Ewan: como causar sono na plateia.
Uma das minhas resoluções quando retomei as atividades aqui no blog foi que não perderia tempo escrevendo sobre filme que não valem a pena (eu me prometo isso várias vezes desde que comecei os trabalhos por aqui em 2010, mas vivo tendo recaídas). Como sei que não cumprirei a promessa, irei abrir raríssimas exceções para aqueles filmes que merecem comentários, nem que eles sejam ruins. Um deles é Doutor Sono, uma das obras mais decepcionantes que já assisti na vida! Na época que o filme estreou nos cinemas eu estava doido para assistir, afinal, era a história que acompanhava o menino de O Iluminado(1980) na fase adulta. Pois é, o protagonista é aquele garotinho que conversava com o dedo, andava de velocípede por um hotel mal assombrado, tinha visões com gêmeas macabras e via o pai pirar até perseguir a família com um machado. Confesso que nunca li o livro de Stephen King e que a lembrança que tenho da história é do clássico de Stanley Kubrick. Obviamente que é covardia comparar o trabalho de qualquer cineasta com o genial Kubrick. Basta perceber que O Iluminado está bem longe de ter a estética dos filmes de terror tradicionais. Sua atmosfera é mais sugestiva, sua fotografia é banhada de luz e a história acontece quase nas entrelinhas do relacionamento daquela família. É famosa a história que Stephen King odeia a versão que Kubrick deu para o filme, principalmente por ter mudado vários elementos a despeito do que o escritor achasse. Ironicamente, o filme se tornou um clássico e uma das adaptações mais elogiadas da obra. Retomar esta relação complicada entre filme e livro faz parte dos desafios desta continuação que fica pelo meio do caminho. Porém, o maior problema não é este, mas a verdadeira confusão que seu roteiro se transformou. Não se pode resgatar um personagem do quilate de Danny Torrance e transforma-lo em um quarentão perdido para ser mero coadjuvante. Quando escolheram Ewan McGregor, eu pensava até que ele estaria presente nas premiações de fim de ano... mas infelizmente seu icônico personagem é subaproveitado numa trama esquisita sobre pessoas que aspiram a alma de crianças. Dá até tristeza imaginando todo o potencial que a vida de Danny após aquele incidente poderia gerar na trama, mas o filme acha que coloca-lo em ambientes decadentes e colocar meia dúzia de cenas com referência ao seu passado já basta para entendermos sua complexidade. Ao invés de ser Doutor Sono, o filme deveria se chamar A Mulher da Cartola, provavelmente ele faria menos sucesso, mas seria mais honesto com as pessoas que pagaram ingresso para ver esta enganação. A tal Mulher da Cartola (Rebecca Ferguson tirando leite de pedra) é a pessoa que lidera o grupo que suga alma de crianças e não faz muito coisa além disso mesmo. Lá pelas tantas aparece uma garotinha na história e Danny tem menos importância ainda na história. Para tentar dar um jeito na propaganda enganosa, o filme leva Ewan para o hotel onde tudo começou e a batalha final acontece por lá. Com duas horas e meia de duração e décadas de espera, a plateia e o personagem do título mereciam maior consideração. O pior é que até a direção de Mike Flanagan (da série A Maldição da Residência Hill/2018), que já fez uma adaptação muito melhor de Stephen King em Jogo Perigoso/2017) me deixou esperançoso com este filme, mas o resultado é uma grande perda de tempo. Reveja O Iluminado e crie uma fan-fic sobre o menino crescido, com certeza será mais interessante.
Doutor Sono (Doctor Sleep/EUA-2019) de Mike Flanagan com Ewan McGregor, Rebecca Ferguson, Kyliegh Curran e Carl Lumbly. #
Nenhum comentário:
Postar um comentário