Um homem (Nicolas Cage) vive isolado no meio da floresta com sua porquinha de estimação e parece estar bastante a vontade com isso. Mais do que um bicho de estimação, a suína está relacionada diretamente com sua fonte de sustento, já que os dois saem para catar trufas, aquela fungo que na verdade é uma iguaria rara (e caríssima). Aquele homem solitário vende sua colheita de trudas para um rapaz (Alex Wolff) que lida com o fornecimento deste produto raro para restaurantes refinados. A relação entre os dois personagens fica por isso mesmo, já que o misterioso caçador de trufas não gosta de conversar e sabemos muito pouco sobre ele até que sua preciosa companheira seja sequestrada de forma violenta e sem maiores explicações. Começa assim a busca pelo bicho em meio a fornecedores e compradores de trufas. É preciso dizer que a trufa é um verdadeiro tesouro culinário, de forma que existe um custo altíssimo até que ela esteja pronta para ser consumida (especialmente na contratação de pessoas neste processo) e, o fato da porquinha ser tão eficiente na sua tarefa, torna-se a explicação para que ela tenha sido levada. No entanto, na busca por ela, descobrimos a história deste homem que há anos preferiu ficar isolado no meio do mato, oferecendo a Nicolas Cage a chance de desenvolver seu melhor personagem em muito tempo (ao ponto de começarem a especularem suas chances no Oscar do ano que vem). Pode parecer exagero, mas muitos críticos apontam este como sendo o melhor trabalho do ator, que faz tempo não tinha a oportunidade de desenvolver tantas camadas em um personagem. Acho que não vale dizer maiores detalhes da trama, mas é bastante curioso como o diretor Michael Sarnoski nos apresenta um mundo (incluindo seu submundo) bastante particular em que o protagonista transita com desenvoltura graças à interpretação de Cage. Embora o roteiro tenha diálogos incisivos, são nos silêncios e expressões bastante intimistas que o ator apresenta uma interpretação impressionante, com momentos de força, vulnerabilidade e desespero. Confesso que chorei em alguns momentos na busca do personagem por sua colega de trabalho, especialmente pelo laço de amizade entre os dois que se torna bastante palpável para o espectador. Acho que aqui temos o exemplo de um papel que somente Nicolas Cage poderia interpretar e dar credibilidade após sua experiência em viver personagens estranhos em todo tipo de produção. O trabalho pode até não lhe render indicações a prêmios, mas lembra ao público e produtores o grande ator que ele ainda é. Aos 57 anos, com um Oscar na estante (por Despedida em Las Vegas/1995 que abriu este #FDS) e longe de grandes produções há algum tempo, Nicolas pode usar a credibilidade que ainda lhe resta para alavancar carreiras de cineastas promissores como Michael Sarnoski (que também assina o roteiro ao lado de Vanessa Block), estreante em longa-metragem, que criou um filme aparentemente simples, mas que não teme em criar uma narrativa lenta, mas cheia de surpresas para o espectador.
Pig (EUA-2021) de Michael Sarnoski com Nicolas Cage, Alex Wolff, Adam Arkin, Julia Bray e Cassandra Violet. ☻☻☻☻
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