Steve e Rose: o ego é o que mais importa.
Costumo dizer que a política mundial virou uma grande piada sem graça. Uma sucessão de encontros de megalomaníacos, egocêntricos, fake news, idolatrias e tudo mais que você possa imaginar em que o que menos importa são propostas políticas e a população. Num mundo em que eleitores buscam heróis e não políticos realmente comprometidos com a população, existem cada vez mais comédias voltadas para o quadro lamentável que estamos acompanhando. Se Adam McKay já se tornou uma referência no gênero com A Grande Aposta (2015) e Vice (2018), construindo para si uma identidade narrativa já reconhecível, chegou a vez de Jon Stewart tentar transpor seu estilo de sátiro político para a telona - o difícil é dispersar a ideia de que ele tenta imitar a eficiência de McKay o tempo inteiro (menos quando tropeça em piadas de baixaria que chegam a incomodar de tão deslocadas). Aqui ele conta uma desventura de Gary (Steve Carrell), um estrategista político que ficou marcado por aquela eleição surpreendente em 2016 nos Estados Unidos. O filme começa justamente neste período e deixa claro que já existia uma rixa entre o engravatado e a loura Faith (Rose Byrne) que só piorou com o resultado das urnas. Depois de penar naquela eleição, Gary ficou um tanto deprimido e passou a procurar um candidato que fosse capaz de fazê-lo se tornar novamente um profissional de respeito. É neste momento que ele encontra Jack Hasting (Chris Cooper), um veterano de guerra, descoberto em um vídeo da internet, que possui um discurso capaz de unir democratas e republicanos nas urnas. Sua humildade, obstinação e princípios parecem a mistura certa para Gary galgar uma carreira política que transcenda a disputa de uma prefeitura do interior. Garry tem planos ambiciosos para sua descoberta... mas Faith (e o nome não é por acaso), resolve aparecer por lá e ajudar o atual prefeito a se reeleger. Enquanto os dois candidatos tentam manter o nível da disputa, os dois apelam constantemente para a baixaria e a coisa sai um pouco dos trilhos - especialmente por Jack demonstrar cada vez mais seu desconforto em ter que fazer discursos políticos e levantar dinheiro para sua campanha. Existe um enorme contraste entre o casal protagonista com Jack, sua filha (Mackenzie Davis) e toda a população local, até que você se dá conta de que existe algo mais debaixo de toda aquele história. O roteiro também assinado por Jon Stewart é um tanto repetitivo e seus personagens batem sempre na mesma tecla a maior parte do tempo, mas a reviravolta perto do final tenta salvar tudo. A guinada é interessante, mas astuta demais para soar verossímil. Trata-se de uma crítica à política de um lado e do outro que acaba se preocupando com questões bem diferentes do bem-estar da população. Serve para passar o tempo e dar poucas risadas, além de trazer Carrell em um papel mais charmoso do que ele costuma encarnar, mas não chega a ser irresistível...
Irresistível (Irresistible/EUA - 2020) de Jon Stewart com Steve Carrell, Rose Byrne, Chris Cooper, Mackenzie Davis, Brent Sexton, Natasha Lyonne e Topher Grace. ☻☻☻
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