Os Kims: o que você faria para mudar de vida?
Retomando as resenhas aqui no blog após longa ausência, não posso deixar de reiniciar os trabalhos falando de um dos melhores filmes a que assisti nos últimos tempos: Parasita. Muito antes dos burburinhos das premiações de fim de ano, o filme de Bong Joon-Ho já era o meu favorito de 2019 desde que entrou em cartaz aqui no Brasil. Ganhador de Palma de Ouro em Cannes, o filme Sul Coreano viu seu prestígio aumentar em escala mundial e, quem o assistiu, sabia exatamente o motivo dele figurar entre os favoritos do Oscar deste ano. Obviamente que a grande maioria imaginava que o filme levaria (fácil) o Oscar de Filme Estrangeiro, talvez levasse mais um (roteiro original na melhor das hipóteses), mas nem o fã mais otimista poderia imaginar que das seis indicações, o filme levaria algumas das mais cobiçadas da noite: filme, direção, roteiro original e filme estrangeiro (a única que era garantida). O filme fez história, obviamente que um bando de gente que não percebe a importância do que aconteceu irá dizer que não era para tanto. Era para tanto sim e demonstra o claro reflexo do que quanto à renovação dos votantes do Oscar foi muito bem vinda! Faz algum tempo que Joon-Ho faz filmes com fortes causas bem demarcadas, basta ver o que ele fez com o espetacular O Expresso do Amanhã (2014) ou a emoção de Okja (2017 um tanto ofuscada por toda aquela polêmica besta de Cannes com um filme feito para a Netflix). Em Parasita ele mantém o cuidado com a estética, o design de produção é um primor com suas escalas de "cima e embaixo" na construção de uma relação espelhada entre as famílias, ela ajuda a construir uma simetria torta fundamental para a história. O cineasta em momento algum perde de vista as atuações para extrair o máximo que pode de um roteiro redondinho e surpreendente (o que para muito roteiristas ainda é um grande desafio). Para além de seus subtextos, Parasita é puro cinema. O poder de sugestão sob a plateia, a edição de cortes precisos, o uso da luz, a forma como muda de tom em uma sinfonia perfeita com todos os elementos que o cinema agrega. A história parece simples no início com o filho de uma família de poucos recursos descobrindo a chance de ganhar algum dinheiro dando aulas de reforço para uma menina de família rica. Logo ele vê a oportunidade de empregar outros membros de sua família na casa, mesmo que para isso tenha que mentir e prejudicar outros empregados da casa. Sim, existe um dilema moral na história ou seriam dois, ou três... quatro talvez. O fato é que a história começa a se misturar com nosso olhar sobre o mundo, a sociedade, suas hierarquias e preconceitos e a lógica perversa do "farinha pouca, meu pirão primeiro", não por acaso é justamente nesta hora que tudo se complica e o que era possibilidade vira o risco de se perder até o pouco que se tinha. Parasita começa um tanto cômico em seus cortes e intenções, apresenta uma agilidade invejável de ritmo preciso, mas depois o clima pesa, se torna um suspense que se rende à tragédia lenta e certeira. Ser invisível ou não ser, ousar querer mais nas limitações existentes, escolher os caminhos para isso e do que se é capaz quando tudo parece perdido... Parasita é sobre tudo isso e muito mais, por isso mesmo é o tipo de filme que se vê várias vezes e promete ser cada vez melhor. Simplesmente Magnífico!
Parasita (Gisaengchung / Coreia do Sul - 2019) de Bong Joon-Ho com Song Kang-Ho, Lee Sun-Kyun, Jo Ye-Jeong, Choi Woo-Sik, Park So-dam, Jang Hye-jin e Song Ji-So. ☻☻☻☻☻
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