Jamie Bell: um dandi armado e pacifista.
O filme é de 2005, mas somente neste ano me deparei com Querida Wendy, que logo me chamou atenção pelos seus créditos. O elenco é encabeçado por Jamie Bell (o eterno Billy Elliot, que continua crescendo como ator) e conta ainda com outros queridinhos indies (Bill Pulman, Alison Pill e Mark Webber), mas o que conta pontos mesmo é o roteiro escrito por Lars Von Trier e a direção assinada por Thomas Vinterberg. Acho que já disse que sou fã de Trier, já de Thomas nem tanto - já que todo crédito alcançado com Festa de Família (1998) o cara jogou no lixo com O Dogma do Amor (2003). Os dois cineastas dinamarqueses foram alguns dos fundadores daquele movimento Dogma95 que proibia a utilização de luz artificial, trilha sonora, efeitos especiais e outros truques. O filme até que funciona bem, o problema é quando uma velhinha resolve visitar sua prima e o filme sucumbe a uma série de situações improváveis, dignas de quando Trier perde as estribeiras. A Wendy do título é uma arma comprada por engano por um jovem pacifista chamado Dick (Bell). Ele pensava que era uma arma de brinquedo, a qual daria para o neto de sua babá. Diante da situação ele tenta devolver a arma, mas não podendo receber o dinheiro de volta acaba ficando com ela. Dick é um solitário e fica mais ainda quando o pai morre e tem que se virar sozinho, mas desde o início de seu relacionamento com Wendy sente-se mais seguro. Não vai demorar muito para que Dick funde um grupo de jovens deslocados da cidadezinha para cultuar armas de forma pacifista (!?) - ou seja, estudam suas características, poder de destruição, as batizam com nomes de pessoas e praticam tiro ao alvo frequententemente. Este clube, o qual chamam de Clube dos Dandis, parece formar cavalheiros de algum faroeste teen surreal. Todos do grupo dão adeus aos seus problemas de auto-estima quando começam a portar armas de fogo. Não precisa ser muito esperto que existe algo de doentio na relação desses jovens com suas armas, desde a atribuição dos nomes ou de características humanas (que causa identificação das mesmas com seus donos). O que era uma brincadeira fica cada vez mais estranho. Com a chegada de Sebastian (o tal neto da babá) a estrutura do grupo se abala e o ciúme começa a aparecer (afinal Dick parece gostar tanto da única menina do grupo quanto de sua arma de estimação). Até este ponto tudo bem, os excessos parecem contruir uma fábula atemporal sobre a perda da inocência, a paixão por armas ou a falsa sensação de segurança que provoca, mas quando o grupo resolve ajudar uma velhinha a atravessar a praça central da cidade o filme descamba para um estapafúrdio conflito com a polícia local. Todo mundo que conhece Trier sabe que ele adora apontar para as feridas estadunidenses, mas seu olhar crítico muitas vezes é ingênuo demais. Basta ver a paranóia dos adultos do filme sempre com medo de uma gangue saquear algo no meio de uma cidade perdida no mapa. Ao mesmo tempo o crime cometido pela velhinha em praça pública não consegue ser menos do que gratuito e desnecessário para uma trama que descamba para um faroeste adolescente. Essa face teen da trama é ainda temperada pela excessiva utilização das músicas da banda Zombies e dos recursos narrativos moderninhos que vinterberg utiliza na trama. Apesar das referências às obras de Trier (a cidade lembra muito Dogville e a ideia do racismo de Manderlay aparece quando o único jovem com ficha na polícia é negro) o filme passa de crítica inteligente ao belicismo para um desfecho em que deixa de tratar seus personagens como pessoas e os tranforma em alvos ambulantes. Mas talvez o uso de armas reduza tudo a isso mesmo.
Querida Wendy (Dear Wendy/Dinamarca-EUA/2005) de Thomas Vinterberg, com Jamie Bell, Bill Pulman, Mark Webber, Alison Pill, Chris Owen, Michael Angarano e Danso Gordon. ☻☻
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