito que sofreu. Soma-se ao seu estado de saúde, o fato do personagem ser gay e os rumos desse filme de tribunal muda ao revelar as impressões dos demais personagens sobre Beckett não pelo seu mérito ou competência, mas por sua sexualidade. O próprio Miller terá que lidar com seus preconceitos, enquanto percebe que o julgamento é mais sobre sexualidades do que qualquer outra coisa. Embora criticado na época por ter feito um filme comportado em excesso (os grupos gays não se contentaram com as poucas cenas pudicas de Hanks ao lado de seu companheiro vivido por Antonio Banderas), Demme realiza aqui um dos seus melhores trabalhos, especialmente por trabalhar nas entrelinhas o olhar que a sociedade, os espectadores e a própria indústria cinematográfica da década de 1990 possuíam (ou ainda possuem?) sobre a homoafetividade. O roteiro indicado ao Oscar de Ron Nysmaner é cheio de detalhes que fazem a diferença, dos comentários maldosos, as piadinhas no trabalho, os olhares reprovadores, o distanciamento dos personagens que antes pareciam tão próximos (a cena da reunião é a mais notável), na verdade o que era para ser o julgamento por direitos violados, torna-se o julgamento do personagem por sua conduta mais íntima (ou, se virarmos a lente, o julgamento dos preconceitos mascarados na sociedade). Assim, enquanto Tom Hanks afasta o personagem do estereótipo e o torna simplesmente humano, ele muda a lente não apenas de Joe Miller, mas do espectador que não vê mais Beckett sob o peso de um rótulo, mas sob sua própria identidade.
Filadélfia (Philadelphia/EUA-1993) de Jonathan Demme com Tom Hanks, Denzel Washington, Jason Robards, Antonio Banderas e Mary Steenburgen. ☻☻☻☻
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