domingo, 26 de maio de 2024

#FDS Palma de Ouro: Paris,Texas

Natassja e Stanton: a erraticidade da vida. 
 
Para encerrar o #FinalDeSemana dedicado a filmes ganhadores da Palma de Ouro aqui no blog, escolhi um dos premiados mais queridos de suas setenta e sete edições. Paris, Texas é apontado em várias listas como um dos melhores filmes a levarem a Palma de Ouro para a casa, assinado pelo alemão Win Wenders, o filme se tornou uma de suas mais aclamadas experiências em Hollywood. Colabora muito para isso seu olhar estrangeiro em uma trama que transborda referências aos filmes de velho oeste em uma história mais contemporânea. Escrito por Sam Shepard, o filme traz elementos típicos da filmagem de um western (a trilha sonora, os planos abertos, a concepção dos personagens) para os anos 1980, época em que os dramas familiares estavam em alta no cinema dos Estados Unidos. Assim, a produção articula a abordagem de uma trama intimista com uma certa grandiloquência dos clássicos de John Ford. O título é referente à um pequeno vilarejo que o protagonista, Travis (Harry Dean Stanton) acredita ser o lugar ideal para viver com sua bela esposa, Jane (Natassja Kinski) e o bebê que tiveram juntos. No entanto, o relacionamento entre o casal enfrentou problemas e Travis ganhou o mundo em uma jornada que ninguém entendeu muito bem, inclusive ele. Anos depois, Travis vai em busca de seus irmão, Walt (Dean Stockwell) que passou a cuidar do pequeno Hunter (Hunter Carson), após a mãe do menino também buscar outros caminhos. Quando Travis retorna, a família sente-se insegura com os rumos que irá tomar, sobretudo quando o reaparecido demonstra a vontade de reencontrar a esposa. A maior parte do filme se concentra na forma como o dissonante Travis se aproxima novamente da família, se o irmão e a cunhada não entendem muito bem o que se passa na cabeça dele, aos poucos ele consegue se aproximar mais do filho, sobretudo quando os dois partem para encontrar o paradeiro da esposa desaparecida com base em uma pista. Paris, Texas se desenvolve como um road movie familiar com toques bastante emocionais, embalada com a magnífica trilha sonora de Ry Cooder com base em uma guitarra melancólica e o uso de cores vibrantes da fotografia de Robby Müller. No entanto, acho que nada prepara  o espectador para o reencontro do casal em um ambiente que só ressalta o distanciamento entre os dois personagens, assim como o jeito desajeitado como a ideia de um sonho americano de desmontou. O final deixa aquela sensação do cowboy que cumpriu sua missão, mas que segue sua jornada pessoal banhado na sensação de incerteza sobre os caminhos que deve seguir. Não por acaso o desfecho deixa aquela sensação de final em aberto que pode incomodar muita gente. Naquele ano outros filmes que concorriam ao prêmio foram O Elemento de um Crime de Lars Von Trier, Henry V de Marco Bellochio, Quilombo de Cacá Diegues e, ironicamente, À Sombra do Vulcão de John Huston. 

Paris, Texas (Alemanha Oriental - Reino Unido - França - EUA/1984) de Win Wenders com Harry Dean Stanton, Natassja Kinski, Hunter Carson, Dean Stockwell e Aurore Clément.

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