segunda-feira, 8 de julho de 2024

PL►Y: Sala Samobójców

Jakub: afundando no lado sombrio da internet. 

Em 2020 o polonês Jan Komasa se surpreendeu ao ver seu filme Corpus Christi (2019) ser indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. O filme de baixo orçamento foi selecionado pela Polônia para concorrer à uma vaga, mas não tinha muito dinheiro para investir na campanha. Quase que por um milagre o filme ficou entre os cinco indicados e alavancou sua carreira internacional. Naquele mesmo ano, o diretor lançou Rede de Ódio pela Netflix e se consolidou como um dos nomes mais interessantes do cinema europeu. Meu entusiasmo com os dois filmes foi tanto que em 2020, eu escolhi Komasa como meu diretor favorito daquele ano, além de eleger Corpus Christi como o melhor filme, o melhor roteiro e com o melhor ator. Enquanto o filme ficava famoso por aqui, muita gente comentava o longa-metragem de estreia do moço, Sala Samobójców (ou Suicide Room como ficou conhecido internacionalmente). A produção foi exibida no Festival de Berlim e já demonstrava o interesse de Komasa por temas bastante atuais e um apreço por abordagens incômodas. Somente agora consegui assistir ao filme e posso dizer que embora não seja tão robustos como os que vieram depois, o filme consegue deixar o espectador bastante apreensivo com uma trama cheia de elementos dignos de polêmica. O filme gira em torno de Dominik (Jakub Dierszal), um adolescente que é visto com estranhamento por seus colegas. Como qualquer pessoa da sua idade, Dominik ainda está se descobrindo e construindo sua identidade. Em uma festa ele é desafiado a beijar um colega e o vídeo viraliza na internet. A forma como ele enfrenta a situação é um tanto ambígua, mas tudo piora consideravelmente quando em um treino com o mesmo colega gera um incidente que o torna ridicularizado na escola. Dominik passa a sofrer cyberbullying e torna-se cada vez mais isolado, ao ponto de se trancar no quarto e não sair mais. É neste ponto que ele entra na sala virtual que dá título ao filme e se torna cada vez mais interessado em sua fundadora, a misteriosa Sylwia (Roma Gasiorowska) que promove discussões perigosas e percebe no rapaz um aliado perfeito para colocar em prática um plano que tem em mente. Resta a Dominik deixar-se levar por sua influência e driblar os pais que passaram a se preocupar com ele por conta de seu comportamento cada vez mais arredio. Sala Samobójców mescla muitas cenas em live action com outras em animação para dar conta da relação dos avatares no ambiente virtual, também utiliza muita tela dividida para ambientar o real e o virtual de seus personagens, o que lhe proporciona um visual diferenciado enquanto produz um drama crescente em tom de suspense. Em vários momentos dá para perceber o nó se formando na trama e em nossa garganta, no entanto, se nas obras seguintes o diretor soube construir muito bem seus personagens, aqui por diversas vezes ele escorrega em caricaturas e clichês. Por mais que o elenco se esforce, o texto (do próprio diretor) deixa os personagens amarrados a estereótipos. Isso serve para todos, já que em determinados momentos ao invés de comover a plateia provocam uma verdadeira irritação, isso drena bastante da energia do filme. Os pais de protagonista (vividos por Agatha Kulesza e Christoph Pieczynski) parecem mais preocupados com a volta para suas rotinas na política do que propriamente ver a recuperação do filho (a forma como lidam com o rapaz é a mesma quando ele revela sua preferência sexual ou quando existem embates com os psiquiatras que tentam ajudar), senti falta daquela cena em que os dois tivessem maior dimensionalidade e parecessem gente de verdade. As relações gélidas e distantes de um esgarçamento do tecido social aparecem novamente de forma mais trabalhada nos outros filmes do diretor já citado aqui, mas o filme demonstra mais ainda um  parentesco com Rede de Ódio, em que uma visão distorcida de mundo ganha território vasto de propagação na internet.  Sala Samobójców chamou tanta atenção quando lançado em seu país de origem, que ficou no topo dos filmes mais vistos na Polônia em suas três primeiras semanas em cartaz.

Sala Samobójców (Polônia - 2011) de Jan Komasa com Jakub Dierszal, Roma Gasiorowska, Agata Kulesza, Christoph Pieczynski, Bartosz Gelner e Piorr Nowak. ☻☻

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