segunda-feira, 22 de maio de 2017

Na Tela: Trainspotting2

Spud, Renton, SickBoy e Begbie: acertando das contas 20 anos depois. 

Fazia tempo que o diretor Danny Boyle havia comentado sobre o interesse que filmar uma continuação de seu segundo filme, Trainspotting (1996). A saga junkie filmada a partir da obra de Irwine Welsh se tornou um divisor de águas para carreira de Boyle e de seu astro, Ewan McGregor. Ambos foram para Hollywood e Boyle já ganhou até um Oscar de direção (por Quem Quer Ser Um Milionário/2008 que também recebeu a estatueta de melhor filme). No entanto, a filmagem de Trainspotting2 parecia ter virado um desses projetos que nunca saem do papel. Em algumas entrevistas os envolvidos diziam que ainda não era o momento certo de realizar o filme. Boyle pareceu ter retomado a ideia em 2002 quando foi lançada a continuação literária da trama (Pornô também de Irwine Welsh) que revisitava os personagens dez anos depois - desde então o roteiro parece ter sido lapidado. O tempo foi passando e o roteiro ganhando forma... e acrescentou mais uma década até que os personagens se encontrassem. O ruim é que, por melhor que seja, Trainspotting2 já nasce à sombra de um dos filmes que redefiniram a linguagem cinematográfica dos anos 1990. A edição nervosa, a trilha sonora saborosa e os delírios visuais influenciaram centenas de filmes e retomar a história duas décadas depois corria o risco de estragar aquele momento preciso em que deixamos os amigos de Mark Renton (McGregor) depois que ele os trai em nome do vil metal. Agora, Mark volta para visitar os amigos e precisa lidar com a fúria de Simon/Sick Boy (Johnny Lee Miller), o desejo assassino de Francis/Begbie (Robert Carlyle) e o fundo do poço de David/Spud (Ewen Bremner) - o único que recebeu algum dinheiro de Renton (e torrou tudo em drogas). O tempo passou e há um inevitável tom amargo nos personagens, eles estão mais velhos e parecem ainda mais cansados da sarjeta. Begbie sofre com a distância da família que não aguentava mais seu vício. Begbie está com sede de sangue após passar uma temporada na cadeia - e um dos seus desejos é acertar as contas com Renton definitivamente. Enquanto isso, Simon vive de aplicar golpes, filmando figurões em cenas comprometedoras com a namorada, Veronika (Anjela Nedyalkova) para chantagea-los depois. Sorte que não apenas Renton queria rever os únicos amigos que teve na vida (mesmo com todos os ressentimentos que poderiam ter), mas Danny Boyle também queria reencontrar este universo - e o faz com doses de maturidade e saudosismo. Embora ainda traga o humor negro do primeiro filme, T2 é mais melancólico e Boyle sublima essa sensação ao evocar cenas antológicas do seu clássico dos anos 1990 (da corrida na abertura, passando pela trilha sonora, a cena do banheiro, o discurso de outrora reformulado...) e, não satisfeito, reconta a amizade dos rapazes até o início, quando eram apenas um grupo de crianças escocesas. O roteiro de John Hodge (que concorreu ao Oscar pelo primeiro filme e fez outros quatro textos para longas de Boyle) faz o possível para dar conta de personagens que fazem parte da mitologia do filme (retoma Diane de Kelly MacDonald e até o finado Tommy de Kevin McKidd) e cria uma estrutura que solidifica ainda mais os laços entre os personagens, ainda que isso comprometa um pouco o ritmo da narrativa nervosa desejada por Boyle. Trainspotting2  não fez o sucesso esperado de bilheteria, embora funcione como um reencontro de amigos amargurados que não se veem há muito tempo (e daqui uns 20 anos poderia ter outro).

Trainspotting 2 (T2 Trainspotting / Reino Unido - 2017) de Danny Boyle com Ewan McGregor, Ewen Bremner, Johnny Lee Miller, Robert Carlyle, Anjela Nedyalkova, Scot Grenan e Kelly MacDonald. ☻☻☻☻

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