A Liga: tentando colocar o universo DC nos eixos.
Depois de uma produção bastante conturbada finalmente chegou aos cinemas um dos filmes mais esperados de todos os tempos. Faz tempo que os fãs sonhavam com um filme da
Liga da Justiça reunindo os maiores heróis da DC Comics e, conforme o tempo demonstrou, lidar com tanta expectativa está longe de ser algo fácil - e diante dos novos parâmetros demarcados pela Marvel nos cinemas a coisa piorou bastante. Depois que os filmes de
Homem de Ferro & Cia se mostraram interligados, a Warner (detentora dos direitos da DC nos cinemas) sentiu a pressão de fazer o mesmo com os heróis que tinha em mãos. O efeito foi sentido na continuação de
Homem de Aço (2013), que foi mexido o suficiente para abrigar Batman e se tornar o controverso
Batman Vs. Superman (2016). O filme de Zach Snyder foi o ponto de partida para a construção de um universo unificado da DC nos cinemas, no entanto, o gosto de que essa ideia foi feita às pressas era indisfarçável. De início a Warner não tinha a mínima intenção de criar algo assim, preferindo contratar diretores com visões particulares sobre os personagens e deixar que as produções seguissem de forma independente. Com o sucesso de
Vingadores (2012) eles perceberam que talvez pudessem repensar a estratégia (embora ainda não houvessem amadurecido o suficiente o universo que queriam construir). Se as interferências eram vivíveis no confronto do Homem-Morcego com o Superman, a coisa ficou muito pior com
Esquadrão Suicida (2016) que deixou de ser o filme sombrio que se anunciava para se tornar uma espécie de quebra-cabeça de ideias mal trabalhadas.
Mulher-Maravilha (2017) também sofreu intervenções, mas Patti Jenkins foi esperta o suficiente para criar uma unidade no filme que se tornou sucesso de público e crítica, se tornando o filme mais bem sucedido deste universo até o momento. Ao que parece,
Liga da Justiça também foi mexido, principalmente depois que Zach Snyder precisou se afastar da produção devido à uma tragédia familiar. O destino abriu espaço para as intervenções de Joss Whedon, diretor de...
Os Vingadores na produção - e outros problemas surgiram. Dizem que Whedon mexeu em 20% do filme e enfrentou também sua cota de desafios: inserir mais humor (e aposto que consegui identificar cada cena gerada por Whedon), cortar Darkside, cortar Lex Luthor, cortar namorada de Flash, cortar, cortar, cortar (incluindo o bigode involuntário do
Superman Henry Cavill protegido em causa contratual de outro filme). Portanto, quando você for ao cinema, fique sabendo que o filme é bem diferente de como ele foi pensado, mas, ainda assim, ele funciona,. Não é uma obra-prima, mas funciona.
Lobo da Estepe: vilão diabólico esquecível.
Depois de
Batman Vs. Superman ficou claro que o mundo estava prestes a viver ameaças bem diferentes do que Batman (Ben Affleck) estava acostumado a enfrentar. Pela primeira vez, o herói sem super-poderes se deparava com um universo habitado por alienígenas e deuses. Era de se esperar que a ameça agora parecesse mais um demônio do que um vilão humano. A ameaça agora é encarnada por Lobo da Estepe (voz de Ciarán Hinds), que procura as três caixas maternas para transformar o mundo em seu reino. Seguido pelos
parademônios (derrotados transformados em criaturas sombrias que se alimentam de medo), Batman e Mulher-Maravilha (Gal Gadot) precisam encontrar aliados para derrotar este inimigo. Cabe a eles convencerem Aquaman (Jason Momoa), Flash (Ezra Miller) e Cyborg (Ray Fisher) a formarem um grupo que tem grandes chances de falhar em seu desafio. Como todo filme de equipe, os personagens precisam de tempo para aceitar a proposta, existem algumas picuinhas, alfinetadas... mas os heróis logo se entendem e (o mais importante) funcionam como time. A boa dinâmica entre os atores é um dos grandes pontos positivos do filme - o que nos faz até esquecer como a concepção de Aquaman é confusa e que nem todas as piadas do Flash são dignas de riso. É visível o desafio que Chris Terrio (oscarizado pelo roteiro de
Argo/2012) enfrentou para costurar a história e seus vários personagens, precisando ainda dar conta do retorno de um dos membros fundadores da Liga, o Superman (Henry Cavill). Quem acompanha histórias em quadrinhos ficará bravo em como o filme faz algumas promessas e as deixa pelo meio do caminho, mas a maioria do público irá gostar de ver os heróis juntos na tela e ficará empolgada com as cenas de ação. Porém, isso não quer dizer que
Lobo da Estepe não seja um dos pontos fracos do filme (mas para os demônios talvez o poder pelo poder já satisfaça, sem maiores problematizações) e que exista muita coisa para ser resolvida em duas horas de exibição (lembro quando a Warner achou o filme muito longo e mandou cortar, cortar, cortar...). No fim das contas o filme é puro entretenimento despretensioso. Você ainda percebe a insegurança do estúdio em bancar suas escolhas, mas, não há problema em ser sombrio ou não ter piadas a cada cinco minutos, o problema é não bancar as ideias que resolveram colocar em prática. Sorte que
Liga da Justiça é a prova que mesmo em meio ao caos, os heróis podem salvar o filme - principalmente com os atores certos no lugar exato. Gal Gadot está cada vez melhor como Mulher Maravilha e até Ben Affleck surpreende como Batman. Embora tenha aqui uma versão menos soturna, Affleck está cada vez mais convincente como Bruce Wayne e seu alter-ego das trevas (o que só me faz lamentar que não veremos suas ideias para The Batman na telona em breve). Algo me diz que
Liga da Justiça 2 será melhor.
Gadot e Affleck: heróis convincentes.
Liga da Justiça (Justice League/EUA-2017) de Zach Snyder de Ben Affleck, Gal Gadot, Henry Cavill, Ezra Miller, Amy Adams, Ray Fisher, Diane Lane, Jason Momoa, Jeremy Irons, Connie Nielsen e J.K. Simmons. ☻☻☻