Adam e Marion: amor e maldição.
Com dois nomes badalados em Hollywood no alto dos créditos, Annette de Leos Carax era um dos filmes cotados para o Oscar que se aproxima. Particularmente não consigo imaginar um filme de Carax sendo indicado ao Oscar ao longo de todo o milênio, mas o empenho de Adam Driver em fazer o filme ser produzido (depois de tantos percalços financeiros) já valeria um prêmio. Indicado à Palma de Ouro do Festival de Cannes, o longa levou para casa os prêmios de Melhor Diretor e Trilha Sonora para os roteiristas (Ron Mael e Russell Mael, mais conhecido como o duo Sparks) deste musical diferentão como tudo que Leos já fez na vida. O francês não dirigia algo desde Holy Motors (2012) que se tornou cult ao longo da década e, por isso mesmo, seu novo filme era bastante aguardado. Se compararmos estas duas obras, veremos que Annette chega a ser bastante convencional, embora siga caminhos que a maioria dos musicais rejeitaria. A história gira em torno de Henry McHenry (Adam Driver), um comediante de stand up que se apaixona pela cantora lírica Ann (Marion Cotillard), a mídia enlouquece com aquele romance que, aparentemente, envolve duas celebridades de estilos completamente diferentes. Aos olhos da mídia e do público eles irão casar, terão uma filha (que dá nome ao filme e resulta numa das escolhas mais estranhas do filme... embora seja justificada na cena final) e conforme a carreira de Henry perde a graça, o gosto dele pelo álcool instaura uma crise no casamento. Embora seja um filme cheio de recursos narrativos e estilo, Annette tem muito de teatral, especialmente de operístico. Alguns cenários, as cenas passadas nos palcos e algumas cenas remetem diretamente à magia teatral e a habilidade de Leos lidar com isso é evidente, no entanto, algumas repetições ao longo do primeiro ato poderiam ter ficado de fora do corte final (duas horas e vinte minutos de duração, não era para tanto...). No segundo ato, o filme segue a pequena Annette e seu pai, que a transforma em uma celebridade após uma tragédia familiar e será apenas questão de tempo para que Henry mostre mais uma vez seu lado mais sombrio, especialmente pela companhia do instrumentista (vivido por Simon Helberg) velho conhecido de Ann. A música em Annette nunca segue um caminho simples, por vezes são apenas diálogos musicados, em outros são corais, depois se tornam melodias mais elaboradas, mas as letras geralmente são irônicas e provocativas, além de plenamente inseridas na cadência da história. Este musical que mistura romance, drama, terror e até erotismo (eu não diria que existe comédia no filme, mas.... vai que) resulta de encher os olhos, mas tem alguns momentos em que se torna bastante morno em suas repetições. Não vai figurar no Oscar, mas a prestigiada Cahiers du Cinéma o elegeu o segundo melhor filme de 2021 (atrás apenas de First Cow que assim como Annette está disponível na MUBI). Foi uma boa escolha.
Annette (França-Bélgia-Alemanha-EUA-Japão-México-Suíça / 2021) de Leos Carax com Adam Driver, Marion Cotillar, Simon Helberg, Devyn McDowell e Julia Bullock. ☻☻☻
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