Asta e Herbert: efeito colateral de uma hipnoterapia. |
André (Herbert Nordrum) e Vera (Asta Kamma August) são namorados e parceiros na construção de um aplicativo para saúde feminina. Diante da invenção, os dois agora procuram por investidores para bancar o projeto e precisam saber vender a ideia. Ambos podem ser craques em tecnologia, mas desde a primeira cena fica evidente o quanto Vera é tímida e André é formal demais para conquistar a simpatia de possíveis investidores. No meio de tudo isso, Vera tem hora marcada com uma hipnoterapeuta para que consiga parar de fumar. No primeiro encontro do casal após o procedimento, fica evidente que algo mudou na personalidade da moça (e não se trata do uso dos cigarros). Vera está completamente desinibida (será que o alívio da tensão proporcionado pelo cigarro evitava que demonstrasse tal comportamento?). Capaz de soltar gritos de alegria em público, dançar com a música alta antes de dormir, brincar em momentos indevidos e contar histórias totalmente descabidas. No início o novo comportamento até ajuda a vender a ideia, o problema é que ela parece cada vez mais destrambelhada. A Hipnose é um filme dirigido pelo sueco Ernst de Geer e parte de uma brincadeira bem humorada com a lógica das startups, mas investe cada vez mais na forma como lidamos com os códigos das relações sociais e do valor de uma falsa autenticidade como moeda social. Existe um tanto de como era mais cômodo para o casal que Vera ficasse à sombra do sócio namorado e como o fato dela chamar mais atenção que ele começa a incomodá-lo, mas a ideia de ter alguém de comportamento imprevisível em uma reunião de negócios ou um jantar com investidores pode ser bastante complicada - assim como toda a formalidade de André por vezes também gera encontros desconfortáveis para ele e o grupo (como naquela cena em que ele aparece em uma reunião para qual não foi convidado e não consegue se encaixar). Obviamente que o importante é alcançar um meio termo nessas relações, do que se é e o outro espera que você faça, mas enquanto o tal equilíbrio não vem, André realiza uma atitude bastante questionável que pode comprometer não apenas o seu namoro como os negócios também. A Hipnose é uma comédia romântica europeia, o que funciona sempre bem quando não tenta seguir a cartilha hollywoodiana do gênero. Investindo no humor pela via do desconforto e da vergonha alheia, o filme consegue ser divertido com toda sua casca formal em contraste com os absurdos de algumas cenas (e talvez seja a de André as mais absurdas em cena). Herbert Nordrum (que vimos em A Pior Pessoa do Mundo/2022) está convincente no papel do nerd que quer se aventurar pelo mundo dos negócios, mas é Asta Kamma August que rouba a cena com a guinada surpreendente de sua personagem. Quando o filme terminou eu fiquei imaginando que não ficaria surpreso se num futuro próximo gerasse uma remake em inglês com Emma Stone e Adam Driver nos papéis principais (e claro que aquele último ato seria alterado para ficar menos, digamos, ousada...).
A Hipnose (The Hypnosis / Noruega - Suécia / 2023) de Ernst de Geer com Herbert Nordrum, Asta Kamma August, David Fukamachi Regnfors, Moa Niklasson, Andrea Edwards e Simon Rajala. ☻☻☻
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