Eduardo, Rickson e Gabriel: para inglês ver.
Somente com Billy Elliot (2000) e As Horas (2002) o inglês Stephen Daldry está entre os meus cineastas favoritos - aquele grupo seleto de diretores que faz você esperar ansiosamente pelo próximo trabalho. Depois de O Leitor (2008) e Tão Forte e Tão Perto (2011) o diretor se firmou como um dos favoritos do Oscar, já que todas as suas obras foram indicadas em categorias importantes (três deles concorreram na categoria de melhor filme e o primeiro ao prêmio de melhor diretor). No entanto, ainda não consigo entender o que o motivou a criar uma obra tão genérica quanto Trash. Essa incompreensão me fez procurar saber mais sobre a origem da história. No elogiado livro de Andy Mulligan, a história se passa num futuro distópico (a palavra da moda) onde um grupo de crianças vivem num lixão e descobrem algo que faz com que sejam perseguidas por policiais corruptos. Ao comprar os direitos da adaptação para o cinema, Daldry pensou no Brasil para realizar as filmagens, cercando-se de bons atores locais e profissionais variados. Ou seja, sabendo disso, dá até para relevar o que mais me incomoda no filme: o fatos dos meninos de rua conhecerem a língua inglesa o suficiente para conversar com missionários americanos e desvendar enigmas que inclui versículos bíblicos em inglês. Tendo a origem numa história de "fantasia" ela não precisa ser totalmente comprometida com a realidade - mesmo que um diretor inglês a filmá-la por aqui sob tom realista. Ou seja, se você não comprar a ideia, provavelmente você terá a mesma sensação de que algo não se encaixa durante todo o filme. Estão lá os meninos de rua em condições precárias de vida, os policiais corruptos (liderados por Selton Mello), o advogado militante que foi preso durante um período obscuro da política nacional e dois missionários americanos - o padre vivido por Martin Sheen e a professora vivida por Rooney Mara, que são os únicos capazes de ajudar o trio de meninos (mas que estão completamente deslocados na história). Com a ajuda de Christian Duurvoort, que assina como co-diretor e é mais conhecido como preparador de elenco da produtora O2 de Fernando Meirelles, Daldry consegue driblar alguns percalços do caminho de escolher o Brasil para contar uma história que sempre tropeça quando precisa ceder aos interesses do mercado internacional. Para quem acompanha o cinema brasileiro, Trash soa como a versão diluída de Cidade de Deus (2002) misturado com Cidade dos Homens (2007) numa trama de aventura urbana com muita correria e edição moderninha. Sorte que os meninos Gabriel (Gabriel Weinstein), Rafael (Rickson Tevez) e Gardo (Eduardo Luis) dão conta do recado mesmo nas cenas pouco agradáveis de assistir. Em sua realidade quase surreal, Trash é apenas irregular necessitando de um amparo político-social num contexto que escapa a Daldry. Ainda que bem produzido, o resultado é um favela movie para inglês ver, literalmente.
Trash - A Esperança Veio do Lixo (Trash / Reino Unido - Brasil / 2014) de Stephen Daldry com Eduardo Luis, Gabriel Weinstein, Rickson Tevez, Eduardo Luis, Selton Mello, Rooney Mara, Martin Sheen, Wagner Moura e Nelson Xavier. ☻☻
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