Maggie e suas pupilas: a influencer de seu tempo. |
A notícia de que Dame Maggie Smith havia falecido, entristeceu milhares de fãs de todas as idades. Os mais jovens conheciam a grande atriz por conta de seu trabalho como a professora Minerva dos filmes da série Harry Potter, outros lembram dela como a Lady Violet da cultuada série Downton Abbey. Com uma carreira que acumulou mais de cinquenta prêmios nos palcos e no cinema, Maggie foi indicada seis vezes ao Oscar (a primeira vez em 1966 por Othello e a ultima por Gosford Park/2021) sendo duas vezes premiada, colecionando uma estatueta como coadjuvante por Califórnia Suite (1978) e outra como melhor atriz principal por este clássico Primavera de Uma Solteirona (1979). Maggie já era um rosto conhecido no teatro e no cinema quando foi escalada para viver a protagonista desta adaptação do livro de Muriel Spark. O título nacional é bastante pejorativo (o livro é chamado A Primavera da Senhorita Jean Brodie) que tem o maior orgulho de ser solteira e investir em suas aventuras amorosas. Jean Brodie (Maggie Smith) considera estar no seu auge enquanto leciona História em uma escola somente para garotas. Ela tem uma forma bastante peculiar de passar seus conhecimentos, muitas vezes expondo seu olhar pessoal sobre os conteúdos de sua disciplina. Entre as alunas de sua classe, Jean escolhe um grupo seleto de meninas para que sejam suas seguidoras. São elas que costumam andar com ela pela cidade, desfrutando de sua companhia e visão peculiar de mundo. Algo que chama bastante atenção das alunas e a vida amorosa da professora que, até então muito discreta, teve um caso com o professor casado de artes (o charmoso Robert Stephens, então marido de Maggie) e um namorico com o professor de música (Gordon Jackson). O triângulo amoroso desconjuntado oferece ao filme as cores de uma comédia romântica, mas que fica em segundo plano quando os aspectos mais controversos da personagem vem à tona. Jean é declaradamente simpatizante de Mussolini e sua influência entre as alunas oferece uma mistura bastante perigosa, cujas consequências vemos na reta final do filme. Não apenas a simpatia da professora pela extrema direita torna o filme dotado de polêmicas, mas a relação de uma aluna com um professor e uma cena de nudez demonstra que o filme de 1969 estava disposto a desafiar as convenções da época. No entanto, a direção de Ronald Neame (veterano que iniciou seus trabalhos como diretor de fotografia em 1933) trata tudo com muita leveza, belíssima fotografia e um senso de humor bastante refinado que torna alguns diálogos divertidos até hoje. Maggie Smith está perfeita no papel título, despertando a simpatia da plateia mesmo que algumas de suas posturas sejam bastante condenáveis. Com o charme inteligente que a atriz confere à personagem, nos sentimos na pele de suas seguidoras, ainda que, por vezes, alguns pontos provoquem um choque em nossa relação com a personagem. Maggie já demonstrava aqui um estilo bastante próprio de atuar, com uma maneira pomposa de dizer as coisas mais absurdas que se tornaram a sua marca registrada. Entre cenas cômicas e momentos dramáticos, a personagem é um daqueles presentes que uma atriz sonha interpretar um dia. Embora seja um filme lançado há 65 anos, Primavera de Uma Solteirona tem uma esperteza que o torna especial até hoje - e o fato da personagem ser seduzida pelo discurso da extrema direita, oferece ao filme uma atualidade ainda mais inesperada.
Primavera de Uma Solteirona (The Prime of Miss Jean Brodie / Reino Unido - 1969) de Ronald Neame com Maggie Smith, Gordon Jackson, Robert Stephens, Pamela Franklin, Celia Johnson, Diane Grayson e Shirley Steedman. ☻☻☻☻
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