segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

NªTV: Cem Anos de Solidão

Diego Vásquez: um clássico como manda o figurino.

Não sei se já escrevi por aqui alguma vez, mas dois livros estão no topo da minha lista de favoritos de todos os tempos. Por algum tempo tentei um desempate, mas não tem jeito. Os dois estão lá, no ponto mais alto das obras que você carrega para o resto da vida na memória (e talvez, até para depois dela, vai saber...). Um deles é Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago, que recebeu uma competente adaptação cinematográfica pelas mãos de Fernando Meirelles em 2008, ano em que concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes. O outro é Cem Anos de Solidão de Gabriel García Marquez, um clássico absoluto da literatura mundial. Não por acaso os dois autores já foram premiados com o Nobel de Literatura e, por algum tempo, eu dizia que as duas obras acabaram com a minha vida, já que passei um bom tempo sem encontrar algum livro que prendesse minha atenção (e como me disse um amigo certa vez: "também, olha o nível em que você botou a régua"). Enfim, já estou curado e li vários outros livros depois, mas os dois permanecem lá, no topo, intocáveis. Portanto, foi com alguma preocupação que recebi a notícia de que a Netflix faria uma adaptação em formato de minissérie da obra de García Marquez, afinal, quem leu, entende muito bem o vespeiro que qualquer envolvido se meteria ao bancar uma obra audiovisual baseada em um clássico tão marcante. A trama ambientada na cidade de Macondo é puro realismo fantástico, mas sem perder de vista uma alegoria política que fala muito sobre a História da América Latina e seus conflitos. Dividida em duas partes (oito episódios foram lançados ao final do ano passado e a outra metade tem previsão para este ano), imaginei que a Netflix dividiria as temporadas naquele ponto, no meio do livro em que eu parei de ler por atravessar um verdadeiro luto pelos personagens, mas me surpreendi com a opção da produção. A trama gira em torno da família formada com o casamento dos primos Úrsula (Marleyda Soto) e José Arcadio Buendía (Édgar Vittorino), um casal apaixonado, mas um tanto assombrado pelo tabu do incesto (ela sempre teme que um de seus filhos nasça com rabo de porco por conta disso). Depois de algumas desavenças no local em que viviam, os dois resolvem partir rumo ao mar junto com um grupo de amigos. Eles não encontram o oceano, mas depois de vagarem por vários quilômetros, resolvem fundar um vilarejo chamada Macondo. O vilarejo irá crescer e servir de cenário para a família que se expande em torno de nomes que se repetem várias vezes na arvore genealógica. Entre irmãos, primos e agregados, os Arcadio Buendía  logo irão descobrir que o crescimento da cidade terá seu preço, sobretudo quando envolve novos moradores e visões políticas diferentes. Cem Anos de Solidão utiliza o fantástico em sua trama para falar de vários assuntos, o que confere leveza a algumas temáticas pesadas que encontra pelo caminho. A trama é de uma complexidade tão grande que García Marquez tinha plena consciência da dificuldade que seria autorizar uma adaptação. Escaldado pela péssima adaptação Made in Hollywood de O Amor nos Tempos do Cólera (2007) feita pelo inglês Mike Newell e estrelada por Javier Bardem e Fernanda Montenegro, o autor exigiu que a trama fosse filmada na Colômbia, com direção e elenco latinos. Não por acaso, seus filhos assinam a produção com o rigor necessário para que tudo fique nos eixos. O resultado dos primeiros oito episódios impressiona pelo cuidado na recriação daquele universo inesquecível. O único problema que identifiquei fica por conta da organização dos oito episódios, que nem sempre encontram o momento certo de terminar e prosseguir a história, oscilando em clímax e anticlímax diversas vezes. Enfim, diante do desafio gigante que os envolvidos criaram para si, a minissérie de Cem Anos de Solidão cumpre seu papel de honrar o legado do livro e, com a pausa no meio das temporadas, motiva ainda mais quem não conhece  a obra a procurar spoilers em um narrativa literária genial.  

Cem Anos de Solidão (Cien años de Soledad/ Colômbia - 2024) de Laura Mora e Alex Garcia Lopez com Viña Machado, Jesus Reyes, Claudio Cataño, Diego Vásquez, Marleyda Soto, Loren Sofia, Janer Villareal e Akima. ☻☻☻

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