Jean e Khalil: estreia premiada no Festival de Berlim. |
Joe (Khalil Gharbia) é um jovem de origem árabe que vive em uma instituição para menores infratores faz algum tempo. Falta pouco para ele completar dezoito anos e sair da instituição. Ele sabe que ainda será acompanhado para que o Estado tenha certeza de que está conseguindo seguir sua vida de forma adequada. No entanto, embora ele esteja bastante ansioso pela saída, Joe foge da instituição para ver o mar. Ele volta para a instituição e sabe que aquela ação pode comprometer sua saída, assim como, se fizer mais alguma atividade considerada ilegal, poderá ir para uma prisão, ainda que seja menor de idade. Resta apenas aceitar a rotina daquele lugar e esperar que os dias passem mais depressa. Os dias seguiriam seu curso sem maiores surpresas se não aparecesse um novo rapaz por lá, Will (Julien de Saint Jean), que dizem ter parado ali por ter esfaqueado um homem. Joe difere dos outros meninos por ser muito quieto e Will mostra-se bastante arredio. Os dois começam a conversar e entre um papo aqui e outro ali, surge um sentimento diferente entre os dois, de forma que precisam driblar a vigilância para encontros mais íntimos do que lhes é permitido. O relacionamento entre os dois começa a fazer Joe repensar se realmente quer sair dali, ao mesmo tempo, ele não conta para o parceiro que aquela proximidade está com os dias contados. O Paraíso foi exibido no último Festival de Berlim e saiu de lá com o Urso de Cristal pela sensibilidade com que o diretor Zeno Graton conta uma história de amor entre dois rapazes em meio à hostilidade que os cerca. Embora ambos tenham as trajetórias marcadas pela violência, o roteiro (assinado por Zeno em parceria com Clara Bourreau e Maarten Loix) sabe como transformá-los em personagens interessantes por outros detalhes de sua personalidades, seja pelos desenhos de Will, as conversas através das paredes, o uso da música e os planos que são traçados (embora nem sempre sigam como o desejado), os dois são bem mais interessantes do que os censores possam julgar. Este é o primeiro longa metragem do belga Zeno Graton que demonstra bastante segurança na direção e um ótimo gosto para escalação de seus atores. Os promissores Khalil e Julien são verdadeiros achados que conseguem executar com precisão o equilíbrio e os sentimentos contraditórios de seus personagens, boa parte do funcionamento do filme se deve ao fato de ambos tornarem seus personagens bastante críveis na história de amor em um ambiente nada favorável. O título faz alusão a um lugar sempre desejado, mas o final é de partir o coração e me lembrou um pouco a sensação deixada pelo alemão Great Freedom (2021). Embora os dois filmes sejam bastante diferentes, a ideia de driblar os impedimentos e viver um amor proibido entre muros se faz presente. O filme é uma das pérolas faz parte da mostra My French Film Festival que chega à sua 14ª edição e tem parceria com a Reserva Imovision e Mubi até o dia 19 de fevereiro.
O Paraíso (Le Paradis/Bélgica - França / 2023) de Zeno Graton com Khalil Gharbia, Julien de Saint Jean, Eye Haidara, Matéo Bastien, Samuel Di Napoli, Amine Hamidou e Nlandu Lubansu. ☻☻☻☻
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