quarta-feira, 17 de novembro de 2021

PL►Y: Identidade

Ruth e Thessa: amigas de infância.

A Netflix tomou gosto por entrar na corrida das premiações e isso mais do que a estabelece como uma produtora de prestígio mas também como uma distribuidora cobiçada dentro da indústria. Devido a visibilidade que proporciona à filmes que dificilmente teriam apelo ao grande público pelo número reduzido de salas em que seriam exibidas, muitos diretores e produtoras percebem a plataforma de streaming como um aliada na visibilidade de suas produções. São estes motivos que fizeram Passing ser comprado pela Netflix após sua aclamação no Festival de Sundance de 2021. Ambientado nos anos 1920 (quase cem anos atrás), o filme conta a história do reencontro de duas amigas de infância a partir do olhar de Irene (Tessa Thompson), uma afro-americana que em um dos seus passeios pelo lado branco da cidade se depara com Claire (Ruth Negga). Se no início Irene não a reconhece, após um verdadeiro espanto, ela se dá conta de que aquele pessoa que não via a tanto tempo se reinventou para que pudesse deixar de enfrentar os preconceitos sofridos pelo seu tom de pele. Claire ostenta uma pele diferente, assim como seu cabelo, seu jeito de falar, o jeito como se veste e se move na verdadeira construção de um disfarce - o que a faz transitar por espaços que geralmente não seriam permitidos a um afro-descendente na Terra do Tio Sam em tempos muito anteriores da luta pelos direitos civis. Tanta desenvoltura lhe permitiu o casamento com um banqueiro racista (Alexander Skarsgaard) que não faz a mínima ideia das origens de sua esposa. O reencontro entre Irene e Claire é apenas o ponto de partida para uma série de reflexões que este Identidade é capaz de gerar, especialmente por associar a construção subjetiva daquelas duas mulheres em meio à uma realidade segregadora, além disso, o roteiro insere outros elementos nas entrelinhas daquela relação. Existe uma tensão entre as duas que está além do julgamento do que fizeram de suas vidas - e esta tensão transborda para quem gravita em torno de ambas, seja o esposo de Irene, Brian (André Holland) e a empregada (Ashley Ware Jenkins), por exemplo - inserindo novas camadas a uma história que é aparentemente simples. A narrativa lenta e contemplativa ajuda ainda mais ao espectador construir esta narrativa enquadrada em formato 4:3 e com uma estética muito próxima de produções clássicas daquela década -  um elemento complicado que a diretora estreante Rebecca Hall optou por utilizar (assim como a fotografia em preto e branco envelhecida) e que pode por vezes soar afetado, mas funciona. Rebecca defendeu seu interesse pela adaptação do livro de Nella Larsen por se interessar por histórias de "passing" por seu avô ter um história semelhante à de Claire, mas podemos perceber o nascimento uma cineasta de olhar bastante sensível para o drama daquelas mulheres. Tessa Thompson está bem diferente em cena e consegue transparecer a rigidez de sua personagem sem dificuldades, mas é Ruth Negga que rouba a cena com seus olhos brilhantes em favor da ambiguidade necessária de quem finge ser quem não é (algo que pode lhe custar muito caro).  Ruth está cotada para o Oscar de coadjuvante deste ano (ela já foi indicada anteriormente por Loving/2016) e indicada na categoria no Gotham Awards2021, que indicou o longa ainda nas categorias de diretora estreante, melhor produção, roteiro e melhor atriz (Tessa). 

Identidade (Passing / EUA - 2021) de Rebecca Hall com Tessa Thompson, Ruth Negga, André Holland, Alexander Skarsgaard, Bill Camp, Ashley Ware Jenkins e Antoinette Crowe-Legacy. ☻☻☻


Nenhum comentário:

Postar um comentário