domingo, 18 de setembro de 2022

PL►Y: A Felicidade das Pequenas Coisas

 
Pem Zam (à frente) e sua colega: presença luminosa. 

Talvez a maior surpresa do Oscar 2022 tenha sido a indicação ao Oscar de Lunana, representante do Butão enviado à Academia e que desbancou favoritos como Um Herói de Asghar Farhadi e Compartimento nº6 da Finlândia. O melhor desta surpresa é que o Butão é um país com produção cinematográfica minúscula e com distribuição internacional menor ainda (levanta a mão quem já assistiu a um filme do país), sendo assim, não é difícil imaginar que esta é a primeira produção butanesa a ser indicada ao Oscar de filme estrangeiro, o que cumpre uma função cultural importante que a Academia hollywoodiana toma para si: dar destaque a obras que dificilmente conheceríamos sem a projeção que seus holofotes oferecem.  O Butão é um país que fica entre as montanhas da Índia e da China, sua extensão territorial é menor do que alguns estados brasileiros e sua população é inferior a de algumas cidades tupiniquins. Nem vou entrar nos méritos que Lunana é superior ou inferior aos seus oponentes que ficaram de fora, o mais interessante é entender como a produção cravou o número de votantes suficientes para figurar entre os cinco finalistas na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. O que considero mais importante é a ideia do apelo universal que a história possui, afinal, retrata um jovem butanês (Sherab Dorji) que ama música e quer ir para a Austrália se tornar um cantor famoso, mas, enquanto a oportunidade não chega, ele leciona em uma escola butanesa sem a mínima vontade. Ele está tão desanimado com o ofício de professor que decide largar o contrato obrigatório antes do término (o contratato é obrigatório no país e sua desistência beira uma ofensa na região), assim ele recebe uma espécie de castigo ao ser enviado para Lunana, a escola mais afastada do Butão e, talvez, a com maior dificuldade de acesso do mundo. Ao ver o trajeto do professor até chegar lá (uma longa jornada por vales, montanhas e rios ao longo de oito dias) descobrimos o motivo de outros professores não irem para lá. O fato é que o professor é um jovem antenado que vide na capital do seu país e o contraste com aquela comunidade rural isolada nas montanhas parece dificultar ainda mais as coisas para o seu lado, ou pelo menos até que ele passe a se encantar com as crianças da região que percebem nele a oportunidade de aprender e ele nota a possibilidade de fazer a diferença na vida delas (especialmente a luminosa Pem Zam, uma das crianças mais graciosas que já apareceram diante de uma câmera). Ele começa a ter contato com as moradores mais velhos da região e com canções antigas da localidade, fazendo com que seu olhar mude sobre tudo o que está ao seu redor. No entanto, a ideia de conquistar fama em outro país permanece e rende aquelas cenas de partir o coração, especialmente aquela última que demonstra como toda aquela vivência mudou suas perspectivas mais do que ele imaginava. Feito para abalar os corações mais céticos do universo, não é por acaso que o filme recebeu no Brasil o título de A Felicidade das Pequenas Coisas, nome que embora genérico, abraça bem a ideia do filme sobre sua identidade, seus sonhos e das lembranças nos momentos em que nos sentimos deslocados no mundo. O Oscar pode não ter ido para o Butão, mas fica a lição de como fazer um filme simples e emocionante para plateias mundiais. 

A Felicidade das Pequenas Coisas (Lunana / Butão - 2021) de Pawo Choyning Dorji com Sherab Dorji, Ugyen Norbu Lhendup,  Kelden Lhamo Gurung e Pem Zam. ☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário