quinta-feira, 30 de abril de 2015

N@ CAPA: The Avengers by... Pixar?


A capa do mês foi a paródia de um fã para os personagens do filme mais aguardado do ano. Os Vingadores aparecem numa paródia onde alguns personagens de animações aparecem como heróis da Marvel. Na brincadeira, três personagens de Os Incríveis aparecem caracterizados (o mais curioso é o Gelado vestido de Nick Furry, sendo que ambos são vividos por Samuel L. Jackson). O Sully de Monstros S.A. aparece verde como Hulk, o pai Viking de Como Treinar seu Dragão honra o Deus do Trovão e eu não faço a mínima ideia quem são os dois que serviram de base para o Homem de Ferro e (um velhaco) Gavião Arqueiro. A internet possui várias paródias baseadas na Pixar e inspiradas no universo das HQs que merecem uma olhada. 

PL►Y: Obediência

Camp, Dreama e Dowd: a obediência em questão. 

Obediência é um filme tão simples que chega a surpreender a plateia pelas sensações que gera, sendo que, não seria exagero afirmar que exige nervos de aço do espectador que quiser conhecer o pior dia da vida de Becky (Dreama Walker), uma jovem funcionária de uma lanchonete de fast food que sofrerá grandes constrangimentos no que deveria ser apenas mais um dia de trabalho. Afinal, ela mal começa a trabalhar quando a gerente, Sandra (Ann Dowd) recebe a ligação de um policial dizendo que houve uma denúncia: Becky roubou dinheiro da bolsa de uma cliente - e o dinheiro precisa aparecer. Argumentando estar ocupado demais com outros desdobramentos do caso, o policial diz que precisa da colaboração de Sandra e começa a tortura psicológica de Becky perante a plateia. Levada para um depósito, o policial instrui que Becky retire toda a roupa e sofra um ciclo de humilhações e constrangimentos, que em momento algum, desperta o estranhamento de Sandra - nem mesmo quando o tal policial estabelece que Becky seja vigiada por homens variados (que deverão cumprir orientações estranhas e descrever as reações da moça). Para o espectador mais esperto, não fica difícil saber o que acontece em cena, especialmente quando levamos em conta o título que entrega as intenções do diretor e roteirista Craig Zobel: abordar como o ser humano pode ser capaz de realizar atos abusivos quando segue orientações de quem confere autoridade. Essa ideia do lado obscuro do homem já apareceu em outros filmes como Sobre Meninos e Lobos/2003 (quando o menino entra no carro com um homem vestido de policial e outro de padre e termina molestado sexualmente por dois farsantes) e O Leitor/2008 (quando a alemã de vida comum segue ordens de oficiais nazistas sem perceber os estragos que provoca). Em Obediência, a maioria dos personagens parece cega quando manipulada por telefone, sem questionamento, sem pensar na obviedade absurda da violência física e moral que provoca. No entanto, vale ressaltar, que o filme poderia ser facilmente desacreditado em seus exageros cênicos se não retratasse uma história real inspirada em quase uma centena de casos semelhantes que aconteceram nos EUA. Zobel não cria sua atmosfera sufocante para que condenemos seus personagens, mas para que possamos perceber como palavras são capaz de conduzirem  o comportamento dos outros com uso de frases específicas, algumas ameaças, elogios e o aproveitamento de um bocado de ingenuidade (já que os que entendem o que está havendo são descartados e rapidamente classificados como problemáticos e rebeldes pelas autoridades envolvidas). Para nos fazer embarcar nessa jornada desconfortável, a atuação de Ann Dowd é crucial na condução do horror da situação que presenciamos. Dowd foi indicada a vários prêmios por sua atuação (como o Independent Spirit de atriz coadjuvante em 2012), o resultado é tão certeiro que o filme foi lembrado como um dos melhores de 2012 no National Board of Review e considerado o melhor filme no Amazonas Film Festival do mesmo ano. O mais interessante da obra é a maestria com que o diretor gera uma tensão insuportável com os poucos recursos que aparecem em cena. 

Obediência (Compliance/EUA-2012) de Craig Zobel com Dreama Walker, Ann Dowd, Pat Healy, Phillip Ettinger, Bill Camp e James McCaffrey. ☻☻☻☻

domingo, 26 de abril de 2015

NªTV: Halt and Catch Fire

Scoot, Mackenzie e Lee: olhando para o futuro nas limitações do passado. 

No dia 1º de maio irá completar um mês que o canal americano AMC chegou ao Brasil (por enquanto está disponível somente na SKY). AMC tornou-se uma emissora de peso no quesito seriado depois que lançou as cultuadas Mad Men (exibido no Brasil pela HBO), Homeland (exibida pelo FX) e The Killing (exibida pelo A&E e agora é produzida e exibida pelo NETFLIX), mas chegou ao Brasil tendo Halt and Catch Fire como seu carro chefe. Lançada no ano passado,  a série sofreu comparações com Mad Men (que chega ao seu último episódio em breve), mas aos poucos dissipa essa impressão ao retratar o início da popularização dos computadores no início da década de 1980. Naquela época a IBM era a líder no mercado - e as possibilidades na produção de micros ainda engatinhavam. Nesse universo em expansão existe Joe McMillan (Lee Pace e suas sobrancelhas inacreditáveis), que depois de fazer estragos na líder do mercado, consegue o emprego de gerente de produção em uma empresa de micros de menor porte. Embora entenda pouco de programação, ele percebe que a indústria de computadores precisa explorar todo o seu potencial para se tornar o maior negócio do fim de século e nessa empreitada, nada se compara à sua agressividade empresarial. Para alcançar seus objetivos ele convence Gordon Clark (Scoot McNairy), um gênio subestimado do mundo da programação (que precisa de um empurrão para se tornar um revolucionário) e Cameron (Mackenzie Davis), uma estudante de processamento de dados de visual punk (embora o cabelo seja inspirado na replicante mais sexy de  Blade Runner) a se juntar ao seu ideal. Joe nutre a ambição da dupla para revolucionar o mercado, embora ainda precisem construir o próprio caminho a seguir. Embora a tecnologia da época estivesse a zilhões de quilômetros dos objetivos desejados, o que não falta é o esforço do trio para que o objetivo seja alcançado. Halt and Catch Fire torna-se ainda mais interessante pelo nosso olhar privilegiado de observar a corrida pelo futuro com as benesses do século XXI - sabemos no que toda aquela ambição dará, de como o mercado da informática é tão rentável quanto volúvel e o resultado da série poderia ser bem menos envolvente se os criadores Christopher Cantwell e Christopher C. Rogers não soubessem exatamente quando precisar mover os personagens que tem tem mãos.  Lee Pace está arrasador como o engravatado misterioso, da mesma forma Scoot McNairy (que já demonstrava competência em papéis pequenos como em Argo/2012 , O Homem da Máfia/2012 e Garota Exemplar/2014) sabe exatamente como chamar a atenção ficando imóvel em cena. Se Mackenzie Davis às vezes se perde entre interpretar e fazer pose de rebelde, Kerry Bishé (também vista em Argo/2012) eleva o patamar feminino sempre que aparece em cena como Donna, a esposa brilhante de Gordon que desperdiça seu talento na indústria de calculadoras. Com reconstituição de época bem realizada, personagens interessantes e diálogos espertos, a série é um deleite em todas as possibilidades que anuncia a cada episódio. Embora ainda não faça o barulho que mereça, Halt and Catch Fire recebeu o prêmio de melhor série nova no Critic's Choice Awards e tem sua aguardada temporada agendada para começar no dia 1º de junho. 

