Max encara seu monstro externalizado: Jonze explica.
Nem só de bichinhos fofos viveu as adaptações de obras infantis em 2009, Spike Jonze resolveu levar para as telas o livro Onde Vivem os Monstros de Maurice Sendak no mesmo ano, bem... mais ou menos. O projeto demorou anos para ser concluído devido a alguns problemas na produção, o estúdio achou a primeiro copião do filme muito sombria e pediu para que algumas cenas fossem refeitas. Depois ainda havia o empecilho das fantasias de monstros usadas por atores (entre eles, James Gandolfini e Paul Dano) que eram muito quentes e alguns chegavam a passar mal ali dentro. Jonze ouviu várias críticas por resolver utilizar atores no lugar de efeitos digitais para encarnar os monstrinhos e houve quem dissesse que ter optado por uma animação seria o mais correto, o fato é que o filme estreou e apesar de não ter se tornado um sucesso de bilheteria (apesar de ter sido o mais visto em sua semana de estréia) agradou os críticos e apareceu em várias listas de produções mais interessantes de 2009. É visível desde a primeira cena que o diretor não quis fazer um filme infantil, mas um filme sobre a infância, algo que conseguisse despertar a nostalgia dos adultos e que tocasse na espinha dorsal da trama de Sendak: o momento em que aprendemos a dominar nossos monstros internos e começamos a nos preparar para a vida adulta. O filme conta a história de Max (o bom Max Records) um menino que tenta lidar com o namorado de sua mãe (Catherine Keener) e com o crescimento de sua irmã – que não se dedica mais às brincadeiras. Depois de um momento malcriado ele acaba fugindo de casa e encontrando uma ilha habitada por monstros que gostam de se agredir, mas diante de alguma hostilidade, Max é eleito o rei do pedaço – mas sem antes perceber que a coroa se encontrava ao lado de um monte de ossinhos do rei anterior. Max aos poucos terá de lidar com a agressividade de seus súditos, assim como o ciúme, a inveja, o orgulho e outros sentimentos pouco nobres que os monstrengos demonstram sem a menor cerimônia. No fim Max vai descobrir que seus monstros podem devorá-lo. Pois é, a abordagem de Jonze é bem mais melancólica do que o livro de poucos parágrafos de Sendak supunham (e deve ter dado um trabalhão na confecção do roteiro por tentar explicar o que no livro não precisa de explicação) mas tem qualidades - e talvez a maior delas, pulse na trilha sonora (indicada ao Globo de Ouro) de Karen O. (do Yeah Yeah Yeahs!) que resgata cantigas de roda ao lado de um grupo de crianças. Depois de nos fazer penetrar na mente de (Quero Ser) John Malkovich (1999) e esmiuçar o processo criativo em Adaptação (2002), Jonze lembrou dos monstros internos que ameaçam nossa relação com o mundo.
Onde vivem os monstros (Where the wild things are/EUA-2009) de Spike Jonze, com Max Records, Catherine Keneer, James Gandolfini, Paul Dano e Mark Ruffalo. ☻☻☻
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