quarta-feira, 6 de setembro de 2017

CICLO VERDE E AMARELO: Canção da Volta

Marina e Miguel: casal feliz até a página dois. 

Sou fã de Marina Person desde os tempos em que a considerava minha apresentadora favorita da MTV Brasil. Lembro quando ela começou a apresentar os programas Semana Cine e depois o Cine MTV sempre buscando dar destaque ao cinema brasileiro que ainda estava na retomada. O envolvimento de Marina com o cinema está no sangue, filha dos cineastas Luís Sergio Person e Regina Jeha, aos poucos a carreira de apresentadora passou a ser conjugada com a de cineasta. Em Person/2007 ela documentava a trajetória do pai e em Califórnia/2015 ela voltava  para sua própria história como adolescente dos anos 1980. No entanto, o carisma de Marina já lhe rendeu pequenas participações em alguns filmes, mas nada que se compare ao destaque recebido neste Canção da Volta, dirigido por seu esposo Gustavo Rosa de Moura (o que torna ainda mais interessante o desenvolvimento da história). Marina vive Julia, uma mulher madura, casada e com dois filhos, que muda o rumo de sua família após uma tentativa de suicídio. No entanto, acompanhamos a história de Julia sobretudo pelos olhos de seu esposo, Eduardo (João Miguel). Eduardo apresenta um programa sobre literatura na TV e tem sua rotina totalmente alterada logo no início do filme, quando busca o paradeiro da esposa e recebe um telefonema comunicando que ela se hospedou solitária num quarto de hotel para cortar os pulsos. A carta de despedida é quase uma declaração de amor para sua família e torna tudo ainda mais confuso para todos. O melhor de tudo é que o roteiro de Moura e Leonardo Levis não gasta seu tempo apresentando uma esposa deprimida, prefere mostrar como a família não sabe reagir diante do inesperado ato. Enquanto o filho se distancia para evitar qualquer surpresa semelhante no futuro e a filha caçula parece, por vezes, querer aproveitar cada momento perto da mãe, fica por conta da dinâmica entre marido e esposa a parte mais instigante do filme. Ainda que sejam apaixonados um pelo outro, o atencioso Eduardo mostra-se uma pessoa cada vez mais complicada. Obcecado por controle e organização - e isso explica muitas cenas do filme, como a cena em que tenta arrumar a luminária da casa,  a briga no trabalho por conta de um e-mail e até a cena em que Julia está sozinha em casa e desorganiza o ambiente. Não que isso revele algum motivo para a personagem ter feito o que fez, mas  ajuda a notar que existe algo abaixo da superfície do casal que nunca se revela. Neste ponto, o filme torna-se ainda mais interessante por não querer ser um filme sobre suicídio, mas sobre o casamento. Acho que não é por acaso que quando Julia está cada vez mais segura, o esposo está cada vez mais paranoico (e meta os pés pelas mãos). Por estes motivos Canção da Volta é um filme que fala mais nas entrelinhas do que nos diálogos e prova que Marina Person é uma atriz de verdade ao dar conta de uma personagem complicada. 

Canção da Volta (Brasil/2016) de Gustavo Rosa de Moura com João Miguel, Marina Person, Francisco Miguez, Stella Hodge, Poliana Pieratti e Marat Descartes. ☻☻☻

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