domingo, 7 de julho de 2024

PL►Y: Todo Mundo Ama Jeanne

Lafitte e Blanche: os opostos se atraem. 
 
Difícil imaginar que todo mundo é capaz de amar alguém, mas a francesa Jeanne Mayer (Blanche Gardin) parece chegar bem perto disso quando cria uma estrutura capaz de coletar a quantidade de microplásticos poluidora de oceanos. Seu projeto é saudado com grande alegria pela comunidade científica e a mídia celebra sua invenção com matérias e entrevistas que chegam a considerá-la a mulher do ano, ou melhor, da década. Pena que não demora muito para que toda a adoração em torno da personagem vá por água abaixo, literalmente, quando os cabos de sua descoberta rompem e a máquina afunda diretamente para as profundezas do oceano. Não bastasse ver o investimento de milhares de dólares naufragar, no momento de desespero, ela chega a pular no oceano para salvar sua invenção - um esforço inútil já que a máquina pesa toneladas. Claro que a mídia estava por lá no momento da inauguração do experimento e obviamente que o registro em vídeo do mergulho viraliza na internet e Jeanne vai de celebrada a ridicularizada em um piscar de olhos. Não bastasse ver o projeto de sua vida fracassar, ela ainda perde seus investidores e as dívidas com o projeto a deixam à beira da falência. Eis que para ajudar a lidar com a falência, seu irmão Simon (Maxence Tual) lembra que os dois herdaram um apartamento da mãe em Lisboa - e que ele pode ser vendido para ajudar a pagar as dívidas. De início a protagonista não aprova a ideia, mas a falta de opção a faz ir para Portugal organizar a venda do imóvel. Agora, além de lidar com o fracasso, a personagem terá que lidar com suas lembranças de Portugal, seja o relacionamento com a mãe (que por vezes paira no apartamento como se fosse um fantasma encarnado pela atriz suíça Marthe Keller), um ex-namorado bonitão (Nuno Lopes, que já fez até novela no Brasil) e o reencontro com Jean (Laurent Lafitte) um inconveniente colega de escola que se tornou um trambiqueiro com problemas psiquiátricos. Para dar conta de tantos acontecimentos, a personagem tem a companhia da voz de sua consciência (representada em animação com a voz da diretora Céline Devaux), que revela-se uma companheira cheia de sarcasmo e ironia, que tempera com bom humor os momentos mais complicados da personagem. Todo Mundo Ama Jeanne se ampara no fracasso pessoal e no humor autodepreciativo para decorar uma história que aos poucos se revela uma comédia romântica um tanto diferente. Aos poucos Jeanne vai da mais completa falta de energia para para uma nova perspectiva sob a forma de conduzir a vida, muito por conta da companhia de Jean (não por acaso, os nomes dos dois são parecidos como se fossem faces de uma mesma moeda), que desde que sobreviveu a um surto e uma temporada em uma clínica aprendeu a não levar a vida tão a sério (e Lafitte exala tanto charme na pele do personagem que fica difícil resistir à sua lábia). Todo Mundo Ama Jeanne é o filme de estreia de Céline Devaux como diretora e roteirista, que demonstra bastante frescor na condução da narrativa. Embora o roteiro não aprofunde os temas mais delicados que aparecem na trama (depressão, solidão, suicídio e até especulação imobiliária!), o filme ganha nossa simpatia por conta dos personagens (incluindo a ácida voz da consciência da protagonista que rende boas risadas). O filme está em cartaz na MUBI. 

Todo Mundo Ama Jeanne (Tout le Monde aime Jeanne / França - Portugal /2022) de Céline Devaux com Blanche Gardin, Laurent Lafitte, Nuno Lopes, Maxence Tual e Marthe Keller. ☻☻

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