sábado, 27 de maio de 2017

Na Tela: War Machine

Pitt: preso na própria caricatura. 

Recentemente virou moda a ideia de se pegar um tema sério e transformá-lo em uma comédia - ancorada por tudo que os temas selecionados tem de absurdo. Dois exemplos bem sucedidos desta tendência hollywoodiana foram A Grande Aposta (2015) sobre a última crise econômica mundial e Cães de Guerra (2016) sobre a compra e venda de armamentos nos EUA. War Machine é o mais novo exemplar do gênero ao apresentar um olhar cômico sobre a ação do Tio Sam no Afeganistão após os ataques de 11 de setembro. Existem trocentos filmes sobre o assunto, mas o diretor australiano David Michôd tenta fazer diferente usando bastante gracinhas. A diferença é que os dois filmes citados anteriormente foram realizados por diretores de comédias que abordavam temas sérios em filmes bem humorados e... eu não lembro de Michôd ser reconhecido pelo bom humor. Celebrado pelo sucesso indie Reino Animal (2010) e por ter arrancado uma memorável atuação de Robert Pattinson em The Rover (2014), o diretor provou ser bom com dramas densos - e até poderia surpreender à frente de uma comédia, mas não é o que acontece aqui. O filme gira em torno da figura do general Glen McMahon (Brad Pitt), herói respeitado, admirado e condecorado com quatro estrelas que recebe a missão de comandar tropas americanas naquela operação mal-ajambrada no Afeganistão a partir de 2010. Vindo de uma família de militares, sobra idealismo ao general e seu bando - o que só demonstra que eles não fazem a mínima ideia do que estão realmente fazendo ali. A coisa só piora quando a mídia descobre o grupo de Glen e todo trabalho é tratado como um grande embuste. Obviamente que sobra absurdos durante toda a trama  - afinal, como vimos em Dr. Fantástico (1964), M*A*S*H (1970), Nascido para Matar (1987) e até Soldado Anônimo (2005)  a guerra é o absurdo dos absurdos. Porém, aqui tudo está fora do lugar. Basta ver a interpretação de Brad Pitt, que  se torna a melhor analogia sobre o filme: o ator constrói um personagem tão cheio de maneirismos que acaba não conseguindo se libertar de todos os gestos, tons de voz, olho arregalado, corrida esquisita... soando apenas sem graça. Michôd tinha de fato uma bela história nas mãos (e isso explica o interesse da Netflix produzir o filme e conseguir um elenco respeitável), basta ver a belíssima síntese feita na rápida participação da (sempre excelente) Tilda Swinton como uma jornalista que faz McMahon cair na real. Inspirado na história real do General Stanley McChristal - que gerou polêmica após virar matéria da revista Rolling Stone (e depois virou o livro que deu origem a esta produção)o resultado é tão exagerado que a ideia não decola. Bastava deixar a história por si que as risadas (nervosas) surgiriam naturalmente, sem esforço - do jeito que está, fica difícil apreciar.   

Hayes, Betts, Hall, Magaro e Grace: elenco desperdiçado. 

War Machine (EUA-2017) de David Michôd com Brad Pitt, Anthony Hayes, John Magaro, Anthony Michael Hall, Emory Cohen, Topher Grace, Daniel Betts, Tilda Swinton, Alan Ruck, Will Poulter, Meg Tilly, Ben Kingsley e Scoot McNayri. 

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