domingo, 26 de novembro de 2017

PL►Y: O Bom Vizinho

Logan e Keir: várias câmeras e péssimas ideias na cabeça. 

Dois amigos adolescentes desocupados começam a suspeitar que seu existe algo de muito estranho com um vizinho. Trata-se de um senhor solitário mal-humorado que não faz a mínima questão de falar com os vizinhos. O pouco que sabem daquele senhor é que o paradeiro de sua esposa é desconhecido, além disso, existe uma penca de boatos de que ele utiliza seu porão para atividades sádicas, além de já ter venenado animais no bairro e suspeitas de que tenha cometido até algum assassinato. Diante de tanta fofoca, os dois amigos resolvem vigiar o vizinho com câmeras espalhadas pela casa do próprio, além de causar alguns sustos nele, como se ele estivesse participando de uma das continuações de Atividade Paranormal. Ou seja, a brincadeira tem tudo para dar errado. A trama de Um Bom Vizinho parte de um clichê, mas fica mais interessante ao abordar a inconsequência da juventude atual obcecada pelo registro de imagens. Some estes fatores com a impressão de que se existe uma intenção considerada "nobre", tudo se torna válido - e isso inclui invasão de domicílio, roubo de arma e tortura psicológica de uma pessoa de idade avançada. Os dois amigos (vividos por Logan Miller e Keir Gilchrist) não vão muito além dos adolescentes desmiolados que transbordam no cinema americano, mas a diferença é que estão tão cegos em suas certezas que são incapazes de perceber como suas próprias atitudes são assustadoras. No entanto, o filme tem um grande problema ao optar por seguir a cartilha dos filmes que pretendem ser "realistas" com gravações de câmeras de segurança, de computadores e tantas outras que se por um lado engessam a ação do filme, por outro, não exige a necessidade de criar um roteiro redondinho. Essa necessidade de rezar por uma modinha compromete o desenvolvimento do filme. Sorte que o diretor intercala esta linguagem "pseudocumental" com cenas de tribunal bastante sugestivas sobre as consequências trágicas da atitude dos meninos. Este artifício prende a atenção no filme assim como a atuação de James Caan - que desde o início demonstra que o vizinho é bem mais do que um tipo excêntrico. Na verdade, o ator tem a tarefa de ressignificar cada ato dos garotos perante as memórias daquele senhor reservado - e o efeito funciona! O filme de estreia do diretor de arte Kasra Farahani na direção poderia ser melhor se optasse por uma narrativa mais tradicional, sem a necessidade de apelar para o modismo das "câmeras escondidas", afinal, elas não acrescentam nada de empolgante na boa ideia que tem em mãos - prova disso é que o desfecho consegue ser realmente surpreendente sem fazer esforço. Outro ponto fraco é a necessidade de ser brando para não assustar o público adolescente, isso custa uma punição relevante aos adolescentes que revelam uma crueldade quase patológica em seu "experimento". Se você não abandonar O Bom Vizinho pelo meio do caminho, provavelmente você perceberá que o filme consegue ser bastante incômodo, ainda que tenha alguma vergonha disto.

O Bom Vizinho (The Good Neighbor/EUA/2016) de Kasra Farahani com Logan Miller, Keir Gilchrist, James Caan, Tamlyn Tomita, Laura Innes e Edwin Hodge. ☻☻

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