domingo, 28 de maio de 2017

Na Tela: Personal Shopper

Kristen: para ser ruim, ela ainda tem que melhorar muito...

Dia desses eu conversava com alguns amigos sobre os filmes que receberam vaias na atual edição do Festival de Cannes e lembramos de tantos outros longas que passaram por essa manifestação (deselegante) do público e no fim receberam algum prêmio no Festival de cinema mais influente do mundo. O primeiro que me veio à cabeça foi Xavier Dolan - por É Apenas o Fim do Mundo/2016 que terminou recebendo o prêmio especial do júri - e o segundo foi Olivier Assayas por este Personal Shopper, que lhe rendeu o prêmio de melhor direção no ano passado. Antes de falar sobre o filme em si, devo dizer que as vaias são mais do que compreensíveis, não apenas pelo sabor de decepção inevitável após o sucesso de Acima das Nuvens (2014), filme anterior do cineasta também estrelado por Kristen Stewart - mas sem uma atriz do porte de Juliette Binoche este consegue ser apenas fraco. A impressão constante é que Assayas tentou fazer muita coisa com as ideias que tinha (especialmente sobre o mundo abstrato que nos rodeia pelos celulares, computadores, mídia e até relacionamentos apenas físicos e sem amor), mas faltou escrever um roteiro que prestasse. O filme mistura drama sobrenatural, suspense, terror, lacunas e cenas que não servem para nada. Kristen vive a profissional do título, encarregada de comprar roupas para uma celebridade que ela quase não encontra e, apesar do filme carregar o nome da profissão, não há profundidade na abordagem sobre a carreira. Personal Shopper está mais preocupado na mediunidade da personagem que insiste em ter contato com o irmão gêmeo falecido - mas sempre parece assombrada por outros fantasmas. São nas cenas de susto que Assayas consegue render alguns bons momentos, mas, como é intelectual demais para fazer um filme de gênero, prefere passar a maior parte do tempo tentando fazer Kristen ser expressiva, já que a atriz sempre está desconfortável diante da câmera. Podem dizer que isso tem relação com a personagem, que sente-se deslocada por sua capacidade de se comunicar com os mortos, mas não é, Kristen exibe aqui, pela enésima vez, toda sua apatia cênica que a tornou famosa (e não adianta cena com capacete, cena de nudez, de masturbação, ela não decola...). Sempre com o mesmo olhar desviado, as costas arcadas, a voz sem emoção, a cabeça inclinada, os tiques labiais... a verdade é que Kristen é uma atriz sofrível que quando consegue ter alguma cena inspirada pensam que ela é uma boa atriz. Não é. Aqui ela se revela mais uma péssima escolha para um roteiro que já é bastante problemático. Se ela mal consegue demonstrar emoção contracenando com os atores do filme, imagine passando a maior parte do tempo conversando com "um fantasma" pelo celular? Desculpem fãs, mas ela não convence nem na cena em que está dormindo no trem (e houve quem considerasse que ela levaria o prêmio de melhor atriz em Cannes... antes de ver o filme, é claro).  Cheio de toques sobrenaturais o filme naufraga também pela superficialidade do roteiro ao lidar com o assunto - aquele papo de "sinto a presença dele" gera risadas quase sempre. Acredito que Assayas e Kristen poderiam até fazer um bom filme de terror juntos, mas Personal Shopper é apenas um conjunto de ideias mal organizadas e que servem para demonstrar o quanto a sua estrela é limitada - e a cena em que ela contracena com o ótimo Lars Eidinger (o favorito de Assayas) fica evidente o amadorismo da estrela (e acho que por conta disso o diretor até evita colocar os dois juntos naquela cena esperada perto do final). Ao final a pergunta se existe vida após a morte ecoa na mente menos do que os motivos que levaram o diretor a ser premiado em Cannes - ou por que Kristen não faz um bom curso de interpretação.

Eidinger: cinco minutos para roubar um filme inteiro. 

Personal Shopper (França/Alemanha-2016) de Olivier Assayas com Kristen Stewart, Lars Eidinger, Ty Olwin e Sigrid Bouaziz.

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