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Tales of the City (1993): marcando época. |
O escritor Armistead Maupin ficou famoso ao escrever a coluna Tales from the City no jornal San Francisco Chronicle em 1978. A coluna começou de forma despretensiosa pelas mãos do autor nascido em Washington, mas que ficou cada vez mais atento ao que acontecia ao seu redor. A efervescência do período com a liberdade sexual e os efeitos da cultura hippie, tornaram o cenário de San Francisco bastante peculiar para o conservadorismo do Tio Sam. Aos poucos seus textos se tornaram um espelho para a cidade olhar para si. O sucesso foi tão grande que Maupin lançou uma coletânea e depois outros oito livros sobre aqueles personagens. Com a popularidade em alta criou-se uma série em 1993, que aos poucos chamou atenção por suas qualidades revolucionárias. A série falava abertamente sobre sexo, gays e uso de drogas, mantendo a atmosfera de meados da década de 1970 - período em que as histórias aconteciam. Embora o papel de protagonista fosse de uma jovem recém chegada do interior Mary Ann Singleton (Laura Linney antes do estrelato), ela servia de ponte entre o espectador e aquela realidade diferente do mundo em que vivia. Mais diversa e livre, San Francisco lhe apresenta a pós-hippie Mona Ramsey (Chloe Webb famosa por seu trabalho posterior em Sid & Nancy/1997), o jovem gay Michael "Mouse" (Marcus D'Amico) e o conquistador Brian (Paul Gross). O quarteto habita a mesma pensão capitaneada por Anna Madrigal (a ótima Olympia Dukakis (que já tinha um Oscar na estante por seu trabalho em Feitiço da Lua/1987) e se torna uma família incomum e em Barbary Lane, nº28 (localidade que é vista como um refúgio para a população LGBTQ+ do país). Mantendo uma atmosfera quase novelesca, a série amplia as histórias daqueles personagens e suas aventuras amorosas sem perder a chance de humanizá-los. O resultado é um grupo de personagens com qualidades e defeitos, que os torna bastante reais. Cancelada em seu sexto episódio, Crônicas de San Francisco teve o cuidado de fechar seu arco da primeira temporada, deixando no ar o mistério que tornaria Anna Madrigal como uma das personagens mais inovadoras da história da televisão. Cinco anos se passaram até que foi lançado Mais Crônicas de San Francisco (1998) em que voltamos a encontrar aqueles personagens. A história parte quase do ponto em que a outra parou. Mary Ann aparece mais a vontade em sua nova casa, Michael (agora vivido por Paul Hopkins) se tornar mais livre, leve e solto - mas ainda às voltas com seu relacionamento com o médico Jon Fielding (Billy Campbell), o que costuma coloca-lo às voltas com dilemas constantes sobre seu apetite sexual. O segredo de Anna Madrigal é mais explorado nesta temporada, assim como o histórico familiar de Mona (vivida pela bem mais jovem Nina Siemaszko).
Mais Crônicas de San Francisco: alguns atores diferentes e mesma essência.
Agora que todo mundo já sabia do que a série tratava, a produção se tornou bem mais ousada, com direito a mais cenas de nudez masculina e maior intensidade no contexto homossexual de alguns personagens. No entanto, o saldo da série foi mais do que positivo, já que se a primeira temporada foi lembrada em duas categorias no Emmy (roteiro e minissérie), esta segunda foi indicada a cinco categorias (minissérie, roteiro, figurino, direção de arte e atriz para Olympia Dukakis). No entanto, a terceira adaptação dos livros (feita em 2001 e ambientada em 1981) foi bem mais enxuta com apenas três episódios com duração hora e meia cada. Ainda que o elenco seja esforçado e seja mantido um mistério para conduzir a narrativa (envolvendo a socialite Dede e seus filhos), a temporada vale mesmo por ver Mary Ann, Michael e Brian (Whip Hubley) ajeitando suas vidas amorosas e dando corpo para o que vemos nesta quarta temporada produzida pela Netflix. Ambientada quase quarenta anos depois da terceira, desta vez temos o acerto de contas de Mary Ann com a família que deixou para trás ao priorizar a carreira em Nova York. Neste hiato nos damos conta de que Michael (agora interpretado por Murray Bartlet) contraiu o vírus HIV e mantém um relacionamento com um rapaz mais jovem (Charlie Barnett). Brian (novamente vivido por Paul Gross) se tornou um pai zeloso e assombrado pelo que sente por Mary Ann e Anna Madrigal completa noventa anos tendo seu lar ameaçado por uma chantagem. Ponto diferente desta temporada é a apresentação de um conjuntos de novos personagens, mas nem todos funcionam como deveriam. A personagem de Ellen Page é inexpressiva e difícil de engolir, assim como a de Zosia Mamet, que continua se esforçando tanto para não ser cômica depois de Girls que parece interpretar um robô. Os irmãos gêmeos que vivem postando coisas no Instagram também não conseguem ir além da caricatura, deixando o posto de melhor nova aquisição para o casal formado pelo trans Jake (Garcia) e Margot (May Hong). Além de criar pontos de relação com as temporadas anteriores (a cena do jantar com Michael, a lista de desejos escrita por ele, a gênese do movimento LGBTQ+, o resgate da personagem de Parker Posey - que sempre ficou de lado na trama), a temporada tem como ponto alto seu oitavo episódio em que se aprofunda na história da nonagenária Anna Madrigal. Vivida quando jovem por Jen Richards e tendo como amiga a espanhola Daniela Vega (ambas excepcionais) o capítulo se torna um verdadeiro marco dentro do universo da série. No entanto, para além do clima festivo dos anos anteriores, a série me pareceu mais melancólica na forma como enxerga o presente.
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Crônicas de San Francisco (2019): maior diversidade e maior melancolia. |
Crônicas de San Franscisco ( / EUA-1993) de Alaister Red com Laura Linney, Olympia Dukakis, Paul Gross, Chloe Webb, Marcus D'Amico, Billy Campbell, Thomas Gibson, Barbara Garrick, Parker Posey e Donald Moffat. ☻☻☻☻
Mais Crônicas de San Francisco (EUA-1998) de Pierre Gang com Olympia Dukakis, Laura Linney, Paul Hopkins, Nina Siemaszko, Whip Hubley, Jackie Burroughs, Billy Campbell, Colin Ferguson e Thomas Gibson. ☻☻☻☻
Outras Crônicas de San Franscisco (EUA-2001) de Pierre Gang Olympia Dukakis, Paul Hopkins, Laura Linney, Barbara Garrick, Billy Campbell, Whip Hubley, Mary Kay Place, Henry Czerny, Sandra Oh e Parker Posey. ☻☻☻
Crônicas de San Franscisco (Tales of the City / EUA-2019) de Lauren Morelli com Laura Linney, Olympia Dukakis, Paul Gross, Murray Bartlett, Charlie Barnett, Ellen Page, Zosia Mamet, Garcia e May Hong. ☻☻☻☻