Halt and Catch Fire (EUA-2014) de Christopher Cantwell e Christopher C. Rogers  com Lee Pace, Scoot McNairy, Mackenzie Davie e Kerry Bishé ☻☻☻☻

sexta-feira, 24 de abril de 2015

PL►Y: O Duplo

Jesse e Jesse: personalidade bifurcada. 

É sempre interessante quando os deuses do cinema reservam a estreia de dois filmes semelhantes no mesmo ano (só em 1998 ocorreu dois embates do ramo, no confronto entre as animações FormiguinhaZ e Vida de Inseto e os blockbusters Armageddon e Impacto Profundo), no entanto, em 2013 o confronto dos filmes gêmeos bivitelinos (de estúdios diferentes) ganhou proporções ainda mais interessantes, afinal, os dois eram inspirados em obras de dois dos maiores nomes da literatura mundial. Para aumentar ainda mais o grau de irornia do destino: ambos falam sobre dois personagens idênticos que afetam a vida um do outro. O canadense Dennis Villeneuve embarcou na obra do português José Saramago (1922-2010) para fazer O Homem Duplicado (2013) e ter seu longa entre os mais enigmáticos do ano. Já o inglês Richard Ayoade mergulhou na obra do russo Fiodor Dostoiévski (1821-1881) e se contentou em fazer um filme estilosamente estranho. Ayoade estreou na direção com a pérola Submarino (2010) e aqui muda completamente de tom para contar as desventuras do correto Simon James (Jesse Eisenberg), que é tão discreto que mal é notado na agência do governo em que trabalha há sete anos. Quando Simon conhece Hannah (Mia Wasikowska) ele precisa chamar a atenção dela, mas não sabe como. É nesse momento que seu interesse amoroso é ameaçado pelo novo funcionário da empresa, James Simon (o mesmo Eisenberg) que é sua imagem e semelhança - pelo menos até que o protagonista descubra que trata-se de um espertalhão. Se num primeiro momento Simon é todo desconfiança com o seu sósia,  aos poucos ele acredita que James pode ajudá-lo a tornar-se mais popular e reconhecido. A parceria poderia até dar certo se Simon não percebesse que o reconhecimento do sósia será a sua ruína. Ayoade opta por uma direção de arte que brinca com o jogo cênico de sombras e tom amarelado -  que remete diretamente ao tedioso cotidiano de James -, para contrabalançar usa vários recursos narrativos para prender a atenção da plateia (locações espertinhas, movimentos rápidos de câmera, edição moderninha, trilha japonesa...) numa narrativa que começa a cansar antes de sua metade. A história de Dostoiévski sobre o que somos enquanto sufocamos o lado mais obscuro de nossa personalidade, continua funcionando maravilhosamente bem, mas a transição para a telona mostra-se complicada para o ambicioso cineasta. Ayoade acerta na transposição labiríntica e claustrofóbica da história, mas tropeça em alguns detalhes, entre eles a escolha do elenco. Jesse Eisenberg (que desde a celebrada atuação em A Rede Social/2010 ainda não me convenceu como o jovem ator genial que diziam ser) faz o que pode, seu Simon é um sujeito contido como vários de seus outros personagens enquanto James é todo elétrico em seus movimentos traiçoeiros... às vezes funciona... às vezes fica claro que Jesse não tem versatilidade (ou humor) para alcançar as notas mais altas exigidas pela história. Sua colega de cena, Mia Wasikowska padece do mesmo mal, existindo uma química insossa entre os dois. No fim das contas fica na memória dos malabarismos do diretor para imprimir um olhar moderninho sobre a história, que resulta numa mistura um tanto confusa de entre drama, suspense, ficção científica e comédia de humor negro. Faltou foco a esse outro lado do promissor Richard Ayoade. 

O Duplo (The Double/Reino Unido-2013) de Richard Ayoade com Jesse Eisenberg, Mia Wasikowska, Wallace Shawn, Cathy Moriarty, Yasmin Paige, Craig Roberts e Noah Taylor. ☻☻

PL►Y: O Homem que Ri

Grondin: o Coringa do século XIX?

O Homem que Ri deve ser o melhor filme de Tim Burton que não foi dirigido por Tim Burton. Deixa eu explicar melhor. Inspirado no romance de Victor Hugo (1802-1885), o longa de Jean-Pierre Améris (o mesmo do achocolatado Românticos Anônimos/2010) pede emprestado muito da estética do diretor americano para contar a triste história de Gwynplaine (Marc-André Grondin), a inspiração no universo burtoniano aparece nos figurinos de época sombrios, na fotografia, na trilha sonora (que em algumas cenas parece até composta por Danny Elfman) e no humor sombrio, às vezes tristonho utilizado na história. Essas referências acabam se sobrepondo a outra influência relacionada ao filme: o protagonista jovem que carrega a cicatriz de cortes na face, serviu de inspiração para criação do personagem Coringa por Bob Kane na DC Comics. No entanto, Gwynplaine está longe de ser um vilão, pelo contrário, mostra-se mais uma vítima das circunstâncias numa trama de vingança que revela-se aos poucos. Quando a história começa, o personagem é apenas um menino, abandonado em meio a nevasca por um grupo de fugitivos que o deixam para trás -  porque a cicatriz que carrega iria revelar o paradeiro para quem os procurasse. Abandonado à própria sorte, ele acaba encontrando uma menina, Déa (que quando crescida será vividas por Christa Théret) e juntos serão criados por Ursus (Gerard Depardieu), um saltimbanco que utilizará os dois em seus números para chamar atenção dos povoados por onde anda. O trio formará uma família, ainda que Gwynplaine e Déa comecem a ter sentimentos que vão contra a criação de irmãos que receberam. O carisma de Gwynplaine, somado ao seu bom coração irá transformá-lo numa espécie de astro da região, embora ele continue vivendo um forte conflito com as marcas que carrega no rosto. Seus trabalhos acabam chamando a atenção da nobreza, especialmente da duquesa Josiane (Emmanuelle Seigner) que, atraída pelo personagem vivido por ele nos palcos, tenta seduzí-lo. Não demora para que o passado do personagem venha à tona e mude a vida de todos que estão ao seu redor. O diretor Amérris, consegue conduzir seu filme como um estranho conto de fadas, acertando no tom romântico e na transição para o ritmo de farsa que se instaura em sua metade. Ainda que o filme esgarce o comentário social de sua trama sem qualquer sutileza no último ato, Améris demonstra total controle da história que está contando e conta com um ótimo elenco (o desconhecido Marc-André Grondin merece nossa atenção). O celebrado Victor Hugo ficaria orgulhoso do resultado bem cuidado que sua obra (lançada em 1869) recebeu no cinema, numa bem orquestrada transição de conto de fadas para uma dolorosa tragédia humana. 

O Homem que Ri (L'homme qui rit / França - 2012) de Jean-Pierre Amérris com Marc-André Grondin, Gerard Depardieu, Christa Théret, Emmanuelle Seigner, Arben Bajraktaraj e Swann Arlaud. ☻☻☻☻

quinta-feira, 23 de abril de 2015

§8^) Fac Simile: Gwyneth Paltrow

Gwyneth Kate Paltrow:
"Eu tenho um Oscar! Você não tem!"
Famosa por ter se tornado a atriz mais jovem a ganhar o prêmio de Melhor Atriz por Shakespeare Apaixonado em 1999 (agora o título é de Jennifer Lawrence), Gwyneth está fora do elenco de Os Vingadores 2, mas foi convidada para uma das pré-estreias do filme - onde foi abordada pelo nosso repórter imaginário e forneceu essa pequena entrevista que nunca existiu: 

§8^) Pepper Potts, sua personagem ficou de fora de Vingadores 2 e você parece não ligar muito para isso. Todos percebem que você está visivelmente mais madura e isso influencia em como recebe as críticas por ter recebido o Oscar cedo demais?

