sábado, 24 de setembro de 2022

PL►Y: Boa Noite, Mamãe

 
Cameron, Naomi e Nicholas: arrepios em família. 

Sei que muita gente torce o nariz para a minha resenha do filme austríaco Boa Noite, Mamãe (2014), relendo hoje acho que realmente fui muito severo com os problemas que identifiquei na execução do filme, especialmente em sua conclusão. Achei engraçado que os aspectos que não curti parecem ter sido os mesmos que os envolvidos  (incluindo a dupla de diretores do original Veronika Franz e Severin Fiala que assinam como produtores) nesta refilmagem também não gostaram e resolveram aparar algumas arestas. É verdade que o fato do filme ser uma refilmagem faz com que pague o alto preço da originalidade, mas, embora tenha assistido o original já a algum tempo, percebi algumas diferenças que alteram bastante o meu estado de espírito quando chegamos ao final. Nem vou calcar minha escrita na grande surpresa do filme que parece ter sido jogada fora por M. Night Shyamalan, a graça mesmo (para quem conhece o filme original) é ver como o filme consegue driblar a percepção do espectador enquanto segura a narrativa por uma hora e meia. Existe aqui, tal e qual no original, um jogo de ilusionismo onde o verdadeiro segredo do filme está ali diante dos nossos olhos o tempo inteiro, mas o roteiro teima em sugerir que existe outro muito mais perigoso diante dos personagens. A ideia aqui é a mesma: dois meninos (Cameron e Nicholas Crovetti) vão passar um tempo com a mãe (vivida agora pela grande Naomi Watts) que acaba de passar por uma cirurgia no rosto. Ela vive com o rosto coberto para evitar complicações e, devido a algumas situações, as crianças começam a desconfiar que aquela mulher não é quem diz ser. Seria uma sequestradora? Uma impostora? Uma intrusa? Uma alienígena invasora de corpos? As suspeitas nutre a tensão que só cresce até que o desfecho chega. Esta versão americana dirigida por Matt Sober tem um tom menos sinistro que o original, mas consegue atribuir novos elementos na história para deixar tudo mais redondinho. Explora a figura paterna (ainda que pouco), oferece uma história para a mãe para além daquele momento de reclusão e oferece pistas do que está realmente está acontecendo de forma a confundir ainda mais o que está aparente e o que está escondido. Temos a ideia de uma estrela em decadência, do medo do envelhecimento, da solidão, do ostracismo, o fantasma do divórcio... a protagonista ganha novas nuances que torna sua angústia ainda mais rica e palpável do que a presente no original - que era muito mais dependente do olhar dos filhos. No entanto, a grande diferença está mesmo no final, que é mais agridoce, sofrido e até mais arrepiante que o original. A ideia da mãe atormentada com cicatrizes expostas ainda funciona bem para os dias amargos vividos por aquela família e Naomi Watts tem seu melhor trabalho em muito tempo (especialmente quando precisa expressar todas as suas emoções apenas com os olhos), mas ela também está muito bem acompanhada pelos gêmeos Cameron e Nicholas Crovetti (que já demonstraram talento na série Big Little Lies/2017). Sei que muitos irão me tacar pedra, mas achei o filme melhor executado que sua fonte inspiradora. 

Boa Noite, Mamãe (Good Night, Mommy / EUA - 2022) de Matt Sober com Naomi Watts, Nicholas Crovetti, Cameron Crovetti, Peter Hermann, Jeremy Bobb e Crystal Lucas-Perry. ☻☻

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