Pan, Tigrinho, Gancho e Barba Negra: prelúdio desnecessário.
Tenho uma relação muito especial com a história de Peter Pan, afinal o desenho da Disney, inspirado na obra de J.M. Barrie, foi o primeiro filme que assisti no cinema. Além disso, o livro de Barrie foi um dos primeiros livros que li na minha infância. Eu também fiquei bastante satisfeito com a versão do australiano P.J. Hogan para a história clássica do menino que não pode crescer e suas encrencas com Capitão Gancho. O filme de Hogan foi um verdadeiro primor, já que sem estar preocupado em ser a versão em carne e osso do desenho, o cineasta investiu em novas camadas na relação entre os personagens - o que o deixava mais original. No entanto, nunca entendi muito bem o motivo que levou Steven Spielberg a fazer Hook - A Volta do Capitão Gancho onde um Robin Williams sem graça fazia Peter Pan envelhecido e desengonçado quando precisa lembrar de sua verdadeira história. Não entendi qual era a graça de pegar um personagem e fazer dele o total oposto do que o torna especial. De certa forma é isso que sinto ao assistir a nova versão de Peter Pan do diretor Joe Wright, mas sei que o problema está mesmo no roteiro de Jason Fuchs - afinal que tipo de sujeito se preocupa em saber a origem de um personagem tão mágico quanto Peter Pan? No menor dos estragos o personagem perderia sua magia em explicações que deveriam fazer Barrie levantar do túmulo! Mas o filme faz mais do que isso, ao trazer um personagem que não traz as mesmas características que o fizeram tão intrigante. Sai o menino voador insolente, arrogante e avesso ao mundo adulto e entra em cena um garoto tímido, frágil e inseguro que precisa aprender a voar (e escrito assim parece ainda mais desinteressante). O novato Levi Miller é esforçado, mas seu personagem está muito longe de ser o Peter Pan que conhecemos. Na concepção de Fuchs até Capitão Gancho (vivido por Garrett Hedlund) tem as duas mãos e está ao lado do mocinho, deixando que o vilão seja o lendário Barba Negra (Hugh Jackman) - que consegue ser tão assustador quanto as freiras malvadas que vendem as crianças órfãs para piratas voadores. São os piratas que levam Peter para a Terra do Nunca, onde deverá trabalhar ao lado dos garotos perdidos e bucaneiros em busca de Pixum, um cristal que dá origem ao pó de fadas. Para os fãs pode ser atraente o fato dos personagens da história original aparecerem no prelúdio - é divertido ver um jovem Smiegel (Adeel Akhtar) e um tanto frustrante ver Princesa Tigrinho na palidez de Rooney Mara. É verdade que Joe Wright cria um visual de primeira e ousa ao colocar piratas e crianças cantando Nirvana e Ramones como se fossem hinos, mas a coisa acaba ficando Moulin Rouge/2000 demais para uma história que não consegue decidir qual é seu público alvo. Entre agradar adultos, adolescentes e crianças, o filme investe num ritmo constante de aventura, que deixa pouco espaço para celebrar Peter Pan por tudo que ele representa. Penso que os melhores filmes não são sobre o antes ou o depois do personagem, mas os que abraçam a história lançada em 1911 por J.M. Barrie com Peter do jeitinho que ele é (nada contra releituras criativas, mas do jeito que Spielberg e Wright fizeram, elas são bem menos interessantes). Pelo menos o filme de Wright tem Hugh Jackman como um pirata afetado que abusa da pompa teatral em seus trajes negros de explorador espanhol.
Peter Pan (Pan / EUA-2015) de Joe Wright com Levi Miller, Hugh Jackman, Rooney Mara, Adeel Akhtar, Garrett Hedllund e Amanda Seyfried. ☻☻
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