Gwyneth Sempre digo que deviam reclamar com a Academia, exigindo que coloquem um corte etário nos indicados...

§8^) Como você recebe notícias como aquela de que você é a estrela mais detestada do mundo?


Gwyneth Uau! Isso faz realmente muito bem para o meu ego! Meu analista sempre agradece quando escuta coisas assim! Eu não lembro de ter feito nada realmente ruim para receber um título desses, então acho que isso depende menos de mim e mais de quem responde uma coisa dessas. 

§8^) Não acha que pode ser por que seu nome é um tanto complicado e as pessoas sempre ficam receosas de pronunciar errado?

Gwyneth Não tinha pensado nisso, mas pode ser. Mas eu não sou a única com nome esquisito em Hollywood! O nome da minha mãe, Blythe Danner também não é muito comum! E Chiwetel Ejiofor? Mas vai me dizer que Ashton Kutcher também não é um nome bizarro? Parece que estou mascando chiclete! Mas ninguém supera aquela garotinha de Indomável Sonhadora... 

§8^) Quvenzhané Wallis?

Gwyneth Essa mesma... ela é uma graça... mas nem me atrevo a pronunciar...

§8^) Talvez por isso você tenha simplificado e escolhido os nomes Apple e Moses para batizar seus filhos...

Gwyneth Provavelmente [risos], o meu inconsciente faz coisas que você nem imagina!

§8^) E a vida depois do divórcio? Já ouvi até dizer que ele foi provocado pelo penúltimo CD do Coldplay...

Gwyneth Talvez pelo dueto com Rihanna... mas se não fosse a separação talvez eles nem tivessem material para o novo trabalho. Pelo menos a Rihanna ficou de fora, não é?

PL►Y: Terapia do Sexo

Gwyneth e Mark: cada um com seus vícios.

Terapia do Sexo está longe de ser um filme ruim - e ajuda muito se você esquecer o título apelativo em português (o original Thanks for Sharing, ou Obrigado por Compatilhar não é sonoro em nossa língua, mas faria mais sentido). O filme conta a história de um grupo de personagens que fazem parte de uma terapia para viciados em sexo. O grupo coordenado pelo conselheiro Mike (Tim Robbins) é frequentado por Adam (Mark Ruffalo), Neil (Josh Gad), Dede (a cantora Pink, convincente - especialmente em sua primeira cena) entre outros. Adam completa cinco anos de abstinência (conquistado a duras penas sem acesso a televisão, notebooks desbloqueados e celulares modernos) quando conhece a triatleta Phoebe (Gwyneth Paltrow numa festa). Como você já sabe como esse tipo de encontro de astros funciona na tela, os dois irão engatar um namoro, mas ela teve problemas com o ex-namorado alcoólatra e ele fica com receio de contar seu histórico para ela. Paralelo a isso o gordinho Neil foi condenado a frequentar o grupo por assediar mulheres no metrô, como ele não leva a terapia a sério, ele acabará sofrendo outras consequências em sua vida - mas quando ele se torna amigo de Dede, as coisas parecem seguir um caminho mais tranquilo. Mesmo o sereno Mike não está imune às consequências de seu vício. Seu relacionamento com o filho (Patrick Fugit),  que já foi preso em decorrência do uso de drogas, é complicado - enquanto a esposa (Joely Richardson) tenta reaproximar os dois o filme se desenvolve sem grandes tropeços. O filme do diretor estreante Stuart Blumberg (indicado ao Oscar pelo roteiro de Minhas Mães e Meu Pai/2010) faz questão de humanizar seus personagens, nem que para isso todos pareçam simpáticos demais. A estratégia funciona para desconstruir os preconceitos da plateia acerca do tema, expandindo a abordagem da temática para os vícios em geral (mesmo a saudável Phoebe é visivelmente uma vigoréxica), sempre com uma abordagem serena e não apelativa sobre os temas que procura abordar. O problema está justamente no desequilíbrio de sua última parte. Com a crise no relacionamento de Phoebe e Adam (apresentada de forma um tanto forçada e abrupta), todos os personagens parecem obrigados a cair em tentação mais uma vez. O que poderia gerar suspense e enriquecer ainda mais a temática, acaba revelando uma abordagem um tanto esquemática do tema, além de fazer o filme desafinar quando está bem próximo do fim. A cena em que Adam se encontra com uma ex-namorada tem alguns closes pontos desnecessários que não combina com a abordagem adotada por Blumberg ao longo do filme. Obviamente que o lado sombrio dos vícios precisava de espaço, no entanto, o diretor deveria ter evitado tornar tudo tão agradável em sua primeira metade para evitar o desequilíbrio narrativo logo a seguir. Talvez o filme nem precisasse desse desvio para ser relevante, ele já funcionava bem até então, tanto que depois de abordar o "lado obscuro do tema", o filme volta ao seu estado natural como se nada houvesse acontecido. No fim das contas, destaco a atuação de Josh Gad como Neil, um personagem que começa desagradável e que demonstra amadurecer ao longo da trama e torna-se responsável pelos momentos mais engraçados. Stuart Blumberg demonstra novamente ser um bom roteirista, mas ainda precisa amadurecer como diretor. 

Terapia do Sexo (Thanks for Sharing/EUA-2013) de Stuart Blumberg com Mark Ruffalo, Tim Robbins, Gwyneth Paltrow, Josh Gad, Joely Richardson, Patrick Fugit e Pink ☻☻☻

Combo: Hollywoodoscópio


5 Mapas Para as Estrelas (2014) O filme mais controverso da lista é assinado pelo canadense David Cronenberg, que cria um retrato ácido sobre o mundo do cinema - sem deixar de construir momentos estranhamente engraçados com seus personagens que querem o sucesso a qualquer preço, seja um adolescente cheio de si (e já em decadência) como Benjie Weiss (Evan Bird), ou a veterana Havana Segrand (Julianne Moore soltando a franga) que precisa lidar com o fantasma do prestígio da mãe (uma megera que lhe proporcionou uma infância abusiva). Cronenberg cria um painel que se revela, aos poucos, um pesadelo sobre o mundo da fama. 

4 Por Trás das Câmeras (2006) Menos tóxico, mas igualmente astuto, Christopher Guest utiliza seu estilo mockumentary para mostrar como uma pequena produção independente recebe a atenção da crítica e começa a lidar com as expectativas para a temporada de prêmios (que culmina com o Oscar). O que era para ser um filme modesto e despretensioso, logo serve de pretexto para egos inflados, estrelismos e autossabotagens. Além do roteiro esperto, Guest ainda conta com sua divertida patota de atores, Parker Posey, Christopher Moynihan, Eugene Levy, Harry Shearer e Catherine O'Hara (impagável como a veterana que quase tem uma overdose de botox!) garantindo as risadas.

3 O Jogador (1992) Robert Altman causou uma comoção em Hollywood quando um bando de atores se ofereceram para ser figurantes em seu filme sobre os bastidores de Hollywood. Exibido em Cannes, o filme ganhou o prêmio de melhor diretor e ator (Tim Robbins) e ainda foi indicado aos Oscars de direção, roteiro adaptado e edição. A trama sobre o produtor que é ameaçado de morte por um roteirista cujo texto foi rejeitado é o que menos importa. A graça mesmo está na forma como o diretor cria sua atmosfera em torno do personagem que se considera um Deus na indústria cinematográfica e que, agora, descobre-se vulnerável.

