sexta-feira, 7 de setembro de 2018

10+ Atuações Femininas do Cinema Brasileiro

Motivado por rever o trabalho de Fernanda Torres em Eu Sei que Vou te Amar/1985, resolvi fechar o Ciclo Verde e Amarelo 2018 com dez das minhas atuações femininas favoritas do cinema brasileiro. Obviamente que muitos trabalhos marcantes ficaram de fora, mas os citados aqui são os que lembro automaticamente quando penso nas grandes performances do nosso cinema. Resolvi organizar a lista por ordem cronológica. A lista ficou assim:

 #1 Geni / Darlene Glória - Toda Nudez Será Castigada (1972)
Ainda fico assustado com a intensidade com que Darlene vive a prostituta de se envolve com  o viúvo Herculano (Paulo Porto) neste filme dirigido por Arnaldo Jabor. Darlene está magnífica no denso papel escrito por Nelson Rodrigues - e no ano de lançamento o filme teve problemas com a censura, mas ao chegar aos cinemas foi o quarto filme mais visto daquele ano. Darlene ganhou o prêmio de Melhor Atriz em  Gramado - e ainda hoje, seu trabalho provoca arrepios. Rodado em cores, a escolha da foto foi proposital (já que vi o filme pela primeira vez em uma televisão em preto e branco). 

#2 Xica da Silva / Zezé Motta - Xica da Silva (1976)
Baseado no livro de João Felício dos Santos, a história conta a versão romanceada da vida da escrava Xica da Silva e seu affair com o Comendador João Fernandes. Embora o filme de Cacá Diegues soe um pouco datado em sua estética, a atuação de Zezé Motta ainda é irresistível na pele da protagonista. Ela compõe uma personagem riquíssima, dotada de uma personalidade irônica, luminosa e não apenas sensual. Por sua atuação a cantora e atriz se consagrou como uma verdadeira estrela nacional e recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília. 

#3 Sueli / Marília Pêra - Pixote: A Lei do Mais Fraco (1980)
Marília Pêra foi celebrada por críticos nacionais e estrangeiros como a melhor atriz de 1980 pelo trabalho como Sueli, um dos fortes personagens desta realista obra de Hector Babenco. Famoso por mostrar uma dura realidade, o filme não embeleza a história sobre meninos de rua e os crimes que praticam para sobreviver. Crime, prostituição e violência se misturam na história protagonizada por um elenco de atores amadores e nomes consagrados, mas é Marília que rouba a cena em um trabalho sensível e irretocável como maior elo emocional do protagonista. 

Marcélia Cartaxo foi descoberta pela diretora Suzana Amaral numa montagem de um grupo de teatro paraibano em São Paulo. A cineasta tinha planos para uma versão do livro de Clarice Lispector no cinema e aquela jovem atriz era perfeita para encarnar a antológica personagem. Marcélia desaparece na personagem e demonstra com um simples olhar os desejos e tristezas da migrante na cidade grande. A atuação inesquecível lhe valeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Berlim e impulsionou sua carreira no cinema e na televisão. Ela tinha 22 anos quando o filme foi lançado. 

Sei que muita gente considera o trabalho de Sonia em Aquarius (2016) a sua melhor atuação, no entanto, sempre que penso na atriz eu lembro dela neste filme de Hector Babenco onde ela vive três personagens como espécie de alter-ego do personagem de Willian Hurt. Famosa por vários filmes brasileiros, Sonia encarna aqui toda a aura de diva que lhe é de direito em cenas inesquecíveis - como aquela em que aparece caracterizada como o papel título, ali, sem dizer uma palavra, ela já diz tudo. Pelo papel ela foi indicada ao Globo de Ouro de coadjuvante e partiu para carreira em Hollywood. 

#6 Vera / Ana Beatriz Nogueira - Vera (1987)
A transexualidade é um tema que sempre gera debates acalorados na sociedade, pois em 1987, a atriz Ana Beatriz Nogueira encarnou um dos personagens trans mais marcantes do nosso cinema. Ela interpretou Vera, uma ex-interna da FEBEM, transexual e poeta que foi amparada por um deputado e seguiu a vida desafiando preconceitos. Ana ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Berlim por este trabalho inspirado no livro A Queda para o Alto espécie de autobiografia poética de Anderson Herzer - morto aos vinte anos na cidade de São Paulo. Um filme ainda corajoso. 

#7 Carlota Joaquina / Marieta Severo - Carlota Joaquina (1995)
O cinema nacional estava em baixa, com poucos lançamentos e não despertava interesse do grande público (salvo em filmes de Xuxa e Os Trapalhões), foi quando a atriz Carla Camurati ousou contar a história da chegada da família real de uma forma deliciosamente cômica em atuação irrepreensível de Marieta Severo. Na pele da esposa de D. Pedro I, Marieta está perfeita e se torna a alma do filme! Seu talento ajudou a revigorar o interesse do público no cinema brasileiro e muitos críticos consideram o filme um marco na retomada por aqui. 

#8 Dora / Fernanda Montenegro - Central do Brasil (1998) 
Premiado no Festival de Berlim, o filme consagrou de vez a retomada do cinema nacional em escala mundial. Dirigido por Walter Salles, a história de Dora (Fernanda Montenegro) e do menino Josué (Vinicius Oliveira, um verdadeiro achado) comoveu muita gente. Fernanda está excepcional na construção de uma personagem cheia de nuances, que poderia cair no arquétipo fácil de vilã da história. O filme trouxe para casa o Globo de Ouro de filme estrangeiro e foi indicado ao Oscar da categoria (e merecia ter ganho). Nossa estrela ainda rompeu paradigmas sendo indicada Oscar de atriz - o que a tornou a primeira atriz latino-americana indicada por um filme em língua estrangeira. 

Andrea Beltrão expõe as entranhas emocionais do seu trabalho neste documentário de Eduardo Coutinho. Trata-se de filme riquíssimo sobre entrevista, criação, atuação, memória e muito mais. A ideia parece simples: atrizes e pessoas comuns contam diante da câmera um pouco de sua vida, não fica claro onde começa ou termina realidade e ficção. O resultado é fascinante. Colabora muito para este encantamento o trabalho das atrizes, que revelam a construção de suas personagens diante da câmera - e neste ponto, a sensibilidade de Andrea avança para além de suas intenções num trabalho magnífico. 

Filha da atriz Ângela Leal, Leandra cresceu nos bastidores do teatro e da televisão, o que tornou quase inevitável seu interesse por atuar. Leandra estreou em novelas aos oito anos na extinta TV Manchete, depois fez séries, novela e aos quinze anos protagonizou seu primeiro filme (A Ostra e o Vento/1997). Muitos outros longas vieram e ela cresceu como grande atriz diante dos nossos olhos. Em O Lobo Atrás da Porta de Fernando Coimbra, ela abandona a doçura aos poucos e encarna uma fera vingativa que se tornou uma lenda do horror urbano carioca. Na pele de Rosa, Leandra cravou de vez o nome entre os maiores nomes do nosso cinema.   

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