Wright e Moss: romance, boas atuações e mistérios.
Jane Campion faz parte do seleto clube de diretoras respeitadas mundialmente, mesmo que seus filmes mais recentes não tenham criado grande comoção entre público e crítica (Em Carne Viva/2003 e Brilho de Uma Paixão/2009), seus trabalhos são marcados por personagens femininas fortes defendidas por atrizes mais do que competentes. Embora sua obra-prima continue sendo O Piano (1993), seu trabalho na série Top Of The Lake (ao lado do roteirista Gerard Lee) promete ficar entre seus melhores momentos de inspiração. Em entrevistas, Campion deixou claro que rendeu-se à TV por ter percebido que havia produtores interessados em se arriscar em histórias originais que, na grande maioria das vezes, espanta os produtores de cinema. Da mesma forma, foi categórica em afirmar que Top of The Lake é um filme com seis horas de duração, só que distribuída em sete capítulos. O Canal HBO/MAX está exibindo os capítulos no Brasil semanalmente e o quarto episódio irá ao ar nesta quarta às 22h, logo após a exibição dos três anteriores. A trama é ambientada numa pequena cidade da Nova Zelândia, onde uma menina é vista tentando o suicídio num lago da montanhosa região. O caso chama ainda mais atenção quando se descobre que a menina de doze anos está grávida. Esse fato chama atenção da detetive Robin Griffin (Elizabeth Moss), especialista em caso de abusos de crianças. Griffin suspeita de todos os homens da região, especialmente do pai da garota, Matt (Peter Mullan), que junto a dois filhos controla o tráfico de drogas da região. As coisas complicam mais quando a menina desaparece e Robin terá que encontrá-la com a ajuda do detetive local, Al Parker (David Wenham) - que ao contrário dela, parece estar mais interessado em manter alguns segredos da cidade intocados. Paralelo a isso, acompanhamos alguns dramas de Robin: os conflitos com o casamento que se aproxima (e o distanciamento do noivo), uma recaída por um amor de adolescência, Johnno (Thomas M. Wright), além do câncer que devora sua mãe. Para dar conta de tantos artifícios, o talento de Elizabeth Moss é um porto bastante seguro. Famosa pelas seis temporadas da série Mad Men - e boa atriz desde os tempos em que fazia participações pequenas em filmes como Garota, Interrompida/1999, Moss consegue traduzir todas as emoções de sua personagem sem esforço aparente. Cada gesto, olhar e suspíro são precisos na construção da personagem. Conforme Robin estuda as fissura em torno dos crimes envolvendo a jovem grávida a série se aproxima da clássica Twin Peaks, criada por David Lynch e que inaugurou o flerte da TV com o cinema. Ao mostrar os moradores estranhos da pacata cidadezinha, a série parece abraçar o que The Killing preferiu deixar de fora: um estranhamento levemente bizarro sobre os fatos (e a belíssima abertura confirma essa sensação). Neste ponto estranho, a série ainda marca o reencontro de Campion com Holly Hunter, a oscarizada estrela de O Piano. Hunter faz uma espécie de guia espiritual chamada GJ, que é seguida por mulheres que sofreram por amor. GJ escolhe morar nas redondezas por conta de uma região conhecida como Paradise (onde acredita-se que existia o Jardim do Éden, Adão, Eva, a Serpente...). Ao espectador, cabe acompanhar os momentos em que os mundos paralelos dos personagens se encontram rumo às perguntas de Robin Griffin sobre o caso da garota desaparecida. De acabamento refinado, o formato de série caiu como uma luva para que Campion desenvolvesse seus personagens e subtramas sem pressa. O resultado consegue ser bastante instigante, nos deixando ansiosos pelo episódio seguinte. Tantos méritos fizeram com que a série fosse indicada a oito prêmios EMMY em 2013.
O elenco e Campion (com Holly no colo): rendendo-se à TV. |
Top Of The Lake (Austrália/Nova Zelândia/Reino Unido-2013) de Jane Campion e Gerard Lee com Elizabeth Moss, Peter Mullan, Holly Hunter, David Wenham e Thomas M. Wright. ☻☻☻☻