2 Birdman (2014) Se não fosse tão concentrado nos bastidores de um espetáculo teatral, Birdman corria sério risco de ser o primeiro colocado do combo. A trajetória do ator que perdeu a credibilidade em filmes de super herói (não por acaso: Michael Keaton) e quer mostrar que é ator de verdade numa adaptação da obra de Raymond Carver, mostra como ele lida com vários obstáculos - incluindo suas próprias inseguranças assombradas pelo personagem que o tornou famoso no cinema. Alejandro González Iñárritu cria um filme vertiginoso para falar muito sobre nossa relação (espectador ou "indústria") com o entretenimento (seja através do palco, da tela, da literatura ou do youtube) e a relação de um artista com tudo isso.

1 Crespúsculo dos Deuses (1950) É até difícil de acreditar que o filme de Billy Wilder completa 65 anos de lançamento e permanece esperto e moderno em sua história sobre Norma Desmond (a espetacular Gloria Swanson), diva do cinema condenada ao esquecimento junto ao ex-marido diretor (que agora é seu mordomo) e que vê no relacionamento com um jovem roteirista ambicioso a chance de voltar ao estrelato. Misturando trama policial, suspense, drama e humor negro, Crepúsculo dos Deuses foi um dos primeiros longas a falar sobre o lado mais obscuro da fama - que se revela justamente quando ela vai embora. Um clássico absolutamente inesquecível! 

terça-feira, 21 de abril de 2015

Na Tela: Mapas para as Estrelas

Moore: retrato distorcido de si mesma.

É interessante que no ano em que Birdman qanhe o Oscar de melhor filme, outra obra tenha abordado os dissabores da fama por um viés ainda mais, digamos, cáustico. No entanto, enquanto roteiro de Alejandro González Iñarritú consiga ser articuladamente sólido, o outro não tem essa preocupação e soe como uma espécie de colagem dos maiores pesadelos das estrelas. Estou falando de Mapas para as Estrelas, o controverso filme de David Cronenberg que concedeu a Julianne Moore o prêmio de melhor atriz em Cannes/2014. Eu andava tão decepcionado com os últimos filmes do diretor que realmente pensei que estavam certos em afirmar que esse era o seu pior filme. No entanto, prefiro concordar com os outros que o elevam à categoria de estar entre os seus melhores trabalhos. Seu olhar ácido sobre Hollywood pode até padecer de um final ruim (e considero que esse seja o maior defeito dele), mas até lá o que vemos é uma câmera atenta em mostrar um retrato desagradavelmente disforme do mundo mágico das celebridades. Porém, não considero que Cronenberg pretenda construir um retrato realista da capital do cinema, mas pelo menos um retrato sobre um daqueles crimes que de vez em quando ninguém entende muito bem como aconteceu no mundo das celebridades. Se Cronenberg não soubesse onde inserir humor na trama (ainda que cáustico), o resultado seria insuportável (ou ainda mais insuportável, já que muitos já enxergam o filme assim). O filme começa com a chegada da jovem (com marcas de queimadura) Agatha (Mia Wasikowska) à Hollywood, no primeiro dia ela conhece o chofer de celebridades Jerome Fontana (Robert Pattinson, repetindo a boa parceria com Cronenberg), mais um pouco e ela conhece a estrela decadente Havana Segrand (Julianne Moore) por intermédio de Carrie Fisher (vivida por ela mesma). Havana considera que precisa interpretar um papel que já foi de sua mãe, a estrela indicada ao Oscar Clarice Taggard (Sarah Gadon) para voltar a ser uma estrela de primeira grandeza. Havana e Clarice tinham uma relação bastante problemática, antes que Clarice fosse vítima de um incêndio. Nesse ponto, o misto de terapeuta e massagista (massoterapeuta?) Stafford Weiss (John Cusack), ajuda Havana a lidar com seus conflitos com massagens muito estranhas - enquanto a Srª Weiss (Olivia Williams) tenta administrar a carreira do filho (Benjie Weiss) que acaba de sair da reabilitação (antes mesmo de completar quinze anos). Misture todos esses personagens com um bocado de conflitos freudianos,  obsessões, incesto, assassinato, sexo e drogas temperados com muito humor negro e você terá ideia do que é o filme. Fazia tempo que Cronenberg não criava um universo tão estranhamente vigoroso para os seus personagens - ainda que muitos possam considerá-lo repulsivo. De riso nervoso, o longa traz atuações competentes, especialmente da espetacular Julianne Moore (a cena em que ela lamenta a morte de uma criança para pouco depois celebrar os benefícios que isso lhe rende é indescritível). Indicada ao Globo de Ouro pelo papel, a atriz não precisava provar mais nada para ninguém, mas o retrato de uma estrela que já passou dos cinquenta e que se comporta como uma desmiolada infantilóide está entre os melhores momentos de sua carreira - melhor até do que sua atuação premiada com o Oscar em Para sempre Alice/2014. Acho que, assim como os fantasmas que habitam o filme, a Academia (ao votar) lembrou-se do autorretrato corajosamente distorcido que a atriz fez nesse filme. 

Mapas Para as Estrelas (Maps To The Stars/Canadá, Alemanha, França, EUA-2014) de David Cronenberg, com Julianne Moore, Mia Wasikowska, Evan Bird, John Cusack, Robert Pattinson e Olivia Williams. ☻☻☻

PL►Y: Entre Risos e Lágrimas

Jenny e Jake: apenas mais uma comédia romântica. 

Exibido no Festival do Rio no ano passado, Obvious Child ainda aguarda um espaço para chegar às salas brasileiras. Provavelmente será lançado somente em DVD por aqui. Sem efeitos especiais, sem atores consagrados, o filme recebeu atenção no exterior por sua abordagem bastante natural de uma mulher que pretende fazer um aborto. Vale lembrar que o aborto nos EUA é uma prática legalizada e, com os debates polêmicos constantes sobre o tema no Brasil, é provável que o filme seja prejudicado pelo receio dos distribuidores em imaginar a reação do público diante de uma comédia sobre o assunto. A temática já gerou dramas respeitáveis como Terra D´Água (1992), O Segredo de Vera Drake (2004) e o antológico 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (2007), mas algumas comédias já colocaram o tema em pauta, como Juno (2007) até ganhou o Oscar pelo roteiro ao retratar uma adolescente que desiste de realizar um aborto e resolve entregar seu bebê para a adoção, no entanto, Ruth em Questão (1996) de Alexander Payne ainda é o que demonstra mais ousadia e criticidade ao lidar com o tema. Obvious Child não é uma reflexão sobre o aborto (e nem quer ser), afinal de contas, o tema aparece de forma tão natural que em momento algum alguém questiona a prática. O dilema de sua personagem é outro: deve contar ao pai da criança que está grávida ou não? A pergunta ecoa pela mente de Donna Stern (Jenny Slate), uma comediante que ganha a vida em números de stand up em bares de pouco prestígio. Quando a conhecemos, ela está prestes a receber um fora do namorado que cansou dela fazer piada sobre a intimidade dos dois sobre o palco - e se você não achar graça das piadas dela no número de abertura, a coisa piora consideravelmente quando ela entre em crise consigo mesma e os rancores de ser trocada por outra tomam conta de seu (mau) humor. Numa das noites em que se apresenta ela conhece Max (Jake Lacy), um rapaz educado, meio tímido e inteligente com quem acaba passando a noite... tempos depois descobre que está grávida dele. Começa então o dilema de Donna, que passa a evitar o rapaz enquanto pensa na melhor maneira de contar para ele que está esperando um filho e disposta a abortar. Embora Jenny Slate (indicada a vários prêmios) use várias gracinhas para que simpatizemos com sua personagem, ela faz questão que percebamos a dificuldade de Donna em lidar com a vida de forma séria (tanto que momentos tristes de sua vida precisam ser passados no palco, mesmo que não gerem risadas, apenas constrangimento para ela ou para quem a assiste nos shows). Sempre há uma gracinha ou uma piadinha (algumas até bastante grosseiras) que servem para demonstrar o quanto a personagem tem problemas de lidar com seus sentimentos por Max (que merece um prêmio por compreender toda a instabilidade de Donna). Obvious Child não gera muitas risadas, não causa suspiros, mas um certo incômodo da forma infantilizada como Donna encara a vida. Quanto ao aborto, eu nem vou entrar no debate sobre a forma como aparece no filme, já que nos EUA a prática é legalizada desde 1973, o que torna muito provável que não existam tantos conflitos como imaginamos que o filme possa explorar. Porém, independente do que a personagem faça no final, a naturalização do tema deixou o texto um tanto inconsistente, tornando-se mais uma comédia romântica açucarada. Talvez a ideia funcionasse melhor no curta-metragem de Gillian Robespierre que foi lançado em 2009.

Entre Risos e Lágrimas (Obvious Child/EUA-2014) de Gillian Robespierre com Jenny Slte, Jake Racy, Gabby Hoffman e Richard Kind. ☻☻

segunda-feira, 20 de abril de 2015

MOMENTO ROB GORDON: Clipes de David Fincher

Quem curte o trabalho de Fincher o considera detalhista, perfeccionista, arrojado e estiloso. Já quem não aprecia... o considera presunçoso, arrogante, convencido e pretensioso. O melhor disso tudo é que ele não está nem aí para as críticas que recebe. Prestes a completar 53 anos, sendo os últimos 23 voltados para sua carreira no cinema, ele já soma duas indicações ao Oscar de direção e seus novos projetos são sempre muito aguardados. David começou a carreira dirigindo filmes publicitários e clipes - e era um dos mais cobiçados do ramo. A seguir os meus videos favoritos assinados por ele: 
5 - Janie's got a gun / Aerosmith (1989)
O que mantém o clássico clipe do Aerosmith no páreo é o fato de além das performances de palco, o vídeo contar uma história - e nessa parte que podemos ver o futuro cineasta: os movimentos de câmera, a luz utilizada nas cenas, os cortes precisos e uma elegância cênica que era incomum dos vídeos dos anos 1980. Fincher dirigiria seu primeiro filme três anos depois.

4 - Only / Nine Inch Nails (2005)
Já consagrado no cinema, os clipes ficaram definitivamente para trás. Depois dos trabalhos cinematográficos com Trent Reznor e seu Nine Inch Nails, já estava na hora de assinar um clipe do músico. O resultado é o inventivo Only, considerado um dos melhores do ano. Vale lembrar que pelo trabalho ao lado de Fincher em A Rede Social, Trent Reznor levou um Oscar pela trilha do filme.  O cineasta só dirigiu outro vídeo oito anos depois - para a dupla Justin Timberlake e Jay-Z (Suit & Tie). 

3 - Loving Is Strong / Rolling Stones (1994)
 A ideia era tão simples, mas precisava de alguém brilhante para executá-la. Fincher, literalmente, agiganta a sexualidade que emana das canções dos Rolling Stones e cria um dos clipes mais sensacionais dos anos 1990. Love Is Strong traz a banda de Mick Jagger e modelos belíssimas mostrando com quanta altura se faz um clássico. 

2 Freedom'90 / George Michael (1990)
Na virada da década, David Fincher era um dos nomes mais cobiçados no mundo dos clipes. Em 1990 ele criou quatro que entraram na lista dos dez melhores daquele ano - mas o teor de beldades deste clipe de George Michael é insuperável até hoje. Depois de brigar com a gravadora, o cantor recusou-se a fazer clipes para divulgar seu álbum "Listen without Prejudice" e a saída foi escalar as maiores tops da década: Cindy Crawford, Naomi Campbell, Linda Evangelista, entre outras, emprestaram a beleza para o clipe que rendeu a Michael o prêmio da MTV de melhor performance masculina do ano... parece que ninguém percebeu que ele nem aparecia no vídeo. 

1 Vogue / Madonna (1990)
Madonna era a cliente favorita do clipeiro Fincher, com a cantora foram feitos os vídeos de Express Yourself (1989), Oh Father (1989), Vogue (1990) e Bad Girl (1993). Fincher foi fundamental para Madonna terminar a década de 1980 distante da imagem do início de carreira, assumindo a imagem de uma rainha da música pop. Vogue tornou-se uma febre com sua coreografia inspirada nas fotos da famigerada revista e tomadas que lembravam as grandes divas de Hollywood. O cineasta demonstrava aqui que sabia exatamente que botões apertar para seduzir o público - e que seu perfeccionismo caía como uma luva no casamento de som e imagem. 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

CATÁLOGO: Vidas em Jogo

Douglas: não por acaso, encontra um palhaço de brinquedo. 

David Fincher estava com tudo quando estava para lançar The Game. Afinal, depois do sucesso de Se7en (1995) - que passou a ser ainda mais valorizada com o passar dos anos -, o diretor foi reconhecido cineasta e não mais como diretor de clipes. O passado de sua estreia cinematográfica com o criticado Alien³ (1992) também ficou para trás e o seu futuro era muito promissor. No entanto, Vidas em Jogo começou  a dar problemas antes de seu lançamento, quando (ninguém sabe exatamente o motivo), os agentes de Michael Douglas encrencaram com Jodie Foster ser a irmã do protagonista interpretado por ele. Apesar da saia justa, os produtores acabaram mudando o sexo do personagem e ele acabou interpretado por Sean Penn. Durante as filmagens, o detalhismo de Fincher também começou a aborrecer produtores e elenco, já que o diretor tem fama de repetir a mesma cena até setenta vezes (!!!)  para escolher a que considera a mais adequada. Depois de atrasos na filmagem, o problema foi o corte final, já que o consenso foi demorado. Quando chegou às telas o filme foi elogiado por sua plasticidade, mas sofreu críticas por sua história vazia e final constrangedor. Curioso é que o final de Se7en foi crucial para o seu sucesso surpreendente, além de estabelecê-lo como um marco no gênero (sendo copiado infinitamente desde então), mas aqui o diretor perdeu a chance de fazer o mesmo. A história gira em torno do banqueiro milionário prepotente Nicholas Van Orton (Michael Douglas), solitário, ele está prestes a completar 48 anos e seu irmão resolve lhe dar um presente diferente. Esse é o ponto de partida para que Orton se envolva num jogo de situações cada vez mais perigosas, que colocam a sua vida em risco constante. Esse fiapo de história serve para gerar cenas mirabolantes de ação com efeitos especiais bem utilizados, mas que não conseguem disfarçar que o filme não tem nada a dizer, ou melhor, você tem que ser muito gentil se acha que merece ver Nicholas Von Orton ter suas contas bancárias violadas, a casa destruída, ser quase assassinado várias vezes e beirar o suicídio porque, simplesmente, estava se tornando um idiota. O pior é que não é nem a sucessão de cenas bem filmadas e mirabolantes que atrapalham o filme, mas o que faz o suspense de Vidas em Jogo tornar-se uma tragédia é justamente o seu final, que deveria trazer alguma novidade, algum sentido a tudo aquilo e simplesmente joga tudo no lixo. Sempre que vejo o filme tenho pena de Fincher pelo esmero na direção de um filme que destrói a si mesmo no último ato mais cretino de sua cinematografia. 

