segunda-feira, 26 de setembro de 2022

KLÁSSIQO: O Quarto do Filho

Moretti (à direita): Família feliz antes da tragédia.

No Festival de Cannes em 2001 concorriam à Palma de Ouro filmes que se tornaram icônicos, estavam lá Cidade dos Sonhos de David Lynch, O Homem que Não Estava Lá dos Irmãos Coen, Moulin Rouge de Baz Luhrman, A Professora de Piano de Michael Haneke e até Shrek tinha chances ao subverter o que conhecemos como contos de fada. Eis que quando a Palma de Ouro foi anunciada, a surpresa foi geral com o italiano O Quarto do Filho de Nanni Moretti levando para casa o prêmio máximo do Festival. Comparado aos demais concorrentes é até compreensível que o filme tenha tocado os votantes com sua história simples sobre um recorte doloroso na vida de seus personagens. Moretti sempre foi conhecido pelo seu senso de humor, mas aqui ele faz um drama pesado de uma família que por conta de um acidente, perde seu filho adolescente - e não há o que fazer a não ser acostumar-se com a devastadora ideia de que aquela amada pessoa se foi. Para sempre. Moretti deixa claro desde o início que seu filme trata de pessoas comuns, que trabalham, vão à escola e escutam reclamações por conta do mal comportamento do filho. A diferença está quando esta normalidade é rompida sem piedade pelo destino (e um dos melhores momentos do filme é quando compõe este anúncio da tragédia, com uma série de acontecimentos triviais que poderiam ter consequências diferentes, um caminhão que passa, um esbarrão na rua...). O Quarto do Filho é sobretudo sobre o luto e a necessidade de neste período complicado encontrar forças para continuar. A forma como cada um dos personagens encara este momento difícil é um diferencial do filme, enquanto a mãe fica devastada, a filha tenta seguir a vida e o pai tenta manter a calma, o que vemos são pedaços de uma família que precisam se reconectar para prosseguir. É verdade que o maior destaque fica por conta do pai psicólogo que passa boa parte do filme ouvindo os problemas das outras pessoas e agora não consegue lidar com os seus. Existe uma verdadeira crise instaurada no personagem que permanece até perto do final, quando uma nova personagem surge e cria a possibilidade de perceber que a vida continua em seus mecanismos imperceptíveis. O filme fica a maior parte do tempo buscando seu momento de catarse, mas ele nunca chega (o que mais se aproxima é aquele paciente vivido pelo estupendo Stefano Accorsi que surta no consultório do protagonista e temos a impressão que o pai gostaria de fazer a mesma coisa), não por acaso o filme termina diante de uma estrada, uma alusão à vida que permanece para os que ficam. 

O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio/Itália - 2001) de Nanni Moretti com Nanni Moretti, Giuseppe Sanfelice, Laura Morante, Jasmine Trinca, Stefano Accorsi e Sofia Vigliar. ☻☻

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