Só me dei conta que era primeiro de abril quando um amigo havia dito que meu DVD de Réquiem para Um Sonho fora vitimado por seu aparelho que se rebelou (talvez chocado com o filme) e queimou com cabos, tomadas e disco! Acho que meu amigo ficou com tanta pena de minha reação que me lembrou que era o dia da mentira! E meu DVD estava intacto... Em homenagem a este dia patético preparei uma listinha com os meus mentirosos favoritos do cinema.
5 O Mentiroso (1997) é Fletche Reedee (Jim Carrey), advogado que sabe disstorcer as palavras ao ponto do inocente parecer culpado e o culpado se tornar a criatura mais pura da face da terra. Mulherengo e arrogante seu lado humano aparece de vez em quando ao se encontrar com o filho, fruto de um casamento já terminado. Quando papai Reedee não vai ao aniversário de seu filhote ele nem sabe que o ingênuo pedido de seu filho irá comprometer sua carreira. O moleque pede para que o papai não minta mais. Deste ponto em diante, Fletcher não consegue mais segurar seus comentários, desde os mais sinceros, indelicados ou cretinos. Uma ideia tão bacana que foi copiada recentemente por Ricky Gervais no agressivo A Invenção da Mentira, Gervais nem se havia dado conta que parte do sucesso deste filme do careteiro Carrey é devido à carga sentimental que aparece no roteiro. Menos que um filme sobre a mentira, trata-se de um filme sobre a verdade.
4 O Talentoso Ripley (1999) Único vilão declarado da lista, Tom Ripley foi uma criação da escritora Patricia Higsmith, que recebeu outras versões para o cinema, mas nenhuma tão polêmica quanto esta dirigida por Anthony Minghella. Ripley (Matt Damon numa interpretação tão convincente que quase acabou com sua carreira) é um rapaz pobre que ao ser confundido com o aluno de uma escola para grã-finos vê a chance de mudar de vida. Ripley recebe a missão de convencer o rico Dickie Greenleaf (Jude Law, indicado ao Oscar de coadjuvante) a voltar para a América. Tarefa que seria muito simples se Tom não quisesse ser Dickie - ao ponto de cometer assassinatos e outros crimes. A grande diferença desta versão de Ripley são as conotações homossexuais impressas no roteiro belamente escrito por Minghella, onde o autor sobrepõe duas fontes de preconceito das quais o protagonista foge: ser pobre e ser gay. Ainda no elenco estão Gwyneth Paltrow, Cate Blanchett e Phillip Seymour Hoffman.
3 O Casamento de Muriel (1994) Minha mentirosa favorita é a australiana Muriel Heslop (Toni Collete, a loura da foto, no papel que a revelou para o mundo). Gorda, cafona e desajeitada, a filha de um político mal humorado precisa levantar sua auto-estima. Ela pensa que somente um casamento poderá salvá-la da vida sem graça ao lado de sua família. Ao reencontrar Rachel (a não menos estupenda Rachel Grifiths) uma colega de escola, Muriel verá que a vida tem muito mais a oferecer do que a promessa de casamento com um galã. Até aí nada demais, mas para fugir para Sidney e recomeçar, Muriel terá que inventar uma série de mentiras (ao ponto de roubar até dinheiro de sua família, fingir que irá se casar para experimentar vestidos de noiva pela cidade e mentir para que um atleta ganhe o greencard). No fim das contas ela irá descobrir que o melhor casamento que deve ter é consigo mesma (e com muita música do ABBA!).
2 O Desinformante (2009) Ninguém entende de contar mentiras num filme como Matt Damon, não importa se é um mentiroso dramático ou cômico! Ele emplaca outro mentiroso na lista, conseguindo a medalha de prata pelo filme estapafúrdio (baseado numa história real, claro) dirigido por Steven Soderbergh. Baseado no livro de Kurt Eichenwald, o filme conta a história de Mike Whitacre que se torna informante do FBI sobre um provável caso de formação de cartel para o preso de lisina. O problema é que as investigações apontam que Whitacre era o sujeito mais perigoso com que lidavam, estando metido em fraudes, desvio de dinheiro e até mentiras sobre sua vida familiar. Apesar do roteiro confuso, Matt Damon arranca risadas e assusta com sua atuação sobre o mentiroso compulsivo mais famoso da história dos EUA. Repare na minuciosa reconstituição de época (que contamina até os créditos e a fotografia) e na irônica trilha sonora. No fim das contas, Whitacre acabou sendo preso, solto e se tornou presidente de uma empresa!!!
1 Adeus, Lenin! (2003) O filme alemão mais adorável de todos os tempos (e de maior sucesso no Brasil) gira em torno de uma nobre mentira de proporções inimagináveis. Alex (o ótimo Daniel Brühl) é filho de uma professora comunista roxa (Kathrin Sass) da alemanha oriental. Um dia ao vê-lo apanhar numa manifestação ela acaba entrando em coma. A senhora ficará assim por um bom tempo, sem presenciar a queda do muro de Berlim. Enquanto o mundo alemão se transforma com a unificação e a rotina de uma sociedade capitalista, a matriarca repousa até o dia em que acorda. Prevenido de que a mãe não pode sofrer grandes emoções, Alex acaba criando uma mentirinha de que tudo no país continua como antes - inclusive o muro de Berlim permanece intacto. O problema é que esta mentirinha inocente se amplia para alunos, vizinhos, programas de TV e até a Coca Cola! Brilhante trabalho de Wolfgang Becker que fez sucesso em todo mundo com a visão carinhosa de um mundo feito de utopias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário