Andrew e Paul: de amor e fantasmas. |
Adam (Andrew Scott) é um escritor que foi morar em um prédio recém inaugurado. Um dia, quando soa o alarme de incêndio, ele vai até a calçada sem muita empolgação. Olhando para o prédio, ele descobre que não é o único morador daquele lugar. Mais tarde ele irá conhecer o vizinho, Harry (Paul Mescal), que bate à sua porta e demonstra um interesse genuíno pelo vizinho, mas Adam não se empolga muito. Pelo menos no primeiro encontro. Desde a primeira cena em que estão juntos, percebemos que os dois são almas solitárias e que podem ser a companhia mais agradável de um para o outro. Poderia ser mais um romance gay urbano idealizado pelo diretor Andrew Haigh, da série Looking (2014-2025) e Weekend/2011, mas um dia em suas andanças pela cidade, Adam é guiado para casa em que viveu com seus pais até os onze anos. O pai (Jamie Bell) e a mãe (Claire Foy) não aparecem envelhecidos, mas com a mesma aparência de quando o filho ainda era um menino, antes do acidente iria leva-los embora para sempre, ou pelo menos, até aquele encontro inusitado. No celebrado 45 Anos (2015), Haigh já demonstrava saber lidar com histórias de fantasmas na mente de seus personagens, mas aqui ele eleva esta habilidade a outro patamar. O diretor não gasta tempo explicando o que está acontecendo, faz com o que o espectador escolha a melhor leitura para o que observa na tela. Estaria Adam delirando? Estaria vendo realmente os fantasmas de seus pais? Estaria criando um novo roteiro? As questões acabam ficando em segundo plano na narrativa, já que aqueles encontros servirão para que o protagonista conte aos seus pais sobre sua sexualidade e tenha que lidar com suas reações. A ideia de sair do armário, leva o personagem a confrontar a forma como ele mesmo lida com sua vida, inserindo momentos que até aquele momento ele não precisou lidar perante a ausência dos pais em sua vida adulta. A trama é baseada no livro Strangers de Taichi Yamada e Haigh enriquece a trama ainda mais ao inserir o tema da sexualidade em sua adaptação. Andrew Scott está (mais uma vez) ótimo em cena como um personagem que não demonstra certeza do que está acontecendo em cena, seja nos encontros com os pais ou em sua aproximação com o novo parceiro. Pelo papel, Scott foi indicado ao Globo de Ouro e Gotham Awards e tinha até chances de indicação ao Oscar. Paul Mescal foi lembrado como coadjuvante no BAFTA, assim como Claire Foy. Todas as indicações foram merecidas, já que o elenco está ótimo em cena e transforma o filme numa jornada emocional bastante sensível. Tudo vai muito bem até o final, que deixa um tom amargo e algumas dúvidas na mente do espectador. Ainda assim, a forma poética como diretor entrega a última cena nos faz até relevar (um pouco) que ele perdeu a chance de fazer um drama romântico perfeito. Faltou ousadia para fazer um final feliz. O filme está disponível no STAR+.
Todos Nós Desconhecidos (All of Us Strangers / Reino Unido - EUA / 2023) de Andrew Haigh com Andrew Scott, Paul Mescal, Claire Foy e Jamie Bell. ☻☻☻☻
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