Ellen Page: atuação merecidamente indicada ao Oscar.
Depois do saudável cinismo de Obrigado por Fumar (2005), Jason Reitman resolveu levar para as telas o roteiro de uma estreante com o estranho nome de Diablo Cody. Antes do filme estrear sua fama de ex-striper já corria por Hollywood e sua figura com ares de pin up aposentada impressionava sempre que aparecia. O mais bacana é que ao estrear, Juno parecia ter uma espécie de vida própria. Estava além do humor que seu diretor utilizara anteriormente e com camadas mais interessantes do que qualquer pré-conceito com relação à sua autora poderia supor. O filme foi um sucesso porque somou-se um talento que não deixou de ser uma surpresa para os desavisados: Ellen Page. O currículo da atriz era modesto até então - fizera uma participação especial em X-Men: O Confronto Final (2006), justamente quando a personagem Lince Negra recebeu destaque na trama e depois foi a garotinha nada inocente de MeninaMá.com (2005). Foi no papel de Juno MacGuff que Ellen teve a chance de mostrar sua habilidade histriônica recitando o texto palavroso e elaborado com a tranquilidade de quem saboreia jujubas. Ela interpreta uma adolescente de dezesseis anos que engravidou do namorado, Paulie (Michael Cera, inaugurando o tipo que o persegue até hoje). O relacionamento dos dois anda meio esquisito, já que antes de amadurecê-lo acabaram pulando algumas etapas e não possuem muita segurança sobre o que um sente pelo outro. Ao invés de criar uma trama onde a garotinha ingênua é seduzida por um garanhão, o filme segue por um caminho totalmente diferente. Paulie é visivelmente mais inocente do que Juno, que parece ter respostas para tudo e fala como se fosse uma metralhadora de palavras. Depois de desistir de fazer um aborto (vale lembrar que a prática é legalizada nos EUA) por descobrir que seu bebê já tinha unhas (?!), a mocinha resolve dar o bebê para a adoção. Assim acaba conhecendo o casal Mark (Jason Bateman) e Vanessa (Jennifer Garner). Enquanto Juno convive com o casal, a plateia pode perceber como existe uma semelhança entre Vanessa e Mark com Juno e Paulie. Ambos os casais, apesar de todo afeto que existe entre eles, são formados por mulheres que são incapazes de oxigenar as aspirações de seus parceiros. Sorte que o filme não opta por pintá-las como vilãs, mas como pessoas comuns que apenas procuram os melhores caminhos para satisfazer seus desejos. Outro destaque da trama é o casal formado pelo pai da protagonista (vivido com grande inspiração por J.K. Simmons) e a madrasta dela (Alisson Janney, sempre ótima), que percebem toda aquela situação como a mais séria travessura da adolescente. Apesar de todo empenho do elenco, do visual multicolorido, da excepcional trilha sonora, o melhor da sessão é o cuidado com que Diablo Cody trata seus diálogos (devidamente valorizados pelo carinho com que Jason Reitman filma seus personagens). Sem julgar seus protagonistas e construindo momentos legitimamente comoventes (como a discussão de Paulie e Juno no corredor da escola ou o momento em que papai MacGuff insinua que é o homem que realmente a ama), Juno é um raro caso de filme pop protagonizado por adolescentes capaz de agradar pessoas de todas as idades - isso porque, acima de tudo, seus personagens parecem gente de verdade como aqueles que damos bom dia assim que vamos da casa para o trabalho. O filme foi indicado a quatro Oscars: filme, atriz, direção e (levou somente o de) roteiro original.
Juno (EUA-2007) de Jason Reitman com Ellen Page, Michael Cera, J.K. Simmons, Jennifer Garner, Jason Bateman, Alison Janney, Olivia Thirlby e Rainn Wilson. ☻☻☻☻