segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

PL►Y: A Sociedade da Neve

 
Os membros da sociedade: nova versão para tragédia de 1972 nos Andes.

Nos tempos do VHS, quando íamos às locadoras de VHS (e minha casa nem tinha vídeo cassete), lembro de ter visto nas férias na casa de minha tia um filme que me deixou bastante impressionado. Por muito tempo eu não lembrei de muitos detalhes, mas que era a história de um avião com um bando de jovens que caiu no meio do gelo e em determinado momento, quem quisesse permanecer vivo diante da situação precisava se alimentar do corpo dos que faleceram. O nome do filme eu lembrava: Vivos (1993). Com o tempo, de vez em quando ouvi alguns comentários sobre o filme e aprendi que era baseado em um filme real e que (apesar da presença de Ethan Hawke) o filme era sobre uma equipe uruguaia de rúgbi cuja tragédia também havia sido retratada em outro filme, Os Sobreviventes dos Andes (1976), produzido apenas quatro depois do acidente baseado no livro escrito pelo jornalista americano Clay Blair. No entanto, o espanhol Juan Antônio Bayona não achou nenhuma das duas produções satisfatórias e queria algo mais, foi assim que o diretor realizou A Sociedade da Neve, produção da Netflix  e que ganha espaço entre as produções de língua não inglesa na temporada de prêmios (disputou o Globo de Ouro, está no páreo do Critic’s Choice, foi lembrado na pré-lista do Oscar e aparece em 13 categorias do Goya, o Oscar da Espanha), muito desse reconhecimento se deve à habilidade de Bayona em filmar catástrofes (a cena do acidente impressiona, apesar de eu ter a impressão de ver um cabo sustentando o avião em duas cenas) e seu anseio por lidar com os dramas dos envolvidos. O diretor já havia oferecido à si este desafio de equilibrar o cinema catástrofe espetacular com o drama humano em O Impossível/2012 (e a indicação ao Oscar para Naomi Watts endossa seus méritos na condução do elenco) e aqui o faz com uma gama ainda maior de personagens que recebem destaque ao longo da narrativa. O fato é que o acidente em si dá origem à uma conhecida história de sobrevivência, mas que ainda não havia sido filmada de forma tão comprometida com as emoções daqueles personagens reais, tanto que as cenas de canibalismo é feita de maneira sutil e muito mais preocupada em nos fazer compreender aquela necessidade do que chocar o público. Vale lembrar que a sobrevivência dos personagens ainda os colocam perante outros desafios e dilemas (como os vários dias de tempestade, avalanches, soterramentos, a angústia de busca por ajuda e novos suprimentos, o concerto de um rádio, o desespero de ouvir que as buscas haviam cessado...), Bayona deixa o espectador imerso naquelas situações, deixando que uma câmera muitas vezes claustrofóbica deixe o espectador ainda mais apreensivo com o tempo de vida que aqueles personagens ainda teriam em condições tão insuportáveis. Se a história é forte por si só, o elenco tem a tarefa de manter o espectador envolvido emocionalmente em uma realidade tão exaustiva. Existe a cada minuto uma contagem regressiva mórbida que pode levar um membro daquele grupo embora quando menos se espera. A Sociedade da Neve pode ser ofuscado pelos gringos favoritos de Hollywood na temporada (os aclamadíssimos Anatomia de Uma Queda de Justine Triet e Zona de Interesse de Jonathan Glazer badalados desde o Festival de Cannes), mas merece o destaque e reconhecimento que tem recebido desde o seu lançamento, especialmente pelo apreço de seu diretor em apresentar as pessoas envolvidas naquela catástrofe.  

A Sociedade da Neve (La Sociedad de La Nieve / Espanha - Chile - Uruguai - EUA) de J.A. Bayona com Enzo Vogrincic, Augustín Pardella, Matías Recalt, Esteban Bigliardi, Diego Vegezzi, Rafael Federman, Francisco Romero, Valentino Alonso e Esteban Kukuriczka. ☻☻☻☻

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