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Nolte e Coburn: o amor de filho pelo pai. |
Sabe aquele filme que você ouve falar e fica curioso de assistir, mas o tempo passa, você não o encontra e você acaba esquecendo? Minha relação com Temporada de Caça foi exatamente assim, lembro que na cerimônia do Oscar de 1999 o filme recebeu o Oscar de melhor ator coadjuvante para o veterano James Coburn e que Nick Nolte concorria como ator principal. Os dois vivem respectivamente pai e filho em uma relação bastante complicada, que se torna mais um ponto para que o protagonista perca as estribeiras conforme o filme caminha para o desfecho. Nick Nolte interpreta Wade Whitehouse, o policial de uma pacata cidadezinha em que nada demais acontece ao longo do ano. Se a vizinhança é puro sossego, a vida de Wade tem lá sua cota de problemas, ele tem um relacionamento complicado com a ex-mulher e quando precisa ficar com a filha, ele nunca sabe o que fazer para agradar. Ele encontra algum alento nos braços de Margie (Sissy Spacek), que ele conhece desde a infância e vivem um romance sossegado. O problema é que Wade tem algumas marcas emocionais bastante complicadas, especialmente por ter crescido com a presença de um pai abusivo dentro de casa. Glen Whitehouse sempre foi bastante agressivo com os filhos e a esposa. Quem ficou farto de tudo isso e resolveu viver longe foi o irmão de Wade, Rolfe (Willem Dafoe) que narra o filme com um a entonação tranquila que soa dissonante com o que vemos na tela. Os três irão se reunir novamente por conta de um falecimento na família e o nível de estresse só aumenta por conta de uma morte ocorrida na temporada de caça da região. Um dos habitantes é encontrado morto e o único que estava por perto, Jack (Jim True-Frost), jura que tudo não passou de um acidente. Wade não acredita naquela justificativa e o fato ajuda a corroer ainda mais a sua estabilidade. O diretor e roteirista Paul Schrader adapta o livro de Russel Banks na rédea curta com uma tensão crescente, sobretudo pela postura do policial que começa como um sujeito pacato e se torna cada vez mais descontrolado, afastando até mesmo aqueles que sentem algum afeto por ele. As paisagens bucólicas e a ideia do marasmo só ressaltam o que aquele ambiente pode ter de sufocante para um sujeito com sede de sangue. A agressividade se torna cada vez mais a tônica das relações no roteiro e rende à Nick Nolte um dos seus melhores trabalhos, mas confesso que em alguns momentos eu achei até engraçada toda a tensão que existia entre pai e filho (e acho que essa era a proposta), ainda que a relação entre os dois se mostre cada vez mais irremediável rumo ao trágico. Temporada de Caça é o tipo de filme em que aparentemente nada acontece, mas não se engane, abaixo da superfície, existe um personagens corroído pouco a pouco (do jeito que Schrader gosta). Vale lembrar que 1999 foi um ano estranho para o Oscar, foi aquele em que Fernandona perdeu para Gwyneth Paltrow, que Ian McKellen perdeu para Roberto Benini, que Judi Dench discursou que merecia só um pedacinho do Oscar (por aparecer em menos de oito minutos como coadjuvante em um filme de duas horas) e também foi aquele em que Ed Harris era o favorito na categoria de ator coadjuvante e perdeu para James Coburn na força do ódio. A zebra estava solta.
Temporada de Caça (Affliction / EUA - 1998) de Paul Schrader com Nick Nolte, James Coburn, Sissy Spacek, Willem Dafoe, Jim True-Frost, Tim Post, Maria Seldes, Brigid Tierney, Holmes Osbourne e Mary Beth-Hurt. ☻☻☻☻
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