sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

NªTV: O Gambito da Rainha

 
Anya: prodígio do xadrez. 

Trabalhando de frente para a tela do computador quase o dia inteiro no home office, faz de acompanhar uma minissérie algo pouco atrativo. Foi por este motivo que demorei para assistir O Gambito da Rainha. Vi o primeiro episódio, mas a vista estava tão cansada que parei por ali. Só retomei esta produção da Netflix algumas semanas depois, quando o programa já havia se tornado a minissérie mais vista na história da plataforma. Criado por Scott Frank e Allan Scott (a partir do livro de Walter Tevis) e filmado com tanto requinte, a minissérie fez com que muita gente imaginasse que era baseado na história real da primeira grande enxadrista mundial, mas trata-se de uma obra de ficção. Beth Harmon nunca existiu, mas o formato da série que conta a história dela desde a infância de criança órfã até o sucesso da vida adulta segue direitinho a cartilha das biografias para construir este efeito (incluindo os personagens que entram e saem da trama sem motivos aparentes, tal e qual ocorre na vida real). Sem dúvida o grande trunfo da produção é a atuação de Anya Taylor-Joy, a jovem prodígio revelada em A Bruxa (2015) faz bonito mais uma vez e mostra seu empenho de se tornar uma das melhores atrizes de sua geração. Na pele de Beth Harmon ela sabe ser elegante, deslocada e complexa ao mesmo tempo em que transpira inteligência e astúcia. Beth aprendeu a jogar xadrez com o zelador do orfanato (Bill Camp) em que vivia e sempre esteve atenta não apenas para ser melhor do que seu oponentes, mas, principalmente, superar suas próprias limitações. Quando foi adotada pelo casal Wheatley, ela está bem longe de ser a garota convencional que esperavam, especialmente pelo seu interesse pelo xadrez. Nesta família, embora o pai (Patrick Kennedy) faça questão de ser sempre distante, aos poucos, Beth percebe em sua mãe (a diretora Marielle Heller, em um trabalho excepcional) uma forte aliada em sua escalada mundial rumo ao topo dos campeonatos de xadrez (especialmente quando a mamãe percebe o montante de dinheiro que podem receber por isso). Ambientado nos anos 1960 com reconstituição de época feita no capricho, O Gambito da Rainha por vezes recebe a áurea de novela com os dramas e interesses amorosos de sua personagem, além da pouca profundidade na abordagem do alcoolismo da personagem, mas nada que Anya não compense com seu olhar exótico e sua disposição de tornar Beth Harmon uma personagem bastante realista. Trocando temas criminais por jogos de xadrez (sempre bem conduzidos), O Gambito da Rainha ousa ao focar num pano de fundo um tanto arriscado para a maioria do público, mas acerta ao construir uma aura bastante verossímil sobre este universo tão particular. 

O Gambito da Rainha (The Queen's Gambit / EUA-2020) de Scott Frank e Allan Scott com Anya Taylor Joy, Marielle Heller, Bill Camp, Thomas Brodie-Sangster, Harry Melling, Isla Johnston, Marcin Dorocinski e Patrick Kennedy. 

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