domingo, 11 de dezembro de 2022

CATÁLOGO: Involuntário

As amigas: testando os limites. 

O sueco Ruben Östlund apareceu em meu radar quando assisti Força Maior (2014), uma comédia estanha sobre um pai que sofre as consequências por sair correndo e deixar a família à mercê de uma avalanche nas férias de inverno. Östlund contava aquela trama como se fosse uma pegadinha, uma piada disfarçada de drama que testava a reação da plateia e deixava as discussões sobre o filme para depois. Depois ele levou a Palma do Festival de Cannes pelo ainda mais provocador The Square (2017) em que personagens que gravitavam em torno do mundo das artes eram dissecados em suas convicções pessoais e criativas. O filme foi o meu favorito entre os que entraram em cartaz aqui no Brasil em 2018 e a expectativa para o seu novo filme (Triângulo da Tristeza, outro premiado com a Palma de Ouro em Cannes) também é grande. O sueco é uma mistura das provocações de Michael Haneke com o humor ácido de Robert Altman e isso pode ser visto nos seus filmes mais antigos que a MUBI adicionou ao seu catálogo recentemente. Involuntário é o segundo longa-metragem do diretor e foi lançado em 2008, quando ainda aprimorava seu estilo e ideias. Aqui sua câmera fica parada a maior parte do tempo e não dá a mínima se algum personagem ficou fora de esquadro, seja com a cabeça decepada ou somente com a voz aparecendo. Confesso que é uma experiência que demora para se acostumar, por vezes parecendo um documentário estático com os recortes que apresenta da vida dos personagens em que certa altura viverão um dilema. Temos uma atriz relativamente conhecida que volta para casa de ônibus, duas adolescentes que ainda não aprenderam sobre os limites de suas estripulias, uma professora que não consegue se impor, dois homens num fim de semana com um grupo de amigos numa casa de campo e uma família às voltas com um acidente. Com jeitão episódico, o estilo inerte impresso pelo diretor deixa claro que algumas ideias são melhores e melhor desenvolvidas do que outras. No entanto, o filme deixa claro o interesse do diretor em deixar o espectador aflito com as situações que apresenta sem gênero definido (embora demorem para engrenar e dizer a que vieram) além de destacar dilemas morais que podem acontecer com qualquer pessoa (ainda algumas decisões sejam até surpreendentes como a dos amigos citados acima - e deixa a mente do espectador criar até uma história para além do que é apresentada). Involuntário não é tão ousado e criativo como os filmes que o diretor faria a seguir, mas demonstra o potencial que ainda estava a se desenvolver dali em diante. 

 Involuntário (De Ofrivilliga / Suécia - França /2008) de Ruben Östlund com Leif Odlund, Hanna Lekander, Villmar Björkman, Sara Eriksson, Olle Liljas e Cecilia Milloco. ☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário