Fiennes e Nicole: mistério no deserto australiano.
Exibido no Festival de Sundance no ano passado, o filme de estreia da australiana Kim Farrant seria uma boa aposta para Nicole Kidman fazer bonito nas premiações, mas a repercussão do filme não foi tão positiva quanto imaginavam, no entanto, vale a pena conferir a atmosfera de mistério que a diretora imprime à sua narrativa. O roteiro segue o drama do casal Parker, Catherine (Nicole) e Matthew (Joseph Fiennes) se mudaram a pouco tempo para uma cidade perto do deserto australiano de Nathgari e mal se acostumaram com o novo local que escolheram para morar, o casal precisa lidar com o desaparecimento dos dois filhos adolescentes. Farrant se preocupa menos com a trama policial que o desaparecimento desencadeia e mais com os conflitos gerados a partir dali. A busca serve apenas de pano de fundo para conhecermos um pouco mais sobre aquele casal reservado. Além dos problemas que tiveram no passado começarem a aparecer, o desespero da dupla faz com que se deparem com todo o tipo de explicação (algumas relacionadas à conduta da filha desaparecida, outras com preconceitos e até o folclore da região), pode até parecer que Farrant explora pouco as justificativas que aparecem pelo caminho, mas a diretora, de fato, está mais preocupada com a dimensão humana da história - tanto que quando um fato parece trazer respostas, as coisas ficam ainda mais confusas. Sendo assim, a sorte é de Nicole Kidman que apresenta uma atuação vigorosa, tensa e angustiada, conseguindo passar as emoções da mãe que não consegue lidar com o desaparecimento dos filhos no meio da noite. Conforme ela descobre um lado desconhecido da personalidade de sua filha, ela relembra sua própria juventude e as escolhas que precisou fazer para se tornar mãe e esposa. Tirando um pequeno tropeço desnecessário no roteiro, a atriz encontra sua melhor atuação em muito tempo (a cena de Nicole chamando pela filha na penumbra do deserto é de rasgar a alma). Já Joseph Fiennes consegue ser correto mais uma vez, mas nada que diferencie de outros personagens que já encarnou. Ainda vale destacar o magnífico trabalho de fotografia de P.J. Dillon, que consegue dar a exata dimensão que o deserto australiano necessita para ser um personagem em cena. Lento e claustrofóbico, Terra Estranha irá dividir opiniões, mas não deixa de ser uma estreia bastante promissora para uma diretora disposta a evitar o óbvio no que poderia ser apenas mais um suspense sobre crianças desaparecidas.
Em Terra Estranha (Strangerland / Austrália-Irlanda/2015) de Kim Farrant com Nicole Kidman, Joseph Fiennes, Hugo Weaving, Maddison Brown, Nicholas Hamilton e Weyne Wyatt. ☻☻☻
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