Vidas em Jogo (The Game/EUA-1997) de David Fincher com Michael Douglas, Sean Penn, Deborah Kara Unger, James Rebhorn e Peter Donat. ☻☻

PÓDIO: Joaquin Phoenix

Bronze: o imperador psicótico
GLADIADOR (2000)
Nascido em Porto Rico em 28 de outubro de 1974, Joaquin sempre foi bom ator (desde os tempos em que assinava Leaf Phoenix até Parenthood/1989), mas o sobrenome sempre o deixava à sombra do irmão, o lendário River Phoenix (que faleceu em 1993 aos 23 anos). Joaquin tinha 25 anos quando foi indicado ao Oscar pela primeira vez (como coadjuvante) pelo seu trabalho como o imperador romano Commodus. Sem escrúpulos, a sede de poder do personagem beira a psicopatia - e Joaquin deixa claro como se diverte no papel cheio de ambiguidades (trai o protagonista, assassina o pai, flerta com a irmã...) tudo o que o ator precisava para cravar seu nome entre os melhores de sua geração. 

Prata: o apaixonado. 
ELA (2013)
Adepto a papéis estranhos, o ator pegou todos de surpresa quando viveu o romântico Theodore no último filme de Spike Jonze. Num futuro, não muito distante, Theo tenta sobreviver ao divórcio enquanto ganha a vida escrevendo cartas para pessoas que nem conhece. Sua vida passa a tomar outro rumo quando ele se apaixona por um sistema operacional chamado Samantha (com voz de Scarlett Johansson). O filme revela-se uma das melhores histórias de amor dos últimos anos - e mostra que o ator é mais versátil do que a maioria dos seus críticos imaginava. 

Ouro: Johnny Cash. 
1º JOHNNY & JUNE (2005)
Sei que muita gente estava contando com a atuação perturbada em O Mestre/2012 (que lhe rendeu outra indicação ao Oscar de ator) nesse pódio, mas eu considero que a atuação do astro foi prejudicada pela narrativa irregular do filme. Por isso, prefiro a personificação do ator como Johnny Cash. Pode-se dizer que a versão do casal Cash no filme é mais branda que da vida real, mas o fato é que sempre que Joaquin segura o violão e solta aquele vozeirão eu realmente penso que ele é o verdadeiro homem de preto! Some isso à química com Reese Witherspoon e o filme funciona muito bem. Pela atuação Phoenix foi indicado ao Oscar na categoria de ator principal pela primeira vez.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Na Tela: Vício Inerente

Katherine e Joaquin: paródia noir setentista. 

Devo confessar que fui assistir ao novo filme de Paul Thomas Anderson com baixa expectativa. Afinal, fiquei realmente escaldado com O Mestre, que das expectativas pós Sangue Negro/2007, revelou-se uma egotrip cansativa acima de todas as suas alardeadas qualidades. O efeito disso para quem ofertou seu coração ao cineasta após ver Boogie Nights/1997 e Magnólia/1999 não era fácil de ser digerido. Então vieram todas aquelas informações sobre a adaptação do diretor para a obra (dita inadaptável) Inherent Vice de Thomas Pynchon. Some às críticas complicadas no lançamento do filme e você poderá imaginar como eu esperava pouco do novo filme de Paul. Talvez tudo que estava contra ele tenha ajudado à apreciação dessa viagem noir lisérgica do diretor. O filme conta a história do detetive Larry "Doc" Sportello (Joaquin Phoenix), que recebe a visita de sua ex-namorada Shasta Fay Hepworth (Katherine Waterston) que se envolveu com um casal milionário metido  em tramoias. Não demora para que Shasta desapareça e Doc considere uma questão de honra encontrá-la. Esse é o pretexto para o personagem encontrar com uma verdadeira fauna setentista, como uma ex-viciada em heroína com dentes enormes (Jena Malone) que não sabe o paradeiro do esposo (Owen Wilson) - que torna-se o informante misterioso de Doc -, prostitutas que sabem mais do que deviam e outros personagens que estão lá mais para apontar para direções (que logo poderão ser abandonadas) ou simplesmente complicar mais ainda a vida de Doc - como o estranho policial "Bigfoot" Bjornsen (Josh Brolin, que muita gente acreditava que seria indicado ao Oscar pelo papel) ou outros tantos sujeitos com nomes bizarros (Adrian Prussia, um advogado chamado Sauncho Smilax, uma patricinha doidona chamada Japonica Fenway, um brutamontes chamado Puck Beaverton, sem falar em Chlorinda, Sortilège, Petunia, Amethyst...). Quem não perder tempo buscando sentido na trama apreciará o longa muito mais do que quem levar a sério todo o mistério que o filme sugere existir. Vício Inerente foi acusado de ser confuso, mas convenhamos que dez entre dez filmes noir são confusos com o seu emaranhado de crimes e personagens e, desse emaranhado, que surge o que o gênero possui de mais envolvente. O fato é que ao ambientar a busca de seu detetive viajandão na década de 1970, com personagens hippies, teorias conspiratórias, drogas, nazistas (?!) e sexo livre, todos os elementos do gênero ganham uma cara nova que beira a paródia. Todos os elementos noir estão lá, como o detetive confuso (ainda mais com o uso constante de maconha - e talvez por isso Robert Downey Jr. tenha abandonado o papel, já que agora seu passado doidão ficou para trás e é bom ninguém lembrar dele...), a femme fatale (numa atuação nasce-uma-estrela de Katherine Waterston), policiais corruptos, informantes escorregadios, pistas falsas... no entanto, não existe suspense a produzir, apenas uma espécie de brincadeira do diretor com todos esses signos na construção de um painel imaginário de sua adorada Los Angeles através da escrita de Pynchon. O Oscar entendeu o recado e indicou Anderson ao prêmio de roteiro adaptado (além de indicar o filme ao prêmio de melhor figurino). Vício Inerente me agrada mais do que a pompa de O Mestre, sua estranheza é mais pulsante do que o tom morno exibido naquele filme. Além disso, o fato de Paul Thomas Anderson conseguir atores de prestígio para participações especiais inusitadas em seu filme (Benício Del Toro, Reese Witherspoon, Maya Rudolph, Eric Roberts, Martin Short...), prova que o moço está cada vez mais próximo de seu ídolo, Robert Altman - além disso, faz esse humilde fã respirar aliviado diante da criatividade de um dos seus cineastas favoritos. 

Vício Inerente (Inherent Vice/EUA-2014) de Paul Thomas Anderson com Joaquin Phoenix, Katherine Waterston, Josh Brolin, Joanna Newson, Owen Wilson, Reese Witherspoon e Maya Rudolph. ☻☻☻☻

FESTIVAL DE CANNES 2015

Hoje a organização do Festival de Cannes divulgou a preciosa lista de filmes que serão exibidos esse ano e a lista faz qualquer cinéfilo salivar de expectativa! Se levarmos em consideração que os finalistas do Oscar desse ano Foxcatcher, Dois Dias, Uma Noite, Relatos Selvagens, Mr Turner, Como Treinar seu Dragão 2, Sal da Terra e Força Maior (além dos que chegaram muito perto de indicações como Mommy e The Homesman), dá para entender por que, ainda que ambientado em maio (esse ano com início no dia 13) o Festival ainda é inabalável. Esse ano ele conta com os novos de Todd Haynes, Dennis Villeneuve, Gus Van Sant, Paolo Sorrentino, Jacques Audiard, Nanni Moretti, Woody Allen e (até) Natalie Portman estreando na direção. A seguir a lista dos candidatos a filmes que darão o que falar em 2015:

Seleção Oficial 
“The Assassin” (dir. Hou Hsiao-Hsien)
“Carol” (dir. Todd Haynes)
“Dheepan” (dir. Jacques Audiard)
“The Lobster” (dir. Yorgos Lanthimos)
“Louder Than Bombs” (dir. Joachim Trier)
“Macbeth” (dir. Justin Kurzel)
“Marguerite et Julien” (dir. Valerie Donzelli)
“Mia Madre” (dir. Nanni Moretti)
“Mountains May Depart” (dir. Jia Zhangke)
“My King” (Maiwenn)
“Our Little Sister” (dir. Hirokazu Kore-eda)
"Sea Of Trees" (dir. Gus Van Sant)
"Sicario" (dir. Denis Villeneuve)
“A Simple Man” (dir. Stephane Brize)
“Son Of Saul” (dir. Laszlo Nemes)
“The Tale Of Tales” (dir. Matteo Garrone)
“Youth” (dir. Paolo Sorrentino)

Mostra "Un Certain Regard"
 “The Chosen Ones” (dir. David Pablos)
“Fly Away Solo” (dir. Neeraj Ghaywan)
“The Fourth Direction” (dir. Gurvinder Singh)
“The High Sun” (dir. Dalibor Matanic)
“I Am A Soldier” (dir. Laurent Lariviere)
“Journey To The Shore” (dir. Kiyoshi Kurosawa) 
“Madonna” (dir. Shin Suwon)
“Maryland” (dir. Alice Winocour)
“Nahid” (dir. Ida Panahandeh)
“One Floor Below” (dir. Radu Muntean)
“The Other Side” (dir. Roberto Minervini)
“Rams” (dir. Grimur Hakonarson)
“The Shameless” (dir. Oh Seung-Uk)
“The Treasure” (dir. Corneliu Porumboiu)

 Fora de Competição
“Inside Out” (dir. Pete Docter & Ronaldo Del Carmen)
“The Little Prince” (dir. Mark Osbourne) 
“Mad Max: Fury Road” (dir. George Miller)
“Standing Tall” (“dir. Emmanuelle Bercot) — Filme de Abertura

Exibições Especiais 
“Amnesia” (dir. Barbet Schroeder)
“Asphalt” (dir. Seamuel Benchetrit)
“A Tale Of Love & Darkness” (dir. Natalie Portman)
“Hayored Lema’ala” (dir. Elad Keidan)
“Irrational Man” (dir. Woody Allen)
“Panama” (dir. Pavle Vuckovic)
“Oka” (dir. Souleymane Cisse)

Mostra da Meia-Noite
 “Amy” (dir. Asif Kapadia)
“Office” (dir. Hong Won-Chan)

Cannes Classics
 “Ingrid Bergman: In Her Own Words”

quarta-feira, 15 de abril de 2015

PL►Y: Amores Imaginários

Xavier e Monia: amigos apaixonados pelo mesmo rapaz. 

Não deixa de ser surpreendente que quando Amores Imaginários foi lançado no Brasil, seu diretor, o canadense Xavier Dolan, tivesse apenas 22 anos. Depois de chamar atenção em sua estreia com Eu Matei a Minha Mãe! (2009), o rapaz mudou sua estética e tornou-se mais contido em seu segundo longa. Com fotografia que parece emoldurar um sonho, ele interpreta Francis, o melhor amigo de Marie (Monia Chokri). Os dois vivem grudados e vivendo experiências amorosas frustrantes com relacionamentos que mal duram uma noite. A vida do casal de amigos sofre mudanças quando o loiro Nicolas (Niels Schneider) cruza seus caminhos numa festa e se torna objeto de desejo de ambos. Assim, o que era uma dupla inseparável, torna-se um trio cada vez mais próximo, seja pelos interesses compartilhados por cinema e música, ou pelas segundas intenções que Francis e Marie nutrem pelo rapaz. Dolan não demonstra nenhum traço da histeria de sua estreia atrás das câmeras, preferindo uma abordagem mais sutil e contemplativa dos sentimentos conflituosos que começam a existir no trio quase amoroso. Afinal, somente no final, existem declarações de amor entre eles e o resultado era mais saboroso quando imaginário do que quando torna-se concreto - já que o sabor de desgosto é praticamente inevitável. Dolan (que começou a carreira como ator mirim na TV canadense), apresenta Francis como uma espécie de versão madura de Hubert Minel (seu personagem no filme anterior), numa espécie de possibilidade do que poderia ser o seu futuro (não por acaso, sua mãe nem aparece em cena, ou melhor, aparece, já que Anne Dorval faz uma breve participação como a mãe estapafúrdia de Nicolas). No entanto, apesar de ser a gênese de um quase triângulo amoroso, a relação de Marie com Francis é o que chama mais atenção em cena - já que formam uma espécie de casal perfeito até que a competitividade se instaure entre os dois. Ainda que não expresse em palavras, Amores Imaginários nutre-se especialmente do ciúme que os personagens despertam um no outro (seja como amigos ou amantes)  ou da própria solidão que emana deles. No entanto, o texto e a direção de Dolan nunca caem no lugar comum, deixando muito a cargo da mente do espectador. Por isso, torna-se importante ficar atento aos comentários em estilo documental aparentemente soltos de que podem revelar mais sobre Nicolas do que você imagina. Visualmente mais exuberante que seu filme anterior, o longa demonstra que Dolan pretendia amadurecer como diretor e, ainda que abordando mais uma vez um personagem homossexual, seu interesse está além de criar histórias voltadas para o público GLSBT. A naturalidade como retrata a sexualidade de seus personagens, sem gratuidade ou sensacionalismo, mostra-se aqui um dos seus maiores méritos. 

Anores Imaginários (Les Amours Imaginaires/Canadá-2010) de Xavier Dolan, com Xavier Dolan, Monia Chokri, Niels Schneider e Anne Dorval. 

CATÁLOGO: Domésticas

Domésticas: o cartão de apresentação de Fernando Meirelles. 

Depois de patinar com o pretensiosamente oco 360 lançado em 2011, Fernando Meirelles tem investido cada vez mais em trabalhos para a televisão, tanto que desde então seu único trabalho para o cinema foi no episódio "A Musa" do longa Rio, Eu Te Amo (2014). É engraçado que nessa espécie de hiato eu tenha visto seu primeiro longa metragem: Domésticas. Há de se dizer que o filme mal teve tempo de ser descoberto, já que pouco depois o diretor lançou o famigerado Cidade de Deus (2001), que deixou claro que no cinema brasileiro existia a possibilidade de criar uma obra de qualidade irrepreensível, digna de ser reconhecida mundialmente. Baseado na peça de Renata Mello, Domésticas é composto de pequenas histórias entrelaçadas sobre o cotidiano de um grupo de empregadas de São Paulo. As tramas são contadas com muito humor e com um olhar particular para as personagens que geralmente se reduzem a coadjuvantes na dramaturgia mundial. As histórias são costuradas por algumas cenas que parecem documentais, onde os atores olham diretamente para a câmera e tecem comentários como se fossem entrevistas. O elenco é excelente e chama a atenção para personagens como Roxane (Graziela Moretto) que sonha em ser modelo, Créo (Lena Roque) que tem problemas com a filha que não quer seguir na profissão, Rai (Cláudia Missura) que sonha em casar, Quitéria (Olivia Araújo) que não consegue estabilidade com patroa alguma e Cida (Renata Melo) que enfrenta problemas no casamento. Misturado às personagens femininas estão os homens que ajudam a compor um universo interessante. Existem cenas impagáveis como a que Créo procura ajuda com um pai de santo ou nas desventuras de Roxane num dilema com a profissão mais antiga do mundo. Com diálogos espirituosos (que tentam se equilibrar numa linha finíssima entre o divertido e o preconceituoso) e trilha sonora brega, Fernando Meirelles já demonstrava aqui sua preocupação técnica com a narrativa e o desenvolvimento dos personagens. Além disso, existe um subtexto social muito interessante nas situações que os personagens atravessam. Bem fotografado, editado e filmado, o diretor já demonstrava sua inquietação em busca da construção de uma narrativa mais moderna do que os diretores brasileiros estavam acostumados. Domésticas pode até não ser perfeito, mas consegue ser um dos filmes mais divertidos que o Brasil já produziu nesse século. 

Domésticas (Brasil/2001) de Fernando Meirelles com Olivia Araújo, Graziela Moretto, Cláudia Missura, Renata Melo, Tiago Moraes, Robson Nunes, Gero Camilo, Roberta Garcia, Cecília Homem de Mello e Luís Miranda. 

NªTV: DEMOLIDOR (NETFLIX)

Cox como Matt Murdock: guinada no mundo Marvel. 

Houve uma certa comoção quando o NETFLIX lançou os treze episódios de sua série original Demolidor, junto à Marvel, no dia dez de abril. Se você ainda não assistiu a todos os episódios... está esperando o que? A série estabelece uma nova linguagem para a produtora de Os Vingadores/2012, uma vez que investe num universo mais sombrio e agressivo do que as adaptações de seus heróis para a telona. Não por acaso, Demolidor parece ter sido a aposta certa para essa guinada, afinal, foi o mesmo personagem que criou uma quebra nos paradigmas da editora - quando Frank Miller, na década de 1980, tornou suas histórias mais voltadas para o público adulto. Embora exista Marvel's Agents of S.H.I.E.L.D (cria direta dos Vingadores) e Agente Carter (cria de Capitão América/) foi o NETFLIX que beneficiou-se da repaginada de sua linguagem, especialmente no herói em questão depois que Ben Affleck padeceu com seu longa-metragem lançado em 2003. A série passa uma borracha no filme e começa na origem do personagem, quando seu alter-ego Matt Murdock começou a trabalhar como advogado e combatia o crime no muque durante a noite. A série mostra como Matt, ainda criança, teve que lidar com a cegueira e os sentidos aguçados por um acidente. Matt ainda tem o passado revelado em flashbacks, que contam um pouco de sua história ao lado do pai - que ganhava a vida no ringue - enquanto no presente, o personagem se encontra outros personagens dos quadrinhos. Coube ao inglês Charlie Cox (visto recentemente em A Teoria de Tudo/2014) vestir o uniforme do herói na série - e ele faz como manda o figurino. O herói promete gerar uma grande mudança na carreira do ator, que ganhou o primeiro papel de destaque na adaptação de outra HQ: Stardust (2007) de Matthew Vaughn. Quem estava acostumado com a aparência serena do ator deve se surpreender com sua personificação de Matt Murdock depois de dieta e malhação. Cox mostra-se muito a vontade no personagem, especialmente nas cenas de luta fenomenais (a que fecha o segundo episódio é espetacular em sua ação desenfreada e sem cortes). No entanto, os fãs dos longas da Marvel não terão do que reclamar, já que a série é ligada ao universo da editora. Agindo no soturno bairro de Hell's Kitchen, Demolidor enfrenta vilões que estão diretamente vinculados à reconstrução da cidade de Nova York depois que Thor, Homem de Ferro e seus amigos tiveram que deter a ameaça alienígena no filme mais bem sucedido do estúdio. Porém, Demolidor mostra o outro lado do mundo Marvel, um lado mais realista, com políticos corruptos, empreiteiras mal intencionadas, imprensa em busca de notícias, máfias, gangsteres, quadrilhas... sem um martelo mágico ou armadura multifacetada, O Demolidor tem apenas as habilidades de luta e inteligência aguçada pelos sentidos para combater os inimigos.  Animados com a repercussão da série (que fazem os fãs delirarem com os indícios dos rumos que o universo da editora tomará na telinha), Demolidor promete ter vida longa e injetar novo fôlego nas produções da Marvel. 

Demolidor (Daredevil/EUA-2015) de Drew Goddard com Charlie Cox, Deborah Ann Woll, Elden Helson, Vincent D'Onofrio, Wai Ching Ho e Rosario Dawson. ☻☻☻

terça-feira, 14 de abril de 2015

PL►Y: Antiviral

Caleb: a idolatria como doença sem cura. 

David Cronenberg ficou reconhecido na década de 1980 com filmes de horror que mexiam com os sentidos e o estômago da plateia. Com a chegada do século XXI, ele tornou seu estilo menos grotesco, mas continuou a provocar. Acho que se perguntassem para Brandon Cronenberg, filho do cineasta, qual a melhor fase da carreira de seu pai, ele responderia, com certeza absoluta, que é a de décadas atrás. Antiviral marca a estreia de Brandon em longa metragem e, ao contrário de muitos filhos de diretores que preferem criar uma voz distante do legado paterno, Brandon prefere mergulhar fundo na cinematografia do pai. O filme retrata um futuro onde as pessoas são tão obcecadas por celebridades que são capazes de se contaminarem com as mesmas doenças que seus ídolos, apenas para sentirem que compartilham as mesmas sensações (febre, enjoo, náusea, dores pelo corpo...) dos seus famosos favoritos. É em uma empresa que fatura alto com essa venda de doenças de celebridades que trabalha o estranho Syd March (Caleb Landry Jones), além de convencer os fãs a se contaminarem com os produtos da empresa, Syd ainda fatura uns trocados contrabandeando os vírus  para empresas concorrentes utilizando o próprio corpo. Por conta de sua atividade ilícita (já que as doenças são patenteadas e alteradas para que não contaminem ninguém de graça, somente o fã que a comprou), Syd vive doente, se alimentando a base de sanduíches e suco de laranja. Num mundo onde as pessoas cobiçam a herpes de beldades como Hannah Geist (Sarah Gadon) ou a febre de Aria Noble (Nenna Abuwa), Syd recebe a missão de comprar a nova doença de uma dessas estrelas, mas com a esperança de contrabandear o tal vírus, acaba se contaminando com uma doença rara, incurável e mortal. A partir desse momento, enquanto o organismo de Syd deteriora-se, Brandon Cronenberg mergulha sem pudores no que o cinema de seu pai tinha de mais grotesco. Misturando referências que vão de Videodrome (1983) até A Mosca (1986), o que contamina a limpidez da brancura de sua estética. O diretor vai de encontro à temática que seu pai retrata em suas obras mais recentes (Cosmópolis/2012 e Mapas para as Estrelas/2014) sobre o culto exagerado à vida das celebridades e a sociedade alienante que o alimenta. Exibido no Festival de Cannes em 2012, o filme chamou atenção pela ousadia do diretor estreante, não satisfeito ele reeditou o filme com seis minutos a menos - e eu teria cortado mais alguns. Pode-se dizer que o filme tem quatro atos, sendo que a partir da metade, começa cansar em suas tentativas de gerar surpresas para o espectador, perdendo a oportunidade de ser mais enxuto (a parte em que Syd fica preso a um reality show poderia ter sido cortada sem pensar duas vezes). Apesar de seus tropeços, Antiviral consegue ter um final ainda mais estranho do que tudo o que vemos em sua projeção, mas devo ressaltar que a atuação de Caleb Landry Jones tem papel importante no cumprimento dos objetivos do diretor. O ator de vinte e e cinco anos pode ser lembrado como o mutante Banshee de X-Men: Primeira Classe/2011, mas é em personagens obscuros como o vivido em O Último Exorcismo (2010) e Antiviral que ele se mostra mais a vontade. Com uma expressividade que lembra a de um jovem Willem Dafoe, Caleb promete fazer uma carreira bastante interessante, assim como o jovem Cronenberg. 

Antiviral (Antiviral/Canadá-França/2012) de Brandon Cronenberg com Caleb Landry Jones, Sarah Gadon, Douglas Smith, Salvatore Antonio e Lisa Berry. ☻